Vida dos artistas de um circo em Campo Grande, zona oeste da cidade Foto: Gilvan de Souza / Agencia O Dia. Circo,  artistas, publico, show, espetaculo, covid-19, covid, coronavirus - Gilvan de Souza
Vida dos artistas de um circo em Campo Grande, zona oeste da cidade Foto: Gilvan de Souza / Agencia O Dia. Circo, artistas, publico, show, espetaculo, covid-19, covid, coronavirusGilvan de Souza
Por Yuri Eiras

Rio - A gargalhada da criançada dá saudade. E os artistas sofrem com a incerteza de quando poderão fazer graça novamente. O decreto do governo para evitar aglomerações suspendeu os espetáculos artísticos, entre eles os circos do Rio. Pernas de pau, bolas, argolas e narizes de palhaço foram para o fundo do baú. As lonas estão recolhidas, e as famílias que dependem da bilheteria para ter renda vivem situação precária. Aglomerados em trailers, ônibus e carretas, eles pedem auxílio do governo e dos apaixonados pela 'mãe de todas as artes'.

O Circo Real Madri estava montado em Campo Grande, Zona Oeste, mas a atividade parou após o decreto estadual da suspensão de espetáculos. O terreno é particular e a família Robattini, que lidera o circo, precisa negociar semanalmente com o dono do local. Eles não têm para onde ir e também não sabem como vão pagar. "A nossa situação está precária como a de todo brasileiro. O problema é que nossa única fonte de renda é a bilheteria do circo. Sem essa renda, a gente não tem nada. Estamos sem trabalhar desde o dia 13 de março. O governo deu uma cesta básica, mas vai dar para essa semana. Tem os boletos que vão chegando", lamenta Valéria Barbosa, artista. Ela conta que o Circo Real Madri conta com 20 pessoas, mais da metade de uma mesma família. Ali, cada filho conta com uma carreta com estrutura de casa, mas a realidade é diferente em outros circos menores. Muitos estão aglomerados, apertados em um único trailer.

"Com essa dificuldade de não ter a bilheteria, a vida fica difícil financeiramente, difícil também para alimentação, para a parte de higene.Temos crianças, jovens e senhores de idade de até 80 anos. A convivência é de muita gente junto", afirma Limachem Cherem, diretor de circo do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio (Sated-RJ).

No Circo Riwany, em Cacuia, Nova Iguaçu, os dias têm passado sem tanto riso. "A gente morava em trailer. Ele está num terreno, fechado, até passar isso, e o resto da família está indo para casa de amigos. Aqui, está brabo. Estávamos no vermelho, agora está um pouco pior. São 23 pessoas. A sorte é que não tem ninguém doente. Mas a nossa cabeça fica confusa. A gente espera uma ajuda de trabalho que possa melhorar para todo mundo", confessa Rhiwany Ramos. 

Sindicato propõe políticas públicas aos circos

Limachem Cherem fez um levantamento da quantidade de circos ativos na cidade: são oito na capital e 12 em outros municípios do estado. Todos estão fechados e precisam de ajuda. "Esses circos dependem unicamente da bilheteria. Não têm outra renda. 90% das famílias moram dentro do circo. São nômades, são itinerantes, não têm casa certa. Para abrir uma conta no banco eles não conseguem, para fazer consulta no médico é difícil porque não têm endereço. O governo baixou o decreto, fechou as casas de espetáculo, cinemas, mas os colegas moram na lona. As crianças nascem na lona, aprendem os primeiros pasos na lona. É a vida deles", comenta o ator e diretor do sindicato, que propôs ao governo medidas para auxiliar as famílias circenses. Na semana passada, cestas básicas foram doadas pelo governo.

"O governo do estado e a prefeitura fizeram a primeira coisa que é não deixar o pessoal passar fome: distribuíram cestas básicas para as famílias circenses. Mas isso aconteceu na sexta-feira (27). O pessoal come e bebe todo dia. Fora isso, tem as contas a pagar. Precisa de uma ajuda financeira urgente para que o pessoal saia dessa situação", solicita Cherem.

Sesc vai doar alimentos aos circos
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O Sesc-RJ, por meio do programa Mesa Brasil, vai realizar doações de alimentos para mais de 10 circos espalhados pelo Rio de Janeiro a partir desta semana. A doação de mantimentos deve alcançar 1 tonelada e beneficiar cerca de 400 pessoas, de acordo com a instituição. Circos da capital e do interior do estado serão ajudados pela campanha. 
"Os empreendimentos culturais e familiares estão entre os mais impactados do setor da cultura pelas medidas de combate ao novo coronavírus, como a proibição de espetáculos públicos. Cerca de 400 artistas - incluindo crianças, jovens, adultos e idosos - serão beneficiados com a ação", disse o Sesc Rio, em nota.
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