Abolição da escravatura: dia de protestos e de luta
Líderes do movimento negro destacam necessidade de reflexão sobre temas atuais
Para João Victor, é um retrocesso se discutir o fim das cotas raciaisReginaldo Pimenta
Por Marina Cardoso
Rio - Amanhã, 13 de maio, é o Dia da Abolição da Escravatura. E depois de 131 anos da assinatura da Lei Áurea, em que a Princesa Isabel aboliu oficialmente a escravidão no Brasil, lideranças de movimentos negros do Estado do Rio destacam a importância de se manifestar e debater temas atuais que divergem do que os negros lutaram para conquistar nos últimos anos.
Segundo o babalaô Ivanir dos Santos, a data não é para ser comemorada, mas deve servir de reflexão sobre questões recentes e o que foi a abolição. “É dia de protesto e de reflexão. Ainda mais, em um período que querem nos retirar direitos, como a lei de cotas”, afirma, referindo-se ao projeto apresentado pelo deputado Rodrigo Amorim (PSL) à Alerj para acabar com cotas para negros e indígenas em universidades estaduais.
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Coordenadora do Movimento Negro Unificado do Rio (MNU-RJ), Fátima Andréa Monteiro diz que o dia deve ser de luta. “Precisamos estar realmente unidos, combater o extermínio da juventude negra e o retrocesso quanto ao fim das cotas raciais”, lembrou.
Para a estudante Rachel Motta, de 17 anos, a data serve para reafirmar direitos garantidos pelos negros. “As cotas não tiram oportunidade de ninguém, mas levam acesso a quem tem mais dificuldade. É uma dívida histórica com os negros, que desde a abolição sofreram com pobreza, falta de trabalho e de habitação”, diz Rachel.
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O estudante de Engenharia de Alimentos João Victor Gomes, 20 anos, também concorda ser retrocesso o fim das cotas. “Falo com potência, pois entrei na universidade através delas. É a possibilidade de ingresso de muitos”, afirma.
Ele ainda lembra a extrema violência vivida pela população negra. “É um número enorme de negros que morrem a cada dia. Cada vez mais, eu me sinto engaiolado, com medo do que pode acontecer comigo”, desabafa.
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MANIFESTAÇÕES
Para lembrar dos últimos casos de violência no Rio, como a morte do músico Evaldo Rosa dos Santos e do catador de papel Luciano Macedo, associações e movimentos sociais organizaram para o dia 26 o ato ‘Parem de nos matar!’, na orla do Leblon e Ipanema, às 10h30. Além disso, no dia 14, está programado um debate em defesa das cotas raciais na Educação, às 19h, na Uerj.
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Em Petrópolis, na Região Serrana, acontece amanhã o último dia de palestras, debates, teatro, capoeira e música para lembrar o Dia da Abolição. O evento ocorre no Palácio de Cristal.