Antonio Cerqueira, dono do Hotel Shalimar, reclama de prejuízos - Gilvan de Souza / Agência O Dia
Antonio Cerqueira, dono do Hotel Shalimar, reclama de prejuízosGilvan de Souza / Agência O Dia
Por Bruna Fantti
Rio - Basta o tempo ficar nublado para Elenilce Marques, de 77 anos, desistir de ir para a rua. O motivo não é o medo de ficar doente, mas acabar sem ônibus para retornar à sua casa no Vidigal, à beira da Avenida Niemeyer. Nesta quinta-feira, pela 18ª vez somente neste ano, a via foi parcialmente interditada, após uma chuva forte. "Minha casa fica no meio da Niemeyer, e já é distante do ponto de ônibus, cerca de um quilômetro. Quando fecham, tenho que subir caminhando desde o Leblon. É muito difícil", contou.
Ontem à noite, após esperar em vão por mais de dez horas a abertura da avenida, interditada às 7h da manhã por conta de um deslizamento, ela aproveitou a ajuda do filho para ir ao supermercado. "Vamos andar cerca de três quilômetros agora, mas não tem jeito. Mototáxi está muito caro", afirmou Epaminondas Marques, 55, com as sacolas de compras nas mãos.
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Elenilce Marques e Epaminondas Marques: 'Quando fecham, tenho que subir caminhando desde o Leblon. É muito difícil', diz ela - Gilvan de Souza / Agência O Dia
Já os mototaxistas se arriscam para lucrar e aumentam os preços das corridas. Nesta quinta, no entanto, a tática não surtiu efeito. "Costumo levar 25 passageiros por hora. Hoje (ontem), foram 10 somente. Muitos até querem usar (o mototáxi), mas não têm dinheiro, só cartão, e não aceitamos", contou Matheus Carvalho, 22 anos. A corrida do Posto 12, no Leblon, até o Vidigal — um trajeto de três minutos de moto — tinha o custo de R$ 10.
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A dificuldade de locomoção também atingiu a estudante Isla Paiva, 22 anos. Usuária do RioCard Universitário, ela contou que as vans disponíveis não aceitam o cartão de transporte. "Mototáxi fica muito caro quando chove. Sem ônibus, tenho que pagar a passagem da van para a faculdade", afirmou. Ela contou que em alguns trechos da comunidade, por conta dos deslizamentos, nem o mototáxi consegue passar.
O comércio também sofre com a falta de movimento e, de tanta interdição, alguns motéis são assombrados com a possibilidade de fechamento. É o caso do Hotel Shalimar, inaugurado em 1975. Desde 2015, com as obras para a construção da Ciclovia Tim Maia, perdeu a conta de quantas vezes a via foi fechada, impossibilitando casais de chegarem até as suas suítes. Agora, acumula dívidas e vê o movimento despencar toda vez em que uma interdição na Niemeyer ocorre.
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"Se a via fecha parcialmente são 50% a menos no movimento. Se interdita, são 100%. Demiti quatro funcionários. Não vejo como pagar os parcelamentos das dívidas. Se continuar assim, teremos que fechar", disse Antônio Cerqueira, dono do hotel. 
Bloqueios
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Desde o início do ano, a Avenida Niemeyer foi interditada por 18 vezes, de acordo com levantamento do Centro de Operações. Confira abaixo os motivos.
- 11/1 - Um acidente de trânsito interditou a Niemeyer por cerca de 30 minutos. 
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- 7 a 18/2 - A queda de uma barreira bloqueou a avenida causando transtornos aos moradores.
- 26/2 -Um ônibus pegou fogo e interditou a via.
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- 2/3 e 3/3 - A Avenida foi interditada de forma preventiva por causa das fortes chuvas.
- 23/3 - A queda de uma árvore novamente bloqueou a via.
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- 8 /4 a 12/4 - Interditada devido a chuvas. Houve queda de barreira.
- 22/4 - Operação policial fechou a via.
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- 25/03 e 27/03 a 05/04 - Fechada na madrugada para trabalho da Comlurb.
- 16/5 - Com uma chuva moderada, houve deslizamento de terra que atingiu uma casa desabitada.
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Obras na via vão durar até outubro
Até as 22h desta quinta, a Niemeyer seguia sem previsão de reabertura, segundo o diretor da CET-Rio, Joaquim Diniz. Indagada a respeito de planos para evitar novos fechamentos, a Prefeitura disse que "realiza trabalhos de limpeza, topografia, sondagem e estabilização na via desde fevereiro".
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Após essa primeira etapa, serão feitas as obras de contenção. A previsão de término do trabalho em toda a extensão da Avenida é até outubro. Ontem, mesmo dia em que houve o deslizamento ou escorregamento de terra que interditou a Niemeyer, Ricardo D’Orsy, diretor de obras da Geo-Rio, disse que a via vai receber R$ 30 milhões até o fim do ano em investimentos.
A afirmação foi feita durante a audiência da CPI das Enchentes, na Câmara de Vereadores. Segundo D’Orsy, os gastos com a recuperação de encostas devem chegar a R$ 98 milhões. As principais ações serão no Vidigal, na Rocinha, no Morro da Babilônia, no Cantagalo, a Zona Sul do Rio, e em Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste.