A idosa S.B.A, 76 anos, perdeu R$ 40 mil em joias para as videntes. Após perceber o golpe, tentou reaver seus pertences com um revólver e foi presa e não recuperou objetos - Gilvan de Souza/Agência O Dia
A idosa S.B.A, 76 anos, perdeu R$ 40 mil em joias para as videntes. Após perceber o golpe, tentou reaver seus pertences com um revólver e foi presa e não recuperou objetosGilvan de Souza/Agência O Dia
Por Bruna Fantti

Rio - As videntes que foram denunciadas por estelionato e associação criminosa, semana passada, após investigação da 19ª DP (Tijuca), já atuam há pelo menos 12 anos na cidade do Rio praticando o mesmo golpe. É o que aponta levantamento realizado pelo DIA no Tribunal de Justiça. Inclusive, em 2009, uma das estelionatárias chegou a ser mencionada na capa do jornal 'Meia Hora', com a manchete "Polícia caça vidente 171 da Tijuca: cigana de araque tomou R$ 25 mil de velhinhos".

Conforme O DIA noticiou, a polícia concluiu que um grupo de mulheres de um centro místico na Rua Pereira Nunes aplicou golpes que atingiram a cifra de R$ 300 mil. Os alvos eram principalmente idosos, que tiveram as economias de uma vida inteira esvaziadas. Seja por convencimento pela promessa de cura de um parente, ou por coação, as vítimas repassavam todo o dinheiro e joias. Até o momento, já são rés Maria Cristina do Nascimento, Inaiara Lúcia Farias Gonçalves e Merian Greco Petrovich.

"Estamos investigando outros integrantes do mesmo grupo e, em breve, teremos novas denúncias", afirmou a delegada Cristiana Bento, que conduziu o inquérito. Ela chegou a pedir a prisão das três acusadas. O Ministério Público, porém, opinou a favor, mas o Tribunal de Justiça indeferiu. "É muito difícil conseguir prisão por estelionato", lamentou a delegada.

capa cigana - reprodução

Condenação

Em 2018, o desembargador João Ziraldo Maia manteve a condenação de Merian Petrovich após ela convencer uma idosa a sacar o total de R$ 250 mil, crime ocorrido em 2012. Segundo o desembargador, com ajuda de Maria Cristina Nascimento, ela disse que iria "limpar o dinheiro da vítima e depois devolver (o que nunca ocorreu), aproveitando-se da boa-fé e crença religiosa da mesma". A vítima foi uma idosa de 76 anos.

Merian foi condenada a um ano e meio de prisão em regime aberto, pena convertida em prestação de serviços. Para o golpe, ela se identificou como Mãe Lalita, enquanto Maria Cristina era a Mãe Samira. Neste caso, a acusação contra Maria Cristina prescreveu. O dinheiro nunca foi recuperado.

A primeira denúncia de estelionato contendo o nome de Merian Petrovich, atuando como mãe Lalita, data de 2007. A vítima a acusou de ter perdido R$ 10 mil em troca de seus trabalhos. O processo foi suspenso após acordo entre as partes. Há também um Registro de Ocorrência com o nome de Merian, na 19ª DP (Tijuca), de 2008, com a queixa de um suposto golpe no valor de R$ 23 mil em outra idosa, de 80 anos.

Merian chegou a telefonar para a redação do DIA e afirmar que não era estelionatária. As outras rés não foram encontradas, pois o centro mediúnico na Rua Pereira Nunes foi fechado.

Na semana passada, outros três golpes foram denunciados envolvendo o nome de Maria Cristina Nascimento. Um deles é o de uma idosa de 73 anos, que perdeu R$ 237 mil. Nele, Inaiara Lúcia, também denunciada, chegou a dizer "vá embora e não olhe para trás", após sair da agência bancária com o comprovante de transferência. "Estava com medo, mas me senti hipnotizada. Não lembro de nada", afirmou a vítima.

Em outro, um rapaz de 30 anos, que tentava reconquistar uma pessoa, perdeu R$ 2,7 mil. O terceiro é de uma idosa de 76 anos que, ao perder todas as joias para as videntes que prometiam curar o neto, tentou reaver seus pertences com o uso de um revólver. De vítima passou a ser ré, sendo presa acusada de sequestro. Atualmente, ela responde em liberdade.

'Se contasse, muita gente iria morrer', relatou vítima

Um dos casos que mais chamou a atenção dos investigadores envolve Maria Cristina do Nascimento e Merian Greco Petrovich. Em um período de cinco meses, elas chantagearam uma idosa de 77 anos, alegando que uma entidade dizia que seu filho seria morto caso ela não cedesse dinheiro. No total, as acusadas conseguiram retirar R$ 168 mil reais da vítima.
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Em depoimento à polícia, obtido no Tribunal de Justiça, consta que a vítima descobriu o golpe após a filha perceber que seu saldo bancário estava zerado. "A comunicante (filha) procurou saber através de sua mãe os motivos que a levaram ao pedido de empréstimo e da transferência de todo seu saldo bancário, recebendo como resposta 'que, no momento, não poderia dizer o motivo' e 'um dia vocês vão entender, pelo amor de Deus, não insistam porque eu não posso falar nada'".
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Após insistência da filha, a idosa contou que foi abordada por uma vidente, que lhe deu um recado: "Foi feito um mal para o seu filho". A vidente seria Maria Cristina Nascimento, que a levou até Merian Petrovich. Merian, por sua vez, indagou a idade do filho da idosa. A vítima respondeu "52". Simulando estar com uma entidade em seu corpo, Merian disse que, então, precisava de R$ 5,2 mil para "desfazer o mal".
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A idosa transferiu o valor para a conta das videntes. Nos meses seguintes, outros saques foram feitos sob coação. "Elas falavam que se eu contasse a alguém, muita gente iria morrer", disse a vítima, em depoimento. A pena para estelionato é de 1 a 5 anos de reclusão.
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