Rio - O resultado preliminar das eleições para Conselho Tutelar no município do Rio, divulgado ontem, revela que os principais vencedores na cidade foram os candidatos ligados ao PSOL, ao PT e à Igreja Universal do Reino de Deus. Com 4639 votos, Patrícia Félix, de 48 anos, coordenadora estadual do Emancipa no Rio, movimento social de educação popular, foi a conselheira tutelar eleita com o maior número de votos do Rio de Janeiro, do Brasil e da história das eleições dos Conselhos Tutelares.
Filiada ao PSOL em abril deste ano, Patrícia - que é assistente social, advogada, negra, de origem da favela da Vila Vintém - disse que não teve o apoio por meio de campanhas do partido. Ela também garante não ter pretensão políticas para a próxima eleição: "O resultado da votação é uma resposta da população ao conservadorismo e o que estamos vendo nos governos municipal, estadual e federal", avalia a nova conselheira.
Patrícia é assessora do deputado federal David Miranda (PSOL). O deputado também nega o uso do partido para a candidata: "A Patrícia é educadora de base. Tem uma ONG na Vila Vintém, um trabalho no Degase. Não houve aparelhamento partidário. Foi uma reação da sociedade".
Ligada ao Partido dos Trabalhadores, Janaína Palmares teve a segunda maior votação no conselho da Grande Tijuca e Vila Isabel, com 1.171 votos. Reimont Otoni (PT) também afirma que o partido não fez campanha para Janaína. "A eleição para os Conselhos Tutelares veta a participação política partidária, mas não impede que nossos militantes se inscrevam para concorrer", explicou o vereador. Para Reimont, o resultado também é uma resposta da sociedade: "Esse resultado representa que a sociedade entendeu que a esquerda não é esse bicho que o fascismo apresentou".
De acordo com levantamento de candidatos não eleitos e eleitos, o Rio tem 19 conselhos, cada um deles com cinco membros, totalizando 95 conselheiros, além de 95 suplentes. Deste total, 27 dos eleitos são ligados à Universal. Há denúncias de que pastores pediram votos para os conselheiros ligados à Universal durante os cultos com fotos dos candidatos em telões. A Universal não respondeu aos questionamentos.
Segundo o coordenador da Comissão Eleitoral do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Carlos Roberto Laudelino, não há uma proibição por lei de igrejas fazerem campanhas para os conselheiros, mas há uma recomendação ética de que isso não ocorra. No município do Rio foram às urnas 107.841 eleitores no último domingo, mais do que o dobro do verificado na última eleição, em 2015, quando 48.765 pessoas votaram.
O processo de escolha para conselheiros tutelares no Rio ocorreu por meio de muitas denúncias. Cerca de 300 chegaram ao CMDCA, entre elas, troca de voto por churrasco, open bar - consumo de bebidas livre e gratuito - e até pela quantia de R$ 30. Foram apresentadas sete impugnações de candidaturas. O resultado oficial da eleição dos 190 conselheiros tutelares eleitos será divulgado amanhã. Os novos conselheiros vão tomar posse em 10 de janeiro de 2020.