Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta - Marcos Corrêa/PR
Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique MandettaMarcos Corrêa/PR
Por O Dia
O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, revelou, em entrevista coletiva realizada ontem, que vai liberar 3,4 milhões de unidades da cloroquina a partir de sexta-feira. O medicamento será utilizado para avaliação em pacientes que estão em estado grave do novo coronavírus, doença que já matou 57 pessoas no Brasil.

"O que o Ministério da Saúde está fazendo é deixar no arsenal, deixar à mão do profissional médico. Se ele entender que o paciente grave pode se beneficiar, o que vamos fazer é deixar esse remédio ao alcance dele", disse o Ministro da Saúde.

Mandetta chegou a classificar como "precipitada" a adoção da quarentena pelos estados, e disse que se ela for adotada sem prazo para terminar, pode se tornar uma "parede" para as necessidades das pessoas.

"Temos que melhorar esse negócio de quarentena. Foi precipitado. Foi cedo. Ficou uma situação do tipo: 'Entramos e agora como é que saímos?'", afirmou. O ministro também disse que qualquer medida nesse sentido deve ser tomada em diálogo entre governadores e governo federal. Também falou que a letalidade irá diminuir por causa de testes que o governo vai comprar.

Mandetta reforçou o pedido para que a população brasileira faça um bom uso do sistema de saúde. O Ministro da Saúde ainda destacou que sua prioridade é combater o vírus. "Nós não vamos mudar um milímetro do nosso foco na vida", revelou o Mandetta.

Por fim, o Ministro da Saúde foi questionado sobre uma possível demissão, já que o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro foi na contramão de suas recomendações. Mandetta contou que só deixa o cargo pelos seguintes motivos: "Eu só saio daqui na hora que o presidente quiser, quando eu estiver doente, ou quando eu achar que esse período todo já tenha passado e que eu não possa ser mais útil. Vou trabalhar ao máximo nesse momento de crise, com critério técnico", afirmou.
Discurso

Os profissionais de saúde, por sua vez, protestaram contra o pronunciamento de terça-feira do presidente Jair Bolsonaro. Ao tentar tranquilizar a população para que seguisse a rotina mesmo com o aumento dos casos do novo coronavírus no Brasil, o presidente disse que "raros são os casos de pessoas sãs com menos de 40 anos de idade", e ainda comentou que "nada sentiria, quando muito seria acometido por uma gripezinha", por ter "histórico de atleta'.
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"As evidências científicas apontam, nesse momento, que é importante a manutenção dessas medidas restritivas para contingenciamento do número de casos, e para não expor a nossa população a um colapso da saúde pública" (Marco Aurelio Safadi, Sociedade Brasileira de Pediatria).

"Ele vai contra tudo que vem sendo falado pela ciência e pelos especialistas em termos de saúde. Ele chegou a ser desrespeitoso com a própria população" (Yeda Duarte, especialista em saúde pública)

"Eu achei de uma irresponsabilidade sem tamanho, porque contradiz absolutamente tudo que o Ministério da Saúde vinha fazendo até então" (Jamal Suleiman, infectologista)

"Para nós médicos, para nós pesquisadores e cientistas, isso contraria tudo que nós discutimos. O Brasil vem estando muito alinhado com as experiências dos países que nos antecederam nessa epidemia e com as grandes autoridades sanitárias do mundo" (Margareth Dalcolmo, infectologista)


Reportagem do estagiário Felipe Gavinho, sob supervisão de Waleska Borges