Hospital Federal de Bonsucesso - Luciano Belford / Agência O DIA
Hospital Federal de BonsucessoLuciano Belford / Agência O DIA
Por Renan Schuindt e Bernardo Costa

Rio - A crise gerada pelo novo coronavírus, com a consequente decisão emergencial de abrir leitos em hospitais de campanha, faz realçar uma triste realidade nos hospitais da rede pública, onde cerca de 19% dos leitos da capital fluminense estão fechados. Levantamento feito por O DIA, com base nos dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), mostra que, na esfera federal, a situação é mais grave no Hospital de Bonsucesso (HFB), onde 62% dos leitos estão fora de operação, justamente num hospital que está sendo preparado para receber pacientes da Covid-19. Já na rede estadual, o Hospital Eduardo Rabelo, em Campo Grande, está, atualmente, com 88% dos leitos sem funcionar. Das 9.901 vagas oferecidas pelas três esferas, incluindo a municipal, mais da metade (53%) dos leitos disponíveis está ocupada. Uma preocupação a mais, já que, segundo especialistas, o pico de transmissão da Covid-19 será entre abril e maio.

Entre os motivos da interrupção dos leitos, o pesquisador e médico sanitarista da Fiocruz, Daniel Soranz, opina: "Uma grande parte está fechada por falta de recursos humanos, outra parte por falta de insumos, e tem até alguns casos onde a cama ou a maca está quebrada", afirma. Para ele, os leitos deveriam ser colocados em funcionamento imediatamente.

"É preciso recompor o quadro de profissionais e o abastecimento de insumos para, não só ampliar o atendimento aos infectados pelo coronavírus, como também garantir o atendimento de outros pacientes. Outra medida seria esvaziar alguns hospitais de urgência e emergência para receber os infectados", diz o especialista.

Na visão de Soranz, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), que suspendeu as cirurgias eletivas, poderia ser utilizado no tratamento dos doentes que vão precisar de internação. "A unidade tem quase 200 leitos disponíveis e vazios. Esses leitos poderiam virar UTI. O Into poderia ser um hospital para cuidar do coronavírus, porque ele é o melhor da rede pública e privada em termos de estrutura física, tem uma estrutura de imagem radiológica de primeira linha, o que ajudaria muito", conclui.

Na rede municipal, a falta de leitos no Hospital Paulino Werneck, localizado na Ilha do Governador, chama atenção. Segundo o levantamento, dos 30 leitos, nenhum está em operação. Já na rede estadual, no Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, dos 163 leitos, 51 se encontram fechados. O equivalente a 31%. A unidade tem uma demanda grande e, segundo os dados, das 112 vagas restantes, todas estão ocupadas. Os números também acendem o alerta no Hospital da Lagoa, pertencente à rede federal. Por lá, das 255 vagas, 152 estão desativadas (60%).

HOSPITAL DE BONSUCESSO

De acordo com o Ministério da Saúde, o prédio I do Hospital de Bonsucesso está sendo esvaziado para receber futuros pacientes da Covid-19. A previsão é que 200 novos leitos sejam criados. Apesar disso, a falta de profissionais pode ser um problema, como explica o médico Júlio Noronha. "Nós não temos profissionais. O que pode causar um caos. Mandei ofício para a Secretaria de Saúde do município, pedindo que só mandassem pacientes com coronavírus para o HFB depois que houvesse uma comissão idônea para avaliar as reais condições do hospital", diz.

Ainda de acordo com o gestor, o acompanhamento a esses futuros pacientes será fundamental. "Eles não podem simplesmente serem deixados no leito e pronto. É preciso ter profissionais dando suporte o tempo todo, pois a doença evolui rapidamente", conclui Noronha.

 

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NOTA DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE 
Neste momento, cerca de 50 leitos de UTI passam por obras em 5 unidades para que sejam reabertos e possam receber pacientes graves. No Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, há 253 leitos sendo preparados e serão abertos progressivamente, conforme demanda dos casos de coronavírus. Hoje a unidade já tem 128 leitos já disponíveis e chegará, com os leitos que serão abertos, a 381 (201 deles de UTI). No número de leitos fechados no CNES também estão inseridos os leitos dedicados à saúde mental e que foram desabilitados após o processo de desospitalização de pacientes da Saúde Mental.
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NOTA DA SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE
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A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informa que não há registro de leitos fechados no Hospital Estadual Carlos Chagas (HECC). Informa ainda que a unidade conta com 188 leitos. Com relação ao Hospital Eduardo Rabelo, a SES ressalta que a unidade possui 120 leitos. Destes, 37 estão em funcionamento, sendo sete de Unidade Intensiva (UI) e 30 de enfermaria. A unidade passa por reformas estruturais e vai ativar mais 30 leitos no próximo mês. A SES reforça que abriu, em duas semanas, 344 novos leitos exclusivos para tratamento de coronavírus, no Instituto Estadual do Cérebro (44), e nos hospitais Zilda Arns (180) e Pedro Ernesto (120). Além desses, outros 75 serão inaugurados nos próximos dias no Hospital Anchieta. Mais 1.800 leitos foram anunciados para o próximo mês em hospitais de campanha, que também serão utilizados por pacientes infectados pela Covid-19.
 
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NOTA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Ministério da Saúde esclarece que leitos de UTI e leitos de internação são diferentes. O Brasil tem investido fortemente nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que são os de maior complexidade, que exigem estrutura e esforço de profissionais, além de serem destinados a pacientes em casos graves. No caso da redução de leitos de internação, o Brasil segue tendência mundial de desospitalização – com os avanços tecnológicos, tratamentos que exigiam internação passaram a ser feitos no âmbito ambulatorial e domiciliar, com ampliação e reforço da Atenção Primária e de ações de prevenção e promoção.

De 2016 a 2020, o número de leitos habilitados de UTI em todo o país passou de 22,9 mil leitos para 26,2 mil. O Rio de Janeiro tem 1.710 leitos de UTI pelo SUS. Cabe lembrar que esses leitos são para qualquer tipo de emergência em saúde. A habilitação e a liberação de recursos são feitas mediante apresentação de projetos, que são analisados pelo Ministério da Saúde.

Em relação a Covid-19, a pasta tem tomado medidas que visam adequar a resposta do sistema brasileiro aos desafios impostos pela doença e a proteção da população, de forma proporcional e adequada a cada momento da doença no Brasil. Assim, no que se refere a leitos de terapia intensiva, o Ministério da Saúde está em processo de contratação de leitos de terapia intensiva de forma emergencial para o planejamento e preparação para emergência de saúde pública. Cabe ressaltar que leitos de terapia intensiva podem ser instalados rapidamente, bastando ajustes como a adequação elétrica e tubulação de gases, sem a necessidade de maiores reformas estruturantes, sendo que o funcionamento de novos leitos deverá ser solicitado pelos gestores locais (estados e municípios).

 

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