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O abandono da Linha 3 do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que ligaria a Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont, pela Avenida Marechal Floriano, no Centro do Rio, já completou nove meses. A estagnação do projeto, cuja obra foi concluída no dia 15 de dezembro e só não foi inaugurada ainda por falta de autorização da prefeitura, prejudica passageiros e comerciantes, além de colocar em risco o futuro do transporte.

Enquanto isso, o VLT acumula prejuízos que ultrapassam R$ 80 mil relativos a furtos de equipamentos no trecho sem utilização. Quarenta mil pessoas deixam de ser transportadas por dia, e os comerciantes estimam que cerca de 50 lojas fecharam na Marechal Floriano desde o início das obras da Linha 3.

Depois que o impasse foi denunciado pelo jornal O DIA, em janeiro, a Prefeitura do Rio prometeu regularizar uma dívida com a concessionária e inaugurar o trecho até fevereiro. De acordo com o Consórcio VLT Carioca, os pagamentos atrasados, relacionados ao retorno do investimento feito durante as obras, previsto em contrato, já ultrapassam os R$ 160 milhões. Em maio, a empresa pediu autorização para inaugurar a Linha 3 antes mesmo da regularização, mas a prefeitura decidiu não liberar a operação enquanto não renegociar o contrato. Desde julho, a empresa tenta entregar a concessão na Justiça.

Ao longo da Avenida Marechal Floriano, onde duas das três novas estações foram construídas, o cenário é de degradação. Os vidros das estações estão pichados e há casos registrados de furtos de cabos e de controladores de sinalização semafórica. Com o movimento de público sufocado pela suspensão do tráfego de ônibus e carros na via, os lojistas amargam prejuízos, agravados pelo descontrole do comércio informal.

A cozinheira Elizabete Menezes, de 41 anos, que poderia usar o VLT da Central até a Marechal Floriano, faz o percurso a pé e lamenta o desperdício de dinheiro com a obra. "É um absurdo, porque o VLT seria uma facilidade para quem vem trabalhar e passear. Para a pessoa se locomover lá da Central, tem que vir andando ou pagar uma passagem e parar em um ponto lá embaixo. As estações construídas agora só servem de assento para descansar e de abrigo para moradores de rua, que dormem aqui quando chove", disse.

"Acho essa linha parada uma pouca vergonha dos órgãos competentes. É dinheiro gasto. Se não tem uso, está enferrujando, bate sol e chuva. Virou uma coisa inerte", emendou o zelador André Castilho, de 26 anos.

Testes frequentes

O investimento total para a implantação do VLT foi de R$ 1,157 bilhão, sendo que R$ 532 milhões são recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade. Outros R$ 625 milhões foram viabilizados por meio de Parceria Público-Privada, sistema em que a iniciativa privada investe e é ressarcida com a receita tarifária e contrapartida da prefeitura ao longo da concessão de 25 anos. A remuneração pela obra estabelecida no contrato, de 2013, era de R$ 5,9 milhões por mês, sujeitos a atualizações e pagos desde o início da operação. A parcela já gira em torno de R$ 9 milhões.

Em nota, o VLT Carioca ressaltou que "ainda aguarda autorização da Prefeitura do Rio para colocar em operação a Linha 3" e que continua "realizando testes frequentes para garantir a circulação assim que houver a liberação". A concessionária acrescentou que "ainda aguarda a regularização dos pagamentos relativos ao retorno do investimento realizado durante as obras". De acordo com a empresa, os atrasos começaram em maio de 2018. Procurada, a Prefeitura do Rio não deu esclarecimentos e nem previsão para resolver o impasse.

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