“Foi aplicada sanção disciplinar, transferindo o preso, preventivamente, para a penitenciária de segurança máxima Laércio da Costa Pelegrino (Bangu 1)”, disse a Seap, em nota. A Seap não informou por quanto tempo PQD ficará no isolamento.
A foto foi publicada por O DIA ontem, e mostra uma selfie do criminoso, usando barba, outra irregularidade. Ele estaria participando de uma chamada de vídeo de dentro da penitenciária, onde cumpre pena por tráfico de drogas, desde 2007.
A Polícia Civil tem informações de que o objetivo do contato seria a retomada do controle do tráfico do Morro do Dendê, na Ilha do Governador, uma das comunidades do Rio que concentra grande número de fuzis nas mãos do tráfico: 200 fuzis, de acordo com levantamento da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos.
Segundo o mesmo levantamento, a cidade do Rio possui cerca de 3.500 fuzis em suas favelas. Ontem, uma indicação legislativa foi encaminhada para apreciação do governador Wilson Witzel. O texto propõe criar um programa de incentivo à apreensão de fuzis e metralhadoras pelos policiais do estado, por meio do pagamento de mais de R$ 15,4 mil por armamento apreendido.
Caso a medida seja colocada em prática, e todos os fuzis fossem apreendidos, o estado teria que desembolsar cerca de R$ 54 milhões para os pagamentos. Com esse valor seria possível pagar o salário de um mês dos funcionários da Faetec (R$ 41 milhões), dos 3.723 servidores da Fundação Saúde (R$ 11 milhões) e ainda sobrariam cerca de R$ 2 milhões.
Para Isabel Figueiredo, advogada, membro do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a bonificação é superior à média do salário de um policial. “Isso não me parece razoável”, afirmou. “O Rio, a essa altura campeonato, precisaria de uma política um pouco mais consistente, mais global para o combate às armas”, completou.
Armas de alto poder bélico
A indicação legislativa é de autoria do deputado Rosenverg Reis (MDB), que quer criar o Programa de Incentivo à Apreensão de Armamentos de Alto Poder Bélico. A indicação consiste na gratificação financeira ao policial (civil ou militar) que apreender fuzil ou metralhadora em bom estado de funcionamento. A ocorrência deverá ser devidamente registrada em delegacia.
O pagamento da gratificação por fuzis apreendidos, proposta pela Alerj, será feito no mês seguinte à apreensão, independentemente de conclusão de inquérito policial. Caso o trabalho seja executado por uma equipe de policiais, a gratificação será divida entre os agentes. O deputado Rosenverg Reis (MDB), autor da proposta, explicou que a ideia foi inspirada no programa ‘Desarme o Bandido’, do Disque-Denúncia, implementado no início dos anos 2000 no Rio de Janeiro.
“A imagem do estado vem sendo sistematicamente associada ao grande poder bélico de bandidos e traficantes, causando medo, insegurança, balas perdidas e vítimas fatais. Apesar de constar das obrigações dos policiais, um incentivo aumenta as possibilidades de sucesso desse tipo de operação”, justificou o parlamentar.
Incentivo à corrupção
Para a advogada Isabel Figueiredo, a corrupção policial é outro fator que deveria ser levado em conta na ideia da gratificação. “Muitas vezes há pessoas do estado envolvidas com o tráfico de armas. Então, até que ponto essa arma apreendida não foi colocada no local por um agente? Além disso, o incentivo deveria ser para toda e qualquer apreensão de arma de fogo. Ainda que o problema seja o fuzil, o crime comum é praticado com pistolas, revólveres. Também há a necessidade de um mecanismo de transparência para essas apreensões”, analisou.
A mesma conclusão fez a socióloga Silvia Ramos, do Observatório de Segurança. “O texto tem tudo para estimular o aumento da violência e da corrupção entre agentes. Temos no Rio a triste memória da gratificação por bravura. Foi o período em que as taxas de violência explodiram. Hoje é possível prever que uma lei nesse sentido vai estimular a negociação de policiais com armas do crime, para conseguirem o valor com cada uma”, afirmou, lembrando que, em Pernambuco, gratificação semelhante fez os índices criminais aumentarem.