Criminoso é suspeito de ser o chefe do tráfico do Morro São João, na Zona Norte - Reprodução Google Maps
Criminoso é suspeito de ser o chefe do tráfico do Morro São João, na Zona NorteReprodução Google Maps
Por ADRIANO ARAÚJO
Rio - Um soldado do Exército Brasileiro foi baleado, na manhã desta terça-feira, durante um confronto entre criminosos e policiais militares no acesso do Morro São João, no Engenho Novo, na Zona Norte do Rio. O jovem, que estava indo para o quartel, foi ferido no braço direito. Familiares, entretanto, afirmam que não houve troca de tiros e que os PMs atiraram contra Yann de Almeida Gonçalves, 20 anos.
O padrasto do militar diz que não havia troca de tiros quando ele descia a Escadaria do Açaré, um dos acessos ao Morro São João. "Os policiais estavam na rua, no pé do morro, e atiraram na direção dele, que descia de mochila nas costas para ir para o quartel. Ele nasceu de novo. Não teve confronto nenhum, deram mais ou menos sete tiros na direção dele", denunciou o empreiteiro de obras Alex Menezes.
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Segundo a PM, policiais do 3º BPM (Méier) começaram uma perseguição ainda na Rua Hermengarda com Dias da Cruz, no Méier, a criminosos que estavam em dois carros roubados. A fuga se estendeu até a entrada da favela, onde houve a troca de tiros. Os veículos usados pelos criminosos foram recuperados e um suspeito foi detido, sendo levado para averiguação na delegacia.
A versão de que não havia troca de tiros também é relatada por um amigo de Yann, que desce diariamente a comunidade com o jovem. Ao ouvir alguns disparos, ele decidiu voltar para casa e esperar. O militar continuou descendo a escadaria e foi atingido. Mas o colega diz que os tiros não eram naquela localidade.
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"Se tivesse troca de tiros, não tínhamos nem saído. Se houve perseguição, não foi ali, também havia policiais próximo da escola, na Rua Vila Flor, do outro lado. Mas onde o Yann foi baleado não houve confronto", disse o amigo do jovem, que preferiu não se identificar. "Ele estava indo para o quartel, sempre desce junto comigo quando vou trabalhar, paramos e tomamos café na padaria. Onde foi, poderia ter sido eu, minha esposa", completou. Segundo ele, os PMs não ajudaram no socorro e ele que o levou para o Hospital Salgado Filho, no Méier.
Local onde Yann foi baleado no Morro São João, no Engenho Novo. Ele ia para o quartel quando foi atingido - Arquivo Pessoal
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Alex afirma que o enteado está há pouco mais de um ano no Exército e pretende seguir carreira militar. O rapaz está fazendo curso de Design Gráfico, onde aprimora seu talento em desenhar, bastante aproveitado no quartel em que está servindo, conforme relata. O padrasto teme que o tiro no braço possa prejudicar os movimentos e interromper a arte desenvolvida pelo jovem. Ele entrou em procedimento cirúrgico por volta das 11h30 e às 15h continuava na sala de cirurgia. 
"O projétil atravessou o braço dele. Ele está bem, mas não sei o que pode acontecer com o braço dele, pode ter afetado algum nervo, mas só saberemos se não aconteceu nada mais grave após a avaliação. Ele gosta muito de desenhar e isso pode prejudicar", explicou. "Ele é nascido e criado no São João, nunca foi envolvido com nada. Focaram uma pessoa de longe e atiraram várias vezes".
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O padrasto fez duras críticas à PM que, segundo ele, "sempre chega assim na comunidade"."Primeiro atiram e depois perguntam. Estão a semana toda fazendo incursão aqui, então já vem para matar, querem pegar alguém, mas não tinha ninguém. Tem que parar isso aí. Fica a sensação de impunidade. Vem, fazem o que querem e não acontece nada. Na Zona Sul, dão bom dia, boa tarde. Aqui chegam atirando", falou.
Procurada para comentar o caso, a Polícia Militar não se pronunciou sobre a denúncia do padrasto e amigo do soldado do Exército baleado. Em nota, o Comando Militar do Leste (CML) disse que Yann foi baleado no antebraço. Ele passou por uma cirurgia, na qual implantou uma placa no braço, e passa bem.
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"Informações preliminares dão conta de que ele estava de passagem pelo local e foi atingido no antebraço por um disparo de arma de fogo. O Comando da Unidade dele está acompanhando e dando apoio aos familiares", disse o CML.
Um procedimento interno será aberto pela Força Armada, já que o rapaz se dirigia para o trabalho quando ele foi baleado. "Tem uma finalidade administrativa, já que pode implicar em futura lesão que o inabilite ao serviço ativo, o que demandaria certo conjunto de direitos compensatórios", esclareceu o coronel Carlos Cinelli, porta-voz do Comando Militar do Leste. A futura investigação da polícia será acompanhada pelo Exército.
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Os familiares de Yann irão registrar o caso na polícia para denunciar a PM e pretendem processar o estado. "Isso não pode ficar assim", disse o padrasto.