Corredor BRS - Luciano Belford/Agência O Dia
Corredor BRSLuciano Belford/Agência O Dia
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - A CET-Rio assinou um parecer técnico que recomenda a redução da área reservada para o BRS da Rua Teodoro da Silva, em Vila Isabel. Das quatro faixas da via, duas são para ônibus e táxis desde 2015. Se a recomendação for acatada pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), somente uma faixa continuará destinada às 37 linhas que atendem 11 pontos de ônibus no corredor, além de táxis.

Segundo o vereador Rafael Aloisio Freitas (MDB), que propôs a medida, a demanda surgiu de reivindicações de motoristas e moradores, que reclamam que as pistas prioritárias ficam a maior parte do tempo ociosas, enquanto as outras vivem congestionadas. Ele pede ainda a implantação de estacionamento junto ao meio-fio esquerdo, das 11h às 6h, para atender o comércio.

“Desde a implantação do BRS Teodoro da Silva, nosso gabinete começou a receber muita reclamação dos comerciantes, que se sentem prejudicados pela falta do estacionamento que existia ali. Tem mercados que precisam de área maior de carga e descarga. As pessoas que trafegam por lá nas horas de pico também começaram a perder muito mais tempo para chegar a seus destinos, e percebemos que as duas pistas dos ônibus ficavam mais ociosas do que o normal para os BRSs”, explica Freitas. Ele acredita que o transporte público não será prejudicado, já que houve chancela técnica da companhia de tráfego sobre a redução do BRS.

A CET-Rio concordou que o uso de duas faixas para o BRS Teodoro da Silva gera retenção para a Rua José do Patrocínio e Serra Grajaú-Jacarepaguá, impactando até a circulação dos ônibus. “A redução para uma faixa no BRS trará resultados positivos para a circulação em geral”, diz trecho do parecer, do dia 1º de abril, que não avaliou o estacionamento. Resta o aval da SMTR, que estuda as propostas.

O motorista de aplicativo Elienai Carneiro, de 42 anos, concorda em liberar uma faixa para o trânsito geral - Luciano Belford/Agência O Dia

Na região, há quem defenda e quem discorde das ideias. O motorista de aplicativo Elienai Carneiro, de 42 anos, concorda em liberar uma faixa para o trânsito geral. “E não tinha que ser só no horário de rush, não. Tinha que ser o tempo inteiro. Só não concordo que seja liberado o estacionamento do lado esquerdo. Acho que uma parada rápida, tudo bem, mas fazer estacionamento prejudicaria o fluxo. Falta inteligência nisso”, opina. Os motoristas de aplicativo não têm prioridade no BRS como é garantido aos taxistas.

O taxista Fábio Bosi, 38, critica a prioridade aos veículos particulares em detrimento do transporte público. “O problema todo desse sistema que querem inventar é porque os aplicativos estão com muitos carros na rua. Se um ônibus parar, vai parar um monte de gente atrás e não vai melhorar o trânsito. Para o trabalhador que depende do transporte público, vai ser péssimo. Em vez de levar de sete a oito minutos para atravessar a Teodoro da Silva de ônibus nos horários de pico pela manhã, vai passar a levar de 15 a 20 minutos. Teria que investir mais em transporte público”, diz.

O taxista Fábio Bosi, 38, critica a prioridade aos veículos particulares em detrimento do transporte público - Luciano Belford/Agência O Dia

Ponto de vista mais isento tem o professor Igor Flor da Silva, 33, que é motorista mas também usa o transporte público. “Durante uma boa parte do dia, tem retenção de veículos nas pistas para carros. Da forma proposta, o fluxo ficará melhor. Agora, se permitir o estacionamento no lado esquerdo é outra coisa. Daí, diminuiria parte da via. Não acho que seja uma boa. Somente em fins de semana, talvez.”

Ponto de vista mais isento tem o professor Igor Flor da Silva, 33, que é motorista mas também usa o transporte público - Luciano Belford/Agência O Dia

Especialistas divergem

 

Clarisse Linke, diretora do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), considera a redução do BRS de Vila Isabel um retrocesso. “A proposta de tirar uma faixa para ônibus e abrir estacionamento em meio-fio é um retrocesso do ponto de vista técnico e também simbolicamente, por priorizar o espaço para o carro e não o transporte público”, avalia.

Por outro lado, o engenheiro de Transportes Alexandre Rojas, da Uerj, acredita que, se a análise técnica da CET-Rio concordou com a redução do BRS, não há expectativa de impacto negativo. “O carro também não é totalmente o vilão. Se o estudo não apontou prejuízo e isso vai proporcionar melhorias ao comércio local, não há porque não ser implantado”, comenta.

O Rio possui 21 corredores BRS, todos inaugurados entre 2011 e 2016, na gestão de Eduardo Paes (DEM). O antigo governo divulgava que cada corredor BRS proporciona, em média, 30% de aumento na velocidade dos ônibus que circulam nas faixas exclusivas. Uma proposta para implementar um corredor na Avenida Mem de Sá, no Centro, está em estudo, mas sem prazo. Questionado sobre a medida em análise para o BRS da Teodoro da Silva, o Rio Ônibus não respondeu.

Você pode gostar
Comentários