O fotógrafo André Luis da Silva mostra a coloração da água retirada de um poço artesiano no Camarista Méier - André Luiz Bezerra / Divulgação
O fotógrafo André Luis da Silva mostra a coloração da água retirada de um poço artesiano no Camarista MéierAndré Luiz Bezerra / Divulgação
Por RENAN SCHUINDT
Rio - "Como é que vamos lavar as mãos com uma água que já está contaminada?" Essa é a pergunta do morador do Camarista Méier, André Luis da Silva. Um laudo encomendado pela Associação de Moradores, aponta que a mina que abastece a região, de maneira irregular, porém, única forma que os moradores têm de abastecimento, apresenta pela segunda vez consecutiva uma grande quantidade de coliformes fecais e nitrogênio amoniacal, o que segundo estudos, pode ser prejudicial à saúde humana em caso de consumo. Longe dali, os moradores de São João de Meriti, município da Baixada Fluminense fazem outro questionamento: como fazer a higienização sem uma gota de água na torneira? 
Poço no Camarista Méier é o local onde crianças e adultos tomam banho - André Luiz Bezerra / Divulgação


Apontada por especialistas como a parcela da população que mais vai sofrer com a proliferação da covid-19, os moradores das favelas começam a viver um drama na tentativa de evitar o contágio. É no Bicão do Ouro Preto que André Luis capta água para utilizar diariamente nos afazeres domésticos. Banho, comida, lavagem de roupa, tudo é feito com a água barrenta que vem do poço. Assim como ele, outras 3,5 mil pessoas dependem da água barrenta para sobreviver. Ali vivem pelo menos 110 famílias, em barracos e casas sem qualquer tipo de saneamento.
Condições de saneamento no Camarista Méier são precárias - André Luiz Bezerra


O problema não é nenhuma novidade para o poder público. E apesar de diversas denúncias feitas pelo O DIA, a solução parece algo distante. "Fica complicado. Estamos em uma sinuca de bico. Não sabemos se adianta ou não tomar os cuidados nessas circunstâncias", reclama André.

Presidente da Associação de Moradores, Rafael Nazareth, diz que apenas uma parte da favela recebe água limpa. “A Cedae regularizou o abastecimento na parte baixa do morro, mas não sabemos até quando. Já na parte alta, onde dependemos da água do Bicão, ainda não houve ação. A comunidade está bastante preocupada. Não tivemos nenhuma visita dos órgãos públicos para conscientizar a população sobre a prevenção ao coronavírus. Nós é que estamos tentando passar as informações por aqui”, diz o representante.
ORIENTAÇÕES SÃO INTENSIFICADAS
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Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde, as unidades de Atenção Primária intensificaram as orientações para a população atendida nas favelas, com o objetivo de tentar conter a transmissão do coronavírus. De acordo com a pasta, as equipes orientam para que as pessoas evitem sair de casa, se possível, e detalham a correta higienização pessoal e do ambiente. Outro ponto recomendado pela secretaria é a destinação de um local da casa para o familiar com suspeita de coronavírus. Se houver apenas um cômodo, a orientação é que pessoas infectadas mantenham pelo menos um metro de distância dos demais moradores.

FALTA D’ÁGUA NA BAIXADA

Enquanto o Camarista é abastecido com água suja, quem vive em São João de Meriti, reclama que a água sequer chega às torneiras. “Inúmeros casos de coronavírus e a gente não tem água para lavar as mãos. Não adianta nada as autoridades passarem informações e não darem as condições para que a gente se defenda”, reclamou a moradora da Rua Indiana, Ivone Silva. Nas redes sociais, moradores das ruas Cobalto e Cristal, também relataram o mesmo problema.

O QUE DIZ A CEDAE?

Em nota, a Cedae informou que o Camarista Méier é abastecida por rede da companhia e que, inclusive, “já efetuou a ampliação da capacidade da elevatória, aumentando a oferta de água de 8 para 11 litros por segundo”. Sobre a falta de abastecimento no alto do morro,a Cedae disse que a localidade do Bicão “encontra-se em cota elevada, acima de 100 metros, e sofre com a ocupação desordenada e irregular, e não cabe à companhia fiscalizar e/ou controlar construções em áreas irregulares”, E ressaltou a importância de informar que “qualquer construção deve ser precedida de consulta à Cedae para verificar se o terreno é atendido por rede de água e esgoto, requerendo a DPA e DPE (Disponibilidade de Abastecimento de Água e Disponibilidade de Esgotamento Sanitário)”.

Já em relação à falta de água em São João de meriti, a cedae informou que técnicos irão aos endereços informados na manhã desta quinta-feira (19/03).