Alunos da Escola Especial, localizada em Quintino, caem na folia com a porta-bandeira da Beija-Flor. As aulas e batuques com eterna musa de Nilópolis começaram em setembro - Fotos de Gilvan de Souza
Alunos da Escola Especial, localizada em Quintino, caem na folia com a porta-bandeira da Beija-Flor. As aulas e batuques com eterna musa de Nilópolis começaram em setembroFotos de Gilvan de Souza
Por Waleska Borges
Rio - É só a porta-bandeira da Beija-Flor, Selminha Sorriso, de 49 anos, chegar com o seu sorriso largo para a folia começar. De um lado, os alunos, jovens com deficiência intelectual da Escola Especial Favo de Mel, da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), em Quintino, na Zona Norte. Do outro, a professora e eterna musa de Nilópolis. E todo mundo junto e misturado com muita alegria, entusiasmo e samba no pé. Desde setembro, uma vez na semana, Selminha Sorriso dá aulas de samba e de mestre-sala e porta-bandeira na unidade.
"A arte é alegria. E o samba transforma as vidas das pessoas. É mágico. Cada aula, é uma alegria gratificante. Fico querendo voltar logo", contou Selminha, lembrando ainda que o Carnaval gera empregos, além de nivelar todas as classes: "O samba é tudo o que eu tenho e tudo que aprendi e conquistei na minha história de vida. Não existe preconceito", reforçou a porta-bandeira.
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Reboladas
Com um bater de palmas e a entoação de: "Pediu para parar, parou", Selminha tem o poder de controlar os ânimos dos inquietos pupilos. E ela logo avisa para os incrédulos: "qualquer pessoa pode aprender a sambar". Mas, para os alunos, não há dificuldade que os impeça de cantarolar os sambas, fazer batucadas e de requebrar. Entre eles, está Débora de Souza, de 28, que sonha em ser passista. "Vejo os desfiles das escolas pela televisão. Acho muito legal, mas meu pai, irmão e namorado têm ciúmes de mim. Não posso usar essas roupas das passistas", disse Débora, entre uma rebolada e outra.
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Também quem gostaria de ser passista é Tiago Aníbal, de 38 anos, outro aluno da Favo de Mel. "Eu já fui no Centro da cidade ver os carros do Carnaval. É muito bonito. A Selminha vai ensinar tudo pra gente", comentou empolgado Tiago, que vai para as aulas acompanhado da mãe Maria de Fátima Guimarães, de 62. "Ele está encantado, maravilhado com as aulas. Só tenho elogios para a Selminha, porque ela está fazendo muito bem para eles", disse a mãe de Tiago.
Escola de Samba
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A ideia das aulas para os alunos da Favo de Mel partiu da porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis, que é servidora do Estado - pelo Corpo de Bombeiros - e está cedida à Faetec. De acordo com a sambista, além de cair no samba, os 141 alunos da instituição vão ensaiar para fazer bonito no Carnaval. A intenção é criar uma Escola de Samba da Favo de Mel com os jovens especiais. Eles vão desfilar pelo campus da Faetec durante os dias da folia.
Quem aderiu à ideia da Escola de Samba da Favo de Mel foi o figurinista Gebran Smera, ganhador do Estandarte de Ouro para Comissão de frente pela Portela."O resultado que você vê é esse. Eles cantam, dançam e alguns, até sensualizam. Participam da vida normalmente", observou o figurinista.
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Para o presidente da Faetec, Romulo Massacesi, a proposta das aulas garante reconhecimento e alegria. "O Carnaval representa muito para mim, pois também sou compositor de samba. Esta é a maior festa do mundo. Teremos uma grande oportunidade de incluir esses alunos no evento", avaliou Massacesi, informando que vai escrever um samba-enredo especial para o Carnaval da Favo de Mel.

Autonomia para o mercado de trabalho

Dedicada exclusivamente a pessoas com deficiência intelectual, entre 18 e 60 anos, a Favo de Mel completa, este mês, 23 anos de funcionamento. Voltada para a formação profissional e a inclusão, segundo a diretora-geral Márcia Macedo, além de inserir os alunos no mercado de trabalho, a unidade trabalha para promover a dignidade e autonomia dos jovens.
Márcia lista os cursos à disposição: cumim (auxiliar de garçom), auxiliar de cozinha, auxiliar de serviços gerais, contínuo e auxiliar de escritório. De acordo com Ana Cristina de Carvalho, psicóloga que atua no Núcleo de Inclusão Laboral da Favo, é feito um plano de transição para que aluno possa fazer a ponte entre escola e trabalho. "Quando a gente reconhece que esse aluno já está com potencial para entrar no mercado de trabalho, ele é indicado ao Núcleo de Inclusão Laboral".
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Atualmente, no trabalho formal, a unidade tem 37 alunos empregados. No trabalho informal e Jovem Aprendiz, há cerca de 70. "A maior dificuldade é o estereótipo que eles carregam. No início, as pessoas não dão credibilidade à eficiência deles, e acabam infantilizando as situações. Depois, percebem que eles atendem bem a uma série de habilidades", reforçou Márcia. Conforme a diretora, 25% dos alunos estão no mercado de trabalho, mas há mais capacitados."Eles são ótimos trabalhadores e nunca houve um caso de demissão", garantiu.