Caso de roubo a pedestre em Copacabana, na Zona Sul do Rio - Reprodução / Internet
Caso de roubo a pedestre em Copacabana, na Zona Sul do RioReprodução / Internet
Por MARIA LUISA MELO
Os oito primeiros meses deste ano tiveram o menor número de homicídios dolosos registrados desde 2013 no Estado do Rio de Janeiro, segundo dados divulgados, ontem, pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). No geral, o crime “letalidade violenta” teve queda de 13% no estado, com 4.074 mortes registradas, ou 625 vítimas a menos em comparação ao ano anterior. Paralelamente, o número de mortes causadas por policiais chegou ao maior patamar desde 1998, ano de início da série histórica do instituto. Ainda de acordo com o ISP, no compilado do estado, houve queda no registro de crimes como roubo de rua (redução de 3,5%) e de veículo (diminuição de 22%), no acumulado deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Mas o quesito roubo de rua (somatório dos roubos de celulares, pedestres e em ônibus) continua sendo um grande desafio da segurança (veja tabela abaixo).

Isso porque, apesar dos dados totais no estado, em 13 das 41 Áreas Integradas de Segurança Pública, tal crime cresceu até 71% no acumulado deste ano, em comparação com os oito primeiros meses de 2018. A área que apresentou maior crescimento foi a do 19º BPM, que compreende os bairros de Copacabana e Leme. Foram 428 casos a mais de roubo este ano. A área é seguida pelo 23º BPM, cujo policiamento se dá nos bairros Arpoador, Ipanema, Leblon, São Conrado, parte do Joá, orla da Lagoa, Gávea, parte do Alto da Boa Vista, Fonte da Saudade, Jardim Botânico e Horto. Neste caso, foram 239 registros a mais este ano, contra 2018.

Também figura entre as 13 regiões com maior crescimento de roubo de rua a do 14º BPM (Bangu), que contará, a partir de hoje, com a atuação de agentes do Programa Segurança Presente.

Ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar, o coronel Robson Rodrigues diz que uma análise criteriosa dos dados se faz necessária. Mas que uma das hipóteses que deve ser analisada diz respeito ao aumento das operações policiais, sacrificando o policiamento ostensivo. “O cobertor é curto. Temos que ver se a polícia não está mais focada nas ações e deixando de cumprir sua função principal, que é a do patrulhamento ostensivo”, destaca ele.

Para o sociólogo Michel Misse, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é importante reduzir os roubos de rua para aumentar a sensação de segurança da população: “Quanto mais os roubos aumentam, cresce também a sensação de insegurança”.

Ele faz duras críticas à política de segurança do atual governo: “A política adotada pelo governo estadual é a do confronto, com muitas operações até em horários inadequados. Quando tínhamos as Unidades de Polícia Pacificadora, tínhamos menos ações policiais. No contexto atual, a polícia foi incentivada a um confronto armado. O reflexo é o aumento do número de balas perdidas mês a mês”, completa.

Recorde de mortes em confronto
Enquanto o índice de letalidade violenta (somatório do número de vítimas de homicídios dolosos, lesões corporais seguida de morte, latrocínio e mortes decorrentes de intervenção policial) - que mede a violência no Estado do Rio de Janeiro - caiu, as mortes causadas pela polícia continuam batendo recorde.

Foram 1.249 registros entre janeiro e agosto deste ano, uma média de cinco mortes por dia, apresentando um crescimento de 16%, na comparação com o período de janeiro a agosto de 2018. O crime está no maior patamar desde 1998, e seu crescimento é alvo de críticas de especialistas.

“O incentivo ao confronto armado só provoca mais mortes e não resolve o problema da segurança pública. Essa é a política adotada por um governo que prega o tiro na cabecinha”, destaca o sociólogo Michel Misse, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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