PF faz operação para prender 14 servidores suspeitos de fraudes na Receita Federal
Suspeito são auditores-fiscais e analistas tributários investigados por praticarem extorsão contra delatores da Lava Jato
Por O Dia*
Rio - A Polícia Federal faz, desde as primeiras horas da manhã desta quarta-feira, uma operação para cumprir 14 mandados de prisão contra uma quadrilha que atua na Receita Federal. Os alvos da Operação Armadeira, como foi batizada, são auditores-fiscais e analistas tributários e pessoas próximas a eles suspeitas de fraudes envolvendo a Receita.
São nove mandados de prisão preventiva, cinco de prisão temporária e outros 39 de busca e apreensão. Todos eles foram expedidos pela 7ª Vara da Justiça Federal do Rio, do juiz Marcelo Bretas.
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Até o momento, 12 pessoas foram presas, dentre elas Marco Aurelio Canal, apontado como chefe do esquema. O auditor fiscal é supervisor de programação da Receita Federal na Lava Jato e suspeito de cobrar propina em troca da anulação e cancelamento de multas por sonegação fiscal.
Os outros alvos da operação:
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. Marcial Pereira de Souza (prisão preventiva)
. Rildo Alves da Silva (prisão preventiva)
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. Mônica da Costa Monteiro Souza (prisão preventiva)
As cobranças feitas por Marcial foram realizadas em troca de suposto tratamento diferenciado na autuação fiscal da vítima. A partir daí, o MPF, a PF e a Corregedoria da Receita Federal acompanharam as reuniões entre os investigados e iniciaram a apuração dos fatos.
Dentre as provas coletadas na fase de inquérito estão gravações ambientais, filmagens de reuniões e o comprovante bancário do pagamento de parte da propina, feito pela vítima para conta em nome de Marcial e sua mulher Mônica da Costa Monteiro, em banco em Portugal. O pagamento foi autorizado pela 7ª Vara Criminal Federal através de uma ação controlada.
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Durante a investigação, uma nova colaboração premiada permitiu identificar Marco Aurélio Canal, que cobrou R$ 4 milhões para evitar a lavratura de auto de infração contra a Fetranspor (Federação das Empresas de Transporte do Rio de Janeiro). De acordo com o colaborador, ex-executivo da instituição, o pagamento da vantagem indevida foi intermediado pelo ex-servidor da Receita Federal e contador da empresa Evanil Elizeu Marinho.
Além dos atos de corrupção, foi identificada extensa rede de lavagem de dinheiro criada para ocultar a cobrança ilegal dos valores.
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Ainda segundo MPF, Canal é detentor de cargo com acesso a informações sensíveis e relevantes sobre investigações da Lava Jato. Ele também detém conhecimento amplo de como funcionam os órgãos de controle do Estado, ocupando relevante papel na organização criminosa.
CITAÇÃO NO STF
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Canal foi citado pelo ministro do STF Gilmar Mendes em junho como o responsável por elaborar dossiê com seus dados e de sua mulher, Guiomar Feitosa. Em fevereiro, o Fisco havia dito que não foi realizado nenhum processo de fiscalização contra o ministro e que "investigação preliminar" não encontrou prova de fraudes.
"Eu sei que houve abuso por parte da Receita, e a Receita sabe que houve abuso nesse caso. Mas, tenho curiosidade de saber quem mandou a Receita fazer (a investigação). O que se sabe é que quem coordenou essa operação é um sujeito de nome Marco Aurélio da Silva Canal, que é chefe de programação da Lava Jato do Rio de Janeiro. Portanto, isso explica um pouco esse tipo de operação e o baixo nível", disse Gilmar Mendes na ocasião.
À época, o grupo criminoso já era investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro. Segundo a Corregedoria da Receita Federal, que integrou a força-tarefa neste caso, as apurações ocorriam desde novembro do ano passado.
Canal ingressou na Receita Federal em 5 de janeiro de 1995 por concurso público e recebe cerca de R$ 21 mil por mês, segundo dados do Portal da Transparência. Até o fechamento dessa matéria, a reportagem não havia obtido o posicionamento do auditor fiscal.