Em tempo de quarentena, a página Suburbano da Depressão reproduz falatório em trem da SuperVia para matar saudade de cariocas - Reprodução/Twitter
Em tempo de quarentena, a página Suburbano da Depressão reproduz falatório em trem da SuperVia para matar saudade de cariocasReprodução/Twitter
Por Gabriel Sobreira

Bom humor é marca registrada do povo do Rio. E em tempos de coronavírus não seria diferente. Há semanas confinados, os cariocas estão com tanta saudade de voltar às suas rotinas que já sentem falta até mesmo da música-tema do MetrôRio e daquele vozerio típico dos trens da SuperVia.

Não por acaso, desde a última sexta-feira, quando o metrô lançou a campanha 'Próxima estação... sua sala', com o objetivo de incentivar o isolamento social, o número de cliques/ouvintes na faixa da concessionária no Spotify saltou de 32 mil para 56 mil.

"Saudade do tempo que a minha preocupação era 'como vou entrar nesse vagão lotado?'", desabafou Helber Araújo no Twitter do MetrôRio. Outra usuária fez coro, mas deu um puxãozinho de orelha na concessionária, que iria reajustar a tarifa a partir de hoje - o aumento, contudo, foi cancelado. "Nunca pensei que fosse me emocionar. Te odeio, mas te amo (abaixa essa passagem logo)", pediu Karina Cabral na mesma plataforma.

Dona da voz oficial do MetrôRio, a cantora Zanna (@zannazanna no Instagram) tem um palpite para esse saudosismo do carioca. "A gente está vivendo uma situação tão sem precedentes e inesperada que começamos a dar valor à rotina, que poderia até ser chata. Sentimos falta em face do desconhecido, do que a gente não sabe o que vai acontecer", sugere.

Zanna conta que esse sentimento também trouxe reflexo nas plataformas pessoais dela própria. Só no Instagram, ela ganhou 300 seguidores nos últimos três dias, sem contar na música 'Menina de Vento', que pulou de 12 mil ouvintes para 28 mil no Spotify.

Já o historiador e colunista de O DIA Vitor Almeida, responsável pela página Suburbano da Depressão, nem imaginava que viveríamos em isolamento quando, mês passado, gravou um áudio de pouco mais de um minuto com o falatório de dentro de um trem do ramal Santa Cruz. Na gravação, um vende biscoito a R$ 1, outro bala, iogurte, cerveja, refrigerante, água e por aí vai. Tudo em meio a conversas indistintas.

Assim que viu o vídeo do MetrôRio com o áudio da Zanna, Almeida lembrou imediatamente da gravação que havia feito. Ao publicar nas redes sociais, o arquivo logo viralizou. Mais de 30 mil pessoas já acessaram ao áudio no Facebook (@SuburbanoDaDepressao).

"Esses sons estão no nosso inconsciente coletivo. Acaba fazendo parte do dia a dia de quem pega trem, BRT, metrô. O brasileiro e, principalmente, o carioca é bem afetivo, precisa estar em contato com outras pessoas. No caso do transporte público, está em contato obrigado por ter que ir trabalhar, faz parte da rotina", defende Almeida.

Morador de Santa Cruz, Almeida lembra de um passado não muito distante. "Por muito tempo ia para o Centro para trabalhar, pegava o trem de manhã e marcava o lugar para os amigos. O transporte público é também um lugar de sociabilidade, uma forma de matar o tempo", acrescenta o colunista.

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