Nicodemus: atingido nas costas - Reprodução
Nicodemus: atingido nas costasReprodução
Por ADRIANO ARAÚJO
Rio - Um comerciante de 58 anos foi morto com um tiro nas costas quando estava a caminho da padaria no Complexo do Anaia, em São Gonçalo, na tarde desta terça-feira. Nicodemuns Rodrigues da Costa atuava na região vendo produtos mesa e banho de porta em porta. A PM fazia uma operação na comunidade e moradores relatam que os disparos vieram de policiais que estavam em uma laje, segundo a filha da vítima. Dois criminosos também morreram na ação policial.
"Eles acabaram com minha vida, meu pai era tudo para mim. Sou filha única, minha mãe nem consegue levantar da cama. Ele era o centro da família, minha mãe é do lar, não sei o que vai ser dela. Estou me sentindo desamparada, era meu super herói. Era cheio de vida e morreu por um erro da polícia. Isso é inaceitável", disse a psicóloga Bruna Costa, aos prantos.
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A filha da vítima esteve no Instituto Médico Legal de Tribobó para liberar o corpo do pai. O enterro está previsto para as 16h no Memorial Parque Nictheroy, no bairro Laranjal, em São Gonçalo. 
A Secretaria de Polícia Militar disse que o 7º BPM fazia uma operação nos bairros Anaia e Santa Isabel por conta de "denúncias de criminosos reunidos na região" e que foi recebidas a tiros, iniciando um confronto.
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"Após cessarem os disparos, dois criminosos foram encontrados feridos e foram apreendidos um fuzil calibre 5,56, uma pistola calibre .40, munições, um rádio comunicador e 110 pinos de cocaína. Ainda na localidade, uma terceira pessoa foi encontrada ferida. O Corpo de Bombeiros foi acionado para o socorro, no entanto, foi constatado o óbito dos três", disse em nota. Uma perícia foi realizada e o caso, inicialmente registrado na 75ª DP (Rio do Ouro), será transferido para a Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSGI).
Sobre a denúncia dos parentes do comerciante, a Polícia Militar disse que "a Corregedoria da Polícia Militar segue à disposição para receber denúncias de ações ilícitas envolvendo policiais militares, garantindo o anonimato do denunciante". A corporação não disse que investigará os PMs envolvidos na operação.
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"As denúncias podem ser encaminhadas pelo WhatsApp através do número (21) 97598-4593; pelo telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo e-mail denuncia@cintpm.rj.gov.br", conclui a nota. A corporação não informou se os policiais ignorou os questionamentos sobre a denúncia de que os tiros que mataram o comerciante foram disparos por policiais que estavam em uma laje.
A operação policial que culminou na morte de um inocente e dois suspeitos de tráfico apreendeu  um fuzil calibre 5,56, uma pistola calibre 40, munições, um rádio comunicador e 110 pinos de cocaína. 
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Vítima saiu do Nordeste para tentar vida no estado
Nicodemus era natural de Natal, no Rio Grande do Norte, e veio com 12 anos para o estado do Rio para tentar uma vida melhor. Morava no bairro Trindade, mas trabalhava com o comércio de porta em porta no Complexo do Anaia há mais de 30 anos e era conhecido por todo mundo. Recentemente, comprou um terreno na região e estava plantando e vendendo aipim.
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"Não tem uma pessoa no Anaia que não tenha uma panela que comprou do meu pai. Recentemente, ele comprou esse terreno lá, iniciou uma plantação de aipim para vender. Ele era muito empreendedor. Um homem de 58 anos, cheio de vida, morrer dessa forma, por um despreparo de um policial. Ele tem que ser lembrado", desabafou a filha. "Meu pai era a melhor pessoa, não merecia isso. Me sinto impotente de deixar meu pai partir dessa forma", completou.
Além da preocupação com a mãe, Bruna também não sabe como falar com o filho de dois anos e nove meses, que era muito ligado ao avô. "Ele era o amor da vida dele. Ele pergunta pelo avô e eu não sei o que falar. Meu pai sempre ficava com ele quando eu precisava", contou, chorando muito.
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Há 11 meses, primo que voltava de futebol também foi morto
Em outubro de 2018, um primo de Nicodemuns foi morto também com um tiro nas costas quando voltava de uma partida de futebol em Guaxindiba, também em São Gonçalo. A PM apontou Cosme de Araujo Aguiar, 36 anos, como traficante e disse que com ele foi apreendida uma pistola e um rádio transmissor. A família contesta a versão, diz que ele foi baleado por policiais e tentam "limpar" o nome da vítima perante à Justiça.
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"Ele estava vindo do futebol após receber uma ligação de entrevista de emprego. Os policiais chegaram atirando e o atingiram nas costas. Recolheram os documentos dele e o apontaram como bandido. Estamos na justiça para retirar essa acusação injusta", conta Bruna.
Comerciante foi morto com um tiro nas costas quando ia para padaria no Complexo do Anaia, em São Gonçalo. Família acusa a PM de ter dado o disparo - Arquivo Pessoal