Tia Neide prepara pratos na Feira das Yabás: galinha com quiabo, angu, mocotó fazem a alegria de clientes - Luciano Belford
Tia Neide prepara pratos na Feira das Yabás: galinha com quiabo, angu, mocotó fazem a alegria de clientesLuciano Belford
Por Antonio Augusto Puga
 
“O cozinheiro é, antes de tudo, um vendedor de felicidade”. A frase é do chef francês Michel Bras e vale como máxima para quem trabalha nesse espaço tão prazeroso (e saboroso) de restaurantes, bares e outros estabelecimentos. Hoje, entre um prato e outro, é a data de comemorar o dia da categoria, quem sabe até com velinhas e bolo feito pelas próprias mãos!
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O Dia do Cozinheiro foi instituído por decreto federal (6.049) em 2005. Mas para profissionais como Neide Santana, 66 anos de vida bem temperados, a única lei que vale na profissão é “fazer o cliente feliz”. Neide participa da Feira das Yabás, evento que acontece em Oswaldo Cruz, de comida típicas e música. Angu à baiana, frango com quiabo, mocotó. Vale tudo para agradar o estômago dos visitantes.
 
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“Aprendi a cozinhar com minha mãe. Ela trabalhou em bares no Rio e cozinhava com arte. Participo da Feira das Yabás desde o início. Vendo meus pratos há onze anos. Uma vez uma turista pediu angu a baiana. Depois de comer, veio falar comigo e beijou minhas mãos. Fiquei surpresa na hora. Ela disse, em lágrimas, que o angu era igual ao que a mãe dela fazia. Ainda hoje fico emocionada ao lembrar”, conta. Para Tia Neide, é importante comemorar a data. “É uma honra integrar essa profissão de cozinheira. Cozinhar é fazer com amor, com vontade de ver o sorriso das pessoas”.
E que tal comemorar a data com uma bela feijoada? Edson Marinho assina a receita desse tipo de prato na Escola de Samba Estácio de Sá. As aulas de culinária ou gastronomia foram tomadas na cozinha da Escola de Educação Física do Exército, no bairro da Urca. Sorte a nossa! “Estava servindo, e me designaram para ajudar na cozinha do quartel. Aprendi com as mulheres que trabalhavam ali. Já imaginou preparar refeições para dezenas de militares?”.
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Raul César Novaes, cozinheiro da famosa feijoada da Mangueira - arquivo pessoal
“Sou autodidata. Tudo o que sei veio da observação. Passados tantos anos, hoje faço a feijoada da Estácio, minha escola de coração, com muito orgulho. Saber que existe uma data comemorativa é o reconhecimento da nossa profissão”, emociona-se Edson. Outra feijoada que faz muito sucesso é o da Portela, organizada por um dos baluartes do samba carioca: Tia Surica. São mais de 2.500 pessoas que disputam o privilégio de provar o prato. “Aprendi a cozinhar depois que minha avó morreu. Decidimos oferecer a receita numa reunião de sambistas e, desde então, foi um  sucesso”.
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Já na Mangueira, quem assina o prato é o chef Raul César Novaes, que adora preparar comida para mais de duas mil pessoas num mesmo dia. “É uma honra se cozinheiro e saber que as pessoas ficam felizes, é uma experiência gratificante da profissão”.
E, se quem tem boca vai a Roma, quem gosta de comida de povão pode ir ao Restaurante Popular de Bonsucesso. Lá, quem pilota a boca do fogão é o chef João Carlos da Silva “Trabalhei com muita gente experiente, o que ajudou. Tenho orgulho de ser cozinheiro”, diz João. Ele prepara diariamente 1.500 refeições. Haja tempero!
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Cozinheiros do Restaurante Popular de Bonsucesso adoram servir receitas que agradam o povão - Cléber Mendes/Agência O Dia
Autodidata das boas
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Autodidata como boa parte dos cozinheiros, Kátia Barbosa se transformou em uma celebridade na gastronomia carioca ao criar o bolinho de feijoada. A ideia surgiu durante uma viagem a Minas Gerais, onde ela e um grupo de amigos percorreram os bares que participavam do 'Comida de Buteco'.
"Vi no cardápio um petisco que me chamou a atenção, o bolo de feijão. Imediatamente lembrei do que minha mãe fazia. Para minha tristeza, não passava de acarajé. Jurei que quando voltasse ao Rio faria um bolinho de feijão realmente. Claro que esqueci. O pessoal começou a cobrar a promessa e passei a testar. Um dia o Moacyr Luz sugeriu que me inscrevesse no 'Comida de Buteco', disse que não tinha nada para concorrer. Acabei inscrevendo o bolinho de feijoada. Fiquei em segundo lugar, mas ele ganhou fama", conta.
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A paixão pela culinária vem de casa, segundo a chef, os pais cozinhavam muito bem. "Amo cozinhar. Gosto do que faço, valorizo a culinária brasileira. É ali que curo minhas tristezas, decepções e problemas que todos temos. Confesso que não sabia da existência do Dia do Cozinheiro, mas é importante a data. Essa é uma profissão que a pessoa tem que gostar, de servir. Um cozinheiro precisa ter tesão naquilo que faz, tem que viajar, provar e conhecer", conclui.
 
Rodrigo Sardinha, cozinheiro do Refettorio Gastromotiva - Divulgação