Homem que vendia drogas sintéticas e foi preso no Alto da Boa Vista é ligado ao tráfico no Morro do Borel (foto), na Tijuca, de acordo com a polícia - Reprodução / Google Maps
Homem que vendia drogas sintéticas e foi preso no Alto da Boa Vista é ligado ao tráfico no Morro do Borel (foto), na Tijuca, de acordo com a políciaReprodução / Google Maps
Por RAFAEL NASCIMENTO
Rio - O forte cheiro de maconha em dinheiro que seria depositado no banco foi o pontapé das investigações que culminaram com desarticulação de um esquema milionário de lavagem de dinheiro de traficantes do Morro do Borel, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Ontem pela manhã policias da 19ª DP (Tijuca) realizaram a operação "Shark Attack" (ataque de tubarão) para desbaratar a quadrilha. Segundo a Polícia Civil, cinco pessoas foram presas, embora o objetivo da operação fosse cumprir oito mandados de prisão e seis de busca e apreensão.

Os dois principais procurados no Rio, Jorge Lucindo da Silva, o Tubarão - que deu o nome à operação - e Alexandre Barreto Ferreira, o Galego, não foram encontrados. A polícia, inclusive, oferece recompensa de R$ 1 mil para quem der informações sobre o paradeiro de Galego, que é apontado pela polícia como gerente do tráfico de drogas do Morro do Borel. Tubarão e Galego já são considerados foragidos.

Além do Rio, também foram cumpridos mandados de prisão e busca e apreensão em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e Curitiba, no Paraná.

Foram detidos em Curitiba: Aparecido Alves de Oliveira, Jeferson Batista Silva de Lima e Silmara Silva Barbosa. Já em Ribeirão Preto, o casal Cleber Bergamasco Luciano e Patrícia Regina Grechi foi preso. Todos suspeitos de serem laranjas do tráfico. Embora não fosse alvo da operação, Cleber tinha mandado de prisão em aberto e teria feito uma conta bancária com os dados de uma pessoa com deficiência para movimentar dinheiro do tráfico do Borel.
Drogas e dinheiro também foram apreendidos pelos policiais. Em um apartamento da Tijuca, os policiais encontraram R$ 7 mil em espécie, tabletes de maconha e grande quantidade de drogas sintéticas. Ninguém foi preso.

De acordo com a Polícia Civil, a ação de sábado faz parte da primeira fase da operação e é resultado de três meses de trabalho de investigação.
Jorge Lucindo da Silva, conhecido como Tubarão, e Alexandre Barreto Ferreira, o Galego, são suspeitos da lavagem de dinheiro do tráfico do Borel. Dupla é considerada foragida - Divulgação


Depósito de quase R$100 mil em notas de baixo valor

As investigações começaram em janeiro deste ano após tentativa de depósito de quase R$ 100 mil em notas de R$ 2, R$ 5 e R$ 10 em um caixa eletrônico. O cheiro de maconha nas notas chamou a atenção de pessoas que estavam no banco, que chamaram a Polícia Militar. Na ocasião, Jorge Lucindo da Silva, o Tubarão, e um outro homem chamado João Victor - que tentavam fazer o depósito fedorento -, chegaram a ser levados à delegacia, prestaram depoimento e foram liberados.

A partir daí, os policiais começaram uma apuração para rastrear o caminho percorrido pelo dinheiro. No rastreamento, a polícia descobriu um esquema milionário de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas por empresas fantasmas em outros estados. Além de traficantes, os laranjas do esquema estão entre os alvos da operação.

Entre as empresas envolvidas, somente a Hexxa Shows recebeu 38 depósitos em espécie com valores entre R$ 50 mil e R$ 85 mil entre 1º de outubro de 2018 e 19 de março de 2019. Ao todo, apenas essa firma recebeu R$ 2.208.805. Dinheiro que, segundo investigadores, é do tráfico de drogas.

De acordo com a Polícia Civil, os suspeitos abriram três empresas fantasmas que estavam sendo usadas para lavar o dinheiro do tráfico, principalmente do Morro do Borel, na Tijuca. Os policiais já sabem que as empresas lavavam dinheiro, também, de outros estados como Bahia, Rio Grande do Norte, São Paulo e Minas Gerais.

Dupla é 'velha conhecida' da polícia

A dupla já é velha conhecida da polícia. No final do ano passado, Galego chegou a ser preso por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Borel enquanto participava de culto na comunidade. Entretanto, o bandido foi resgatado por criminosos momentos depois. No dia, houve um confronto entre PMs e traficantes e Galego teria ficado ferido.

Em 2010, policiais civis da própria 19ª DP já haviam prendido Tubarão, que tentava escapar de moto de uma abordagem policial. Contra o bandido, que foi capturado durante a Operação Gavião, havia um mandado de prisão preventiva por associação ao tráfico de drogas. Naquele ano, Tubarão foi apontado como um dos motoristas do traficante conhecido como Biscoito do Complexo do Alemão, além de integrar o tráfico do Borel.
Alexandre Barreto Ferreira, o Galego, também é um dos procurados na ação deste sábado - Divulgação / Portal dos Procurados