Primeiro lote vai beneficiar profissionais de saúde que atuam na região. Moradores receberão os testes seguintes -  Estefan Radovicz / Agência O Dia
Primeiro lote vai beneficiar profissionais de saúde que atuam na região. Moradores receberão os testes seguintes Estefan Radovicz / Agência O Dia
Por RENAN SCHUINDT

Rio - A Vila Kennedy, na Zona Oeste, será a primeira favela do Rio a receber testes para a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Ribon, startup com foco social, e a ONG Favela Sem Corona, criada recentemente. Neste primeiro momento a testagem será feita em profissionais de saúde que atuam na região e só depois, nos moradores. O primeiro lote com 100 exames será disponibilizado a partir da próxima segunda-feira (6).

A preocupação vai ao encontro do aumento no número de casos em regiões mais pobres. Pelo menos seis favelas cariocas já registram a doença: Manguinhos, Mangueira, Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Parada de Lucas e Vidigal. A falta do diagnóstico preocupa especialistas, que estimam que o número de infectados seja muito superior ao registrado.

"Tem pessoas morrendo sem serem diagnosticadas", diz o médico da Fiocruz, Daniel Soranz. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, cerca de 700 mil kits de testagem rápida são esperados ainda esta semana para serem distribuídos entre os municípios. Mas, enquanto as autoridades não alcançam as regiões mais afastadas do eixo Barra-Zona Sul, epicentro da doença na capital, a boa vontade de muitos tem sido a única aliada na luta contra o vírus nas favelas. É o caso do Ribon, plataforma que capta doações para campanhas e causas sociais com as seguintes temáticas: nutrição infantil, saúde básica, água potável, medicamentos, e agora, testes de covid-19.

A empresa, criada por jovens de Brasília, vai contar com ajuda de outros 12 voluntários nessa batalha. O funcionamento acontece por um app (pode ser baixado gratuitamente) que compartilha notícias positivas sobre assuntos variados. Ao acessar essas notícias, o leitor acumula moedas virtuais - os chamados ribons. Quanto mais ele lê, maior a pontuação, que por sua vez, pode ser doada às causas sociais cadastradas na plataforma. A melhor parte é que o dinheiro não sai do bolso do 'doador', mas das empresas que patrocinam o programa. Elas é quem vão custear os kits de testagem oferecidos na Vila Kennedy.

Vale ressaltar que as ONGs disponíveis no app atuam em regiões de extrema pobreza na África e Ásia. A 'Favela Sem Corona' é a primeira com sede no Brasil a receber ajuda."Essa parceria é uma forma de colaborar para gerar um impacto maior na vida das pessoas. Quanto mais cedo forem detectados os casos, maiores as chances de evitar que o vírus se espalhe naquele entorno", diz Rafael Rodeiro, CEO do Ribon.

IDEALIZADOR CARIOCA

Além do trabalho de distribuição de testes rápidos, o projeto vai ajudar no mapeamento de casos com o 'Mapa do Corona', mostrando os casos confirmados em cada bairro da capital fluminense. O mapa também mostrará a faixa etária dos infectados e outros dados úteis para embasar tomadas de decisão de quem está trabalhando com essa causa. O idealizador é o carioca Pedro Berto, estudante de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele conhece bem a realidade de uma favela. Nasceu em uma. Em tempo recorde, conseguiu mobilizar 12 voluntários, fazer parcerias e arrecadar doações para a compra do primeiro lote de testes. 

CANAL DE DENÚNCIAS

No site www.favelasemcorona.com, por meio de um chatbot, qualquer morador de favela pode fazer denúncias de violação de direitos humanos, violência contra a mulher, problemas de saúde pública e até questões trabalhistas. O projeto faz o encaminhamento dos casos para os órgãos e instituições competentes. "Por enquanto não fazemos doações de cestas básicas porque percebemos que outras entidades já estão trabalhando bem nessa área. Então, se aparece essa demanda, conseguimos indicar quem está fazendo isso, por exemplo", esclarece Pedro.

 

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