
Rio - A união de pesquisadores e estudantes do Estado do Rio faz a força para proliferar poderosas artilharias tecnológicas na batalha contra a dengue, a zika e a chikungunya. No início de setembro, técnicos da Fiocruz ampliaram, em Niterói, um método australiano que consiste em soltar no ar mosquitos 'do bem' — o Aedes aegypti com uma bactéria capaz de reduzir as contaminações. Outro projeto, desenvolvido por alunos do Cefet de Nova Iguaçu, foi finalista em um torneio internacional. Trata-se de um programa de computador que identifica criadouros com o uso de drones. As inovações incluem ainda um sistema de alerta em tempo quase real para os casos de dengue nos municípios e também um infravermelho que detecta 18 vezes mais rápido e com custo 116 vezes menor o vírus da zika.
Tais experiências e equipamentos inovadores serão apresentadas na conferência E-vigilância, em novembro, no Cefet do Maracanã. A liberação dos mosquitos com a bactéria Wolbachia, aliás, faz parte do World Mosquito Program (WMP), iniciativa que já contempla 33 bairros de Niterói e 29 do Rio, além de 12 países. Os mosquitos são criados no insetário da Fiocruz e soltos na natureza. Segundo os pesquisadores, o Wolbachia tem a capacidade de fazer com que o inseto não transmita as arboviroses. Depois de liberados, os mosquitos se reproduzem com os já existentes e geram o Aedes aegypti com as mesmas características, que não provocam doenças.
Segundo o líder do WMP no Brasil, Luciano Moreira, o método utilizado é seguro para as pessoas e para o ambiente. "Não há risco de interferência desse trabalho em outras pesquisas e ações que visam o controle dos mosquitos e de doenças transmitidas por eles. Objetivo é proteger as comunidades dos municípios das arboviroses", afirma. As liberações começaram em 2014, nos bairros de Jurujuba, em Niterói, e Tubiacanga, no Rio. Houve novas liberações em 2016 e estima-se que mais de 90% da população de Aedes aegypti continue apresentando a bactéria.
No Cefet de Nova Iguaçu, nove alunos criaram um sistema que processa imagens aéreas de drones. Com a invenção, horas de gravação não precisam mais ser meticulosamente analisadas em busca de focos. O programa analisa sozinho os vídeos e seleciona os locais de risco sobrevoados para posterior confirmação. Em 2018, o projeto foi finalista no Student Design Competition, torneio de Engenharia Elétrica, e aprimorado para futuro uso prático comercial.
"Aplicamos técnicas de inteligência artificial que detectam padrões. Temos uma base com muitos vídeos de pneus, caixas d'água, piscinas abandonadas. Usamos as imagens para mostrar ao algoritmo o que é um padrão de pneu, por exemplo. Nas imagens novas, ele já sabe o que é um pneu e marca um quadrado vermelho", explica Gabriel Matos Araújo, professor de Engenharia de Controle e Automação no Cefet.
Tecnologia da Fiocruz pode ser usada em epidemias
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, de 1º de janeiro a 17 de setembro, comparando 2018 com 2019, o número de casos de chikungunya cresceu de 35.538 para 80.403 (alta de 126%); e os registros de dengue foram de 13.185 para 31.253 (aumento de 137%). Só a zika diminuiu, de 2.263 ocorrências para 1.518 (queda de 33%). Para Flávio Codeço, da FGV, a expectativa é de epidemias de dengue e chikungunya no próximo verão. Evitar água parada, limpar o entorno do domicílio e uso de repelente são medidas de prevenção.