Artistas plásticos se unem em prol do Museu do Graffiti, na Pavuna. Instituição é esperança de quem sonha em expor suas obras
 - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Artistas plásticos se unem em prol do Museu do Graffiti, na Pavuna. Instituição é esperança de quem sonha em expor suas obras Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Por RENAN SCHUINDT
Rio - Quem passa pela Avenida Pastor Martin Luther King Jr., entre a estação Rubens Paiva do Metrô e o morro da Pedreira, na Pavuna, Zona Norte do Rio, não imagina que naquele prédio com aspecto de abandonado funcione um dos centros culturais mais importantes da região: o Museu do Graffiti. Criado há seis anos pelo ex-pichador André Rongo, o espaço reúne exposições de artistas locais, livros, revistas, gravuras, fotografias e até um dicionário que desvenda os segredos da pichação.
“A vontade veio desde menino, quando achava que a coisa mais emocionante do mundo era subir nas alturas e deixar o nome lá”, resume Rongo, que foi Conselheiro de Cultura do Rio durante a gestão do prefeito Eduardo Paes. “Hoje, o coração balança quando tem uma aula acontecendo ou um trabalho sendo admirado por uma criança. Quando chega ajuda, a gente fica feliz, mas não dá para contar com isso”, afirma.
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Morador da Pavuna, André Rongo é o fundador do Museu do Graffiti - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
A mudança de atitude aconteceu em 2011, após algumas palavras de Dom Orani Tempesta e de Dom Eugenio Salles, à época Cardeal do Rio. “Eu havia pichado a Catedral Metropolitana junto com outro amigo. Na ocasião, Dom Eugênio disse que Deus havia dado um dom para aquela pessoa, e que ela (no caso, eu) deveria usar a favor da sociedade. Dali em diante fui fazer o bem por meio da minha arte”, conta o artista plástico.
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SOCORRO VEM DO LIXO
Embora o Museu do Graffiti seja reconhecido oficialmente pelo poder público, a instituição jamais foi contemplada por um edital que financiasse alguma reforma no espaço. Tudo o que chega é por meio de doações de terceiros. André também aluga o espaço para festas e eventos para custear algumas despesas. A maior renda vem do trabalho de reciclagem que é feito com o lixo enviado por empresas da região. Pelo menos cinco moradores sobrevivem desta atividade. Parte do material é utilizado na criação de cenários e outras, em obras de arte. O museu também é bastante requisitado como locação de videoclipes e programas de internet. Já recebeu figuras importantes da cultura Hip Hop, como os rappers MV Bill, Renan Inquérito e GOG.
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'Pensador digital'. Obra do fundador do museu, André Rongo. Peça estava em exposição no Shopping Jardim Guadalupe, na Zona Norte - Ricardo Cassiano/Agência O Dia
 
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Acostumado a ensinar a arte do grafite para as crianças do entorno, Rafael Araújo, o ‘Fael Tujaviu’, acaba de inaugurar sua primeira exposição individual. E justamente no museu. “É uma sensação muito boa. Você sabe do que eu estou falando. A gente que vive aqui tem essa preocupação. Não bastava eu pintar quadros. Minha missão é retratar o que acontece aqui. Quero levar esse quadros para as ruas”, diz o criador de “Fruto da Favela”, exposição que mescla música e grafite, e fica no espaço até o fim de agosto. A entrada é gratuita.
Artista local, 'Fael Tujaviu' expõe a mostra "Fruto da Favela" no espaço - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
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HOMENAGEM À CAMILA PITANGA
Um dos poucos artistas especialistas em aerografia sob vidros e espelhos, Vander Gomes também tem obras expostas no Museu do Graffiti. Uma delas é uma homenagem à atriz Camila Pitanga, de 42 anos. “Hoje, consigo ganhar a vida através da arte. É algo que o museu nos proporciona, pois é quem leva essa visibilidade para o nosso trabalho”, diz. 
Vander Cramer é especialista em arte sobre superfícies lisas, como vidros e espelhos - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
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Grafiteiro com experiência em curadoria, Airá o Crespo, diz ser importante a adesão de outros artistas. “É importante que a galera abrace a causa. O museu é um marco para nós. Essa não é a casa apenas do artista urbano, mas de quem aprecia a arte como um todo”, avalia o artista.
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Artista visual e curador, 'Airá O Crespo' é presença constante no espaço - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
 
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MOVIMENTO XARPIARTE
Um dos desdobramentos que o museu proporcionou foi o movimento batizado de 'Xarpiarte'. Consiste em pinturas coloridas com formas que remetem à pichação. No entanto, assim como ocorre com o grafite, os autores pedem autorização aos respectivos proprietários antes de expor a arte na parede alheia. “Este é um espaço que representa a arte marginal”, opina o grafiteiro da 400 ML Crew, Pedro Solo. 
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PREFEITURA ESTUDA APOIO
Embora esteja presente no calendário oficial da prefeitura durante a Primavera dos Museus, a instituição da Pavuna não recebe nenhuma verba pública. Questionada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Cultura informou que estuda uma forma de apoiar a instituição, mas não disse de que maneira pretende ajudar. A pasta diz que apoia outros projetos relacionados à arte urbana, como o Rio Galeria. “Seria bom contar com esse apoio. O trabalho aqui é importante. Não só por recuperar pessoas, mas por ajudar na prevenção do pior”, conclui Solo.
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SERVIÇO:
Museu do Graffiti - Av. Pastor Martin Luther King Junior, Nº 12528 - Pavuna (Sentido Baixada, em frente à estação Rubens Paiva do Metrô). De terça a domingo, entre 10h e 17h. Entrada gratuita