Ágatha Félix, de 8 anos, foi morta em setembro de 2019, no Complexo do Alemão - Arquivo Pessoal
Ágatha Félix, de 8 anos, foi morta em setembro de 2019, no Complexo do AlemãoArquivo Pessoal
Por O Dia
Rio - A Polícia Civil informou neste sábado que vai realizar a reprodução simulada do assassinato da pequena Agatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. A criança foi baleada nas costas quando estava dentro de uma kombi. De acordo com testemunhas, Agatha estava com a família, quando policiais militares da UPP Fazendinha atiraram contra uma moto na região, atingindo a menina. O caso aconteceu por volta das 21h30 desta sexta-feira. 
A menina foi socorrida no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. Ela morreu na madrugada deste sábado, após ser levada ao centro cirúrgico da unidade. O corpo de Agatha foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) e ainda não há informações sobre a data e local de enterro dela.
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A polícia ouviu alguns parentes da menina. O objetivo é que a família e testemunhas estejam presentes na simulação, que deve acontecer durante esta semana. A Polícia Civil pede que testemunhas do crime procurem a delegacia para ajudar com esclarecimentos e informações.
DEFENSORIA E OAB SE POSICIONAM
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A Defensoria Pública se solidarizou, em nota, com a morte de Agatha Félix e com a do policial Leonardo Oliveira dos Santos, atingido dentro de uma viatura em Niterói. O órgão se colocou à disposição dos familiares de Ágatha - e de todo cidadão fluminense - para auxiliá-los juridicamente.
"A defesa do direito à vida é um dos princípios basilares da nossa instituição. Por esta razão, acreditamos em uma política de segurança cidadã, que respeite os moradores das favelas e de qualquer outro lugar. A opção pelo confronto tem se mostrado ineficaz: a despeito do número recorde de 1.249 mortos em ações envolvendo agentes do estado apenas este ano, a sensação de insegurança permanece. No caso das favelas, ela se agrava", diz a nota.
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A Ordem dos Advogados do Brasil também se pronunciou e se colocou à disposição da família. "A Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado do Rio de Janeiro, lamenta profundamente a morte da menina Ágatha Vitória, de oito anos, no Complexo do Alemão, na noite de sexta-feira. A morte de Ágatha vem se somar à estatística de 1.249 pessoas mortas pela polícia nos oito primeiros meses do ano. 

A OABRJ lamenta profundamente que a média de cinco mortos por dia pela polícia seja encarada com normalidade pelo Executivo estadual e por parte da população. A normalização da barbárie é sintoma de uma sociedade doente. A OABRJ lamenta profundamente que horas antes da morte de Ágatha o governador tenha dito, conforme relatou a imprensa, que promoveria um 'combate e caça nas comunidades'.

As mortes de inocentes, moradores de comunidades, não podem continuar a ser tratadas pelo governo do Estado como danos colaterais aceitáveis. A morte de Ágatha evidencia mais uma vez que as principais vítimas dessa política de segurança pública, sem inteligência e baseada no confronto, são pessoas negras, pobres e mais desassistidas pelo Poder Público.

A defesa do direito à vida é o princípio mais básico do ser humano e deveria ser o norte de qualquer governo civilizado. Uma política de segurança pública sem planejamento de inteligência atenta contra a integridade da população, e da própria polícia, e afronta os parâmetros básicos de civilidade.

Por meio de sua Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária, a OABRJ está à disposição da família de Ágatha e de familiares de outras vítimas da violência do Estado".