Ao longo dos seus 106 anos, dona Diva da Costa viu o mundo se transformar. E vencer a maior pandemia do século XX - a gripe espanhola, em 1918. Esperançosa, a veterana não duvida que será encontrada a cura do novo coronavírus. "Com disciplina, força e fé chegaremos lá", ensina.
Nascida em Petrópolis e registrada em 1918 - na certidão consta que tem 102 anos, mas ela garante que já está com 106 -, dona Diva se recorda de quando famílias chegavam à Cidade Imperial fugidas da gripe espanhola que assolava o município do Rio, então capital brasileira.
"As pessoas valorizavam as esplanadas, onde não se perdia o sol da manhã. Onde entra o sol, a doença não se estabelece", ensina, sorrindo. Ela conta que sempre abria a casa toda ao amanhecer e que deixava o sol entrar. "Ar-condicionado é um grande mal. Eu não gosto", confidencia dona Diva.
TRATAMENTO ASSASSINO
O professor e historiador Milton Teixeira reforça o raciocínio de dona Diva. Segundo ele, na época, a doença era conhecida por deixar os pulmões cheios de líquido. Muitas pessoas perceberam que o clima seco e fresco era bom para o tratamento.
"O tratamento, em geral, era constituído de laxante para eliminar a água do corpo, diurético e ficar uma semana sem comer ou beber nada. Isso matava tanto ou mais que a própria doença. Sem contar que a gripe espanhola causava um mal secundário: a catalepsia. A pessoa era enterrada com sinais vitais baixos, mas viva. Anos depois, na exumação, descobriram esqueletos revirados dentro do caixão com as tampas arranhadas por dentro", explica Teixeira.
A doença teve origem no Kansas, nos Estados Unidos. Lá, os primeiros americanos foram contaminados em 1917. Contudo, a doença não tinha elevado nível de letalidade. O cenário mudou quando a tropa embarcou para a Primeira Guerra. O vírus sofreu mutação e, chegando à Europa, a letalidade da gripe era entre 60% e 70%. "Acordava bem, começava a tossir e, às 17h, estava sendo enterrado", explica o historiador, acrescentando que a chegada ao Brasil ocorreu em 1918.
CIDADE DE QUEIMADOS
Milton Teixeira conta que no Rio era comum as pessoas aparecerem nas portas de suas casas para avisar que tinham mortos da gripe espanhola. Carros passavam e recolhiam os corpos. "Muitos foram jogados fora da capital e queimados. Daí surgiu o município de Queimados", informa o professor, completando que, estima-se, a doença tenha matado entre 50 milhões e 100 milhões.