O pesquisador Cristiano Boccolini tenta aplicar na própria rotina o que recomenda em estudo. Ele emendou a licença paternidade com férias para acompanhar a esposa Patrícia após o nascimento da pequena Gia Elena - Fotos de Ricardo Cassiano
O pesquisador Cristiano Boccolini tenta aplicar na própria rotina o que recomenda em estudo. Ele emendou a licença paternidade com férias para acompanhar a esposa Patrícia após o nascimento da pequena Gia ElenaFotos de Ricardo Cassiano
Por O Dia
Rio - A presença do pai no dia a dia da família aumenta em até 75% as chances de a mãe amamentar o bebê até os seis meses de vida, e mais do que dobra a expectativa dela em continuar amamentando a criança até o primeiro ano. As perspectivas fazem parte de um estudo que será apresentado no 15º Encontro Nacional de Aleitamento Materno (XV Enam), entre 11 a 15 de novembro, no Rio. Outras pesquisas realizadas no mundo confirmam que mulheres que contam com o apoio afetivo e social do pai do bebê amamentam por mais tempo, o que impacta no desenvolvimento dos pequenos, evita doenças e aumenta os laços entre pais e filhos.
Não por acaso, um conselho no Dia dos Pais é que se o bebê chorar pedindo ‘mamá’ de madrugada, pense duas vezes antes de virar para o outro lado da cama. Segundo Cristiano Boccolini, pesquisador da Fiocruz e coautor do estudo que será apresentado em novembro, mais do que a presença do pai, a mãe precisa perceber que tem o apoio do marido e, assim, se sentir apoiada emocionalmente.
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“Estou publicando um artigo que mostra o que muitas vezes os números sozinhos não mostram, que é essa questão subjetiva da percepção do apoio que a mulher tem do homem. É complicado de medir, mas uma coisa é fato: não adianta o pai estar só ali. Ele precisa demonstrar que se preocupa com a questão da amamentação e da saúde da mulher e do bebê com atitudes”, afirma.
Um segundo estudo realizado, que também será debatido no evento, mostra que as mães que podem contar com a presença do pai do bebê no dia a dia têm 72% de chances a mais de fornecer aleitamento exclusivo para os bebês.
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A presença dos pais no momento do aleitamento — principalmente nas primeiras semanas pós-gestação — também foi comprovada por pesquisadores americanos, que estudaram os efeitos de uma lei sueca, de 2012, que permite aos pais até 30 dias de licença no primeiro ano de vida de um filho, independentemente da licença-maternidade da mãe. O resultado foi positivo não só para a amamentação, mas também para a saúde da mulher, que ficou menos ansiosa — o que facilita a produção do leite — e precisou ir menos vezes ao hospital. 
“Esses estudos mostram que mães que não podem contar com a atuação do pai da criança logo depois do parto têm mais problemas de saúde do que mães que têm a presença do companheiro. Mas a boa notícia é que os pais de hoje são diferentes dos pais das gerações de 30, 40 anos atrás. Eles estão mais conscientes e percebem o papel que têm na formação da criança e na amamentação”, diz o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcus Renato de Carvalho, que comandará a mesa ‘O papel do pai na amamentação e cuidados da criança’ durante o XV Enam.
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O pesquisador Cristiano Boccolini é pai de Gia Elena, de 1,5 ano. Em casa, ele tenta aplicar no dia a dia o que escreve em seus estudos — a divisão de tarefas e o apoio a sua mulher, a também pesquisadora Patrícia de Moraes. “Consegui ficar um mês e meio em casa com a minha esposa quando tivemos a Gia porque emendei a licença com as férias, mas depois que voltei à rotina do trabalho, ficou mais pesado para a Patrícia. Eu reduzi um pouco a minha carga de trabalho para poder estar junto dela”, lembra.
“Há um ano, desde que a Patrícia voltou a trabalhar, nós temos uma rotina que eu sei que ainda é um pouco mais pesada para ela do que para mim. Enquanto ela cuida de tarefas domésticas, eu cuido da Gia, dou banho, brinco, distraio, dou comida. E enquanto ela amamenta, eu preparo o jantar e o almoço do dia seguinte”, acrescenta Cristiano Boccolini.
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Direitos de pais e bebês em debata
A amamentação como um direito humano a ser protegido será o tema do XV Encontro Nacional de Aleitamento Materno (Enam) e do V Encontro Nacional de Alimentação Complementar Saudável (V Enacs), que ocorrerão simultaneamente com a III Conferência Mundial de Aleitamento Materno (3rd WBC) e a I Conferência Mundial de Alimentação Complementar (1st WCFC). Os eventos serão realizados de 11 a 15 de novembro no Centro de Convenções SulAmérica, na Cidade Nova.
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Na programação, lançamentos de estudos, debates, palestras e rodas de conversa irão abordar os direitos das mulheres e das crianças, o direito à alimentação saudável e a proteção legal à maternidade e à paternidade.
Os eventos serão precedidos pelo ato público conhecido como ‘Mil Mães Amamentando’, no dia 11 de novembro, e pretende reunir mais de mil mulheres nos jardins do Museu de Arte Moderna (MAM), no Parque do Flamengo. O evento de mães é gratuito. Para participar dos encontros sobre amamentação, as inscrições estão disponíveis no site https://enam.org. br/index.php. 
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