Momento exato em que o caveirão da Polícia Militar arrasta fiação e barracos na comunidade, na terça-feira passada
 - Reprodução
Momento exato em que o caveirão da Polícia Militar arrasta fiação e barracos na comunidade, na terça-feira passada Reprodução
Por *LUIZ FRANCO
Rio - Nesta terça-feira, um blindado do Comando de Operações Especiais (COE), da Polícia Militar, destruiu parte de dez barracos na região do Karetê, na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, arrastando casas, portas, janelas, telhados e fiação, deixando os moradores do local em situação ainda mais precária. Ainda na terça-feira, após grande repercussão nas redes e protesto de moradores, a PM afirmou, em nota, que "entrará em contato com os moradores e irá ressarcir os danos provocados pela passagem do blindado".
Mais de 24 horas depois, no entanto, a corporação ainda não prestou auxílio, tampouco fez contato com os moradores, que reclamam de estar vivendo em condições ainda mais precárias e dormindo sob chuva. Procurada novamente pelo DIA, a Polícia Militar reiterou que fará contato com os moradores prejudicados na ação, mas não especificou de que forma e quando será feito o ressarcimento.
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Cidade de Deus: barracos foram destruídos por Caveirão - Arquivo pessoal
"Até o momento, não houve nenhum contato", afirmou uma moradora, que preferiu não ser identificada. Outros moradores confirmaram a informação, e nenhum deles quis ser identificado, com medo de sofrer represálias.
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"Pra eles, todo mundo é bandido, pra eles ninguém trabalha", desabafou uma moradora, em depoimento ao DIA. "É muito ruim você entrar nas páginas de Facebook e ver as pessoas comentando lá, que você é um bandido, que você é favelado". 
Ainda na terça-feira, logo após a destruição dos barracos, os moradores da Cidade de Deus organizaram um protesto espontâneo, interditando vias e incendiando um ônibus.
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"Se a gente não fizer assim, não parar vias, não tacar fogo, não chamar a atenção, a gente não é visto, nossa voz não é ouvida. Há quanto tempo a gente tá gritando? Há quanto tempo a Cidade de Deus está sofrendo?", disparou a moradora. "Estamos pedindo paz, e o governador só manda tiro. Ele não quer saber quem tá aqui embaixo. Aí a gente toma uma atitude e sai como vândalo".
Ela reclamou, ainda, da atitude da PM. "A polícia quer entrar, quer fazer o trabalho deles? Ok. Mas eu acho que eles têm que ter um pouco de respeito. Outro dia, começaram uma operação às cinco da tarde, eu estava voltando do trabalho, e fiquei no meio do fogo cruzado, quase morri". 
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Cidade de Deus: barracos foram destruídos por Caveirão - Arquivo pessoal
"Simplesmente me sinto uma cidadã sem o direito de ir e vir, porque eu tenho que andar com medo dentro da minha própria casa. Eu não sei da onde pode vir a próxima bala perdida", concluiu.
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Representantes da ONG Nóiz, cuja sede fica na rua atingida, estiveram no local após o incidente e voltaram nesta quarta-feira. "O clima está mais leve do que ontem, apesar de a revolta ainda existir", afirmou um deles. A ONG ajudou os moradores a mapear os danos e comprou telhas novas para os barracos danificados. 
CT do Vasco
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A rua destruída pelo blindado fica localizada em um terreno cedido pela Prefeitura ao Vasco da Gama para a construção de um novo Centro de Treinamento. O clube espera poder utilizá-lo já em 2020. 
Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação, a Prefeitura "está cadastrando as famílias e estudando a situação para verificar se atendem aos requisitos do Auxílio Habitacional Temporário (AHT) ou futuros reassentamentos".
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O Vasco afirmou, por meio de sua assessoria, que está "acompanhando de perto o trabalho da Prefeitura", e que espera fazer um trabalho social com as crianças da comunidade, assim como faz em São Januário. 
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes