Marcha da Maconha acontece no Rio neste sábado - Divulgação
Marcha da Maconha acontece no Rio neste sábadoDivulgação
Por Dejair Neto*
Rio - Com o slogan “Contra o abate nas favelas, legaliza, com o Supremo, com tudo”, a 16ª Marcha da Maconha foi realizada neste sábado na Zona Sul. A concentração começou por volta das 14h20, na praia de Ipanema, na altura do Jardim de Alah, e o protesto teve início às 16h20, com a passeata em direção ao Arpoador. O objetivo da manifestação é a defesa da legalização da maconha e mostrar que a “guerra às drogas” serve como instrumento para criminalização da pobreza. 
A marcha, que acontece todos os anos, teve em 2018 a participação de aproximadamente 10 mil pessoas. Para a edição de 2019, os organizadores acreditam que esse número deve ser menor por conta  dos "novos governos reacionários", mas a quantidade de pessoas em torno do carro de som "surpreendeu". Os organizadores contabilizaram cerca de 5 mil presentes. O vereador Renato Cinco é um dos organizadores do evento desde 2005 e também é conhecido por sua postura a favor da legalização da maconha. Em um vídeo publicado em sua página do Facebook durante a marcha, o político também defendeu a regulamentação do uso da droga.
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"Muita gente que até concorda com a legalização diz "eu até concordo mas esse movimento não é importante, nós temos coisas mais importantes para lutar no Brasil neste momento". Nós que estamos aqui evidentemente descordamos e é importante a gente dizer o porquê que a gente descorda. A gente descorda porque a gente sabe que a maconha não mata, mas a proibição da maconha mata todo dia. A maconha hoje não é a porta de entrada para outras drogas, como gostam de falar sem nenhuma prova científica. A proibição da maconha é que é a porta de entrada pro presídio, pra dezenas de milhares de jovens, negros, pobres, que são muitas vezes presos com menos de cinco gramas de maconha. E mesmo assim, porque são negros, pobres e favelados são condenados à cadeia como traficantes. Isso quando não são condenados à morte por execução sumária, num país onde oficialmente não existe a pena de morte", disse.
O vereador também comentou do sentimento pelo qual eles marcham neste ano, que é um misto de esperança e preocupação. "Esse ano nós marchamos com uma grande esperança, uma grande preocupação: a nossa grande esperança é o julgamento agora no dia cinco de junho da descriminalização do uso pelo Supremo Tribunal Federal, o avanço que pode acontecer, que não vai parar a nossa luta, porque a nossa luta é pela legalização, não é só pela descriminalização", afirmou.
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Renato Cinco também criticou a decisão do presidente Jair Bolsonaro ao assinar a nova Política Nacional sobre Drogas, que prevê tratamento baseado em abstinência, apoio ao modelo de comunidades terapêuticas e estímulo à visão de que a diferenciação entre usuário e traficante deve ocorrer com base nas circunstâncias do flagrante e não considerando a quantidade de drogas. O decreto também se posiciona contrário à descriminalização, em especial da cannabis.
"Essa portaria é um retrocesso, porque ela pretende restabelecer a política de internação compulsória em massa de usuários de drogas no nosso país. O Bolsonaro assinou uma portaria que é contra a lei, porque a lei que vigora no Brasil é a lei da reforma psiquiátrica, de 2001, que não tem como medida a internação a não ser em casos extremos de ameaça direta à vida da pessoa com problemas mentais", pontuou. 
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A discussão que envolve a maconha também tem a ver com o seu uso medicinal. O presidente da Associação Brasileira para a Cannabis (Abracannabis), Pedro Daniel Zarur, explica que a planta já é usada há milhares de anos e foi uma das primeiras a serem cultivadas pela humanidade. Ele conta como utiliza a cannabis em seu tratamento médico.
"Eu tive poliomielite na minha infância, tive sequelas nas minhas pernas e devido a isso, hoje em dia, eu tenho 57 anos e apresento artrose no meu ombro, bico de papagaio, que me leva a dores apáticas bem fortes. A cannabis me ajuda como analgésico e como anti-inflamatório, eu faço meus exames médicos regulares e meu fígado está ótimo. Se hoje em dia eu fosse tomar a quantidade de remédios que eu teria que tomar para aplacar minhas dores, eu certamente já seria paciente de outros médicos. Eu cultivo legalmente, tenho autorização", finalizou. 
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*Estagiário supervisionado por Thiago Antunes