A escritora Patrícia Proença é uma das voluntárias do programa
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A escritora Patrícia Proença é uma das voluntárias do programa Divulgação
Por Waleska Borges

Rio - A dona de casa Sandra de Almeida, de 62 anos, estava atolada com seus afazeres quando recebeu um telefonema. Do outro lado da linha, a professora e escritora Patrícia Proença, de 47 anos, se oferecia para ler uma poesia. Elas, então, marcaram um horário para se comunicarem novamente. A leitura do poema que falava sobre o amor deixou uma certeza em Sandra, que vive o isolamento do coronavírus ao lado do marido e de um neto adulto: "O mundo ainda tem solução". O gesto de Patrícia faz parte do projeto Histórias por Telefone, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio, que leva histórias e poesias a idosos durante o período de isolamento social contra a Covid-19.

"Essa ligação me deixou emocionada. Fiquei muito esperançosa com o mundo", ressalta Sandra, que foi inscrita no projeto por uma sobrinha e não esperava aquele telefonema. Por meio do projeto, voluntariamente poetas, músicos e contadores de histórias entram em contato, por meio do telefone, com as pessoas isoladas, principalmente os idosos, considerados grupo de risco. Em apenas dez dias, o Histórias por Telefone recebeu 1.485 inscrições - sendo 1.213 de pessoas interessadas em ouvir as histórias e 272 de voluntários para contá-las.

"Acredito que a arte e a cultura podem amenizar os medos e as inseguranças dos idosos", avalia Patrícia, lembrando que, antes de iniciar as ligações, fez a experiência com o próprio pai, de 89 anos. "Ele ficou emocionado", conta. Segundo ela, os idosos se sentem felizes e alguns deles até puxam conversas sobre outros assuntos.

Troca de sentimentos

A escritora e também voluntária do projeto Carine Haziel, de 44 anos, lembra que o momento da troca sensibiliza os dois lados do telefone. "A poesia toca na alma das pessoas. Os idosos se sentem presenteados", comenta. Segundo Carine, ela recebeu relatos de que, ao escutar os poemas, alguns idosos se relembraram da infância.

A aposentada Alpha Calasans, de 74, ficou maravilhada ao receber o telefonema de uma voluntária. "A declamação dessas poesias é um meio de fazer a outra pessoa sorrir num momento horroroso. E, se chorar, será de alegria", constata.

Já o advogado Washington Fonseca, de 67, têm passado os dias em casa. Ele divide o tempo na internet, lendo jornais, vendo vídeos e tocando violão. "Mas receber a ligação de uma pessoa recitando poesia foi muito bom", lembra.

Programa oferece solidariedade

A escritora Cristina Ávila, de 45 anos,acredita que os poemas do projeto Histórias por Telefone levam conforto e carinho à terceira idade. Algumas das poesias lidas para eles são de autoria dela própria. Cristina criou ainda uma poesia que fala justamente sobre o isolamento.“Para que a circulação seja natural. Um a um vai fazendo sua parte. Parte essa que é do todo”, declama um trecho do poema.

“O projeto leva histórias para pessoas que podem estar sozinhas e precisando de uma companhia durante esse período difícil para todos nós. Fomentar a cultura nesse momento é muito importante, mostra solidariedade e compaixão,elementos fundamentais em uma sociedade”, acredita a secretária de Cultura,Danielle Barros.

Quem quiser se inscrever para ouvir histórias ou indicar amigos e familiares que precisam de ajuda basta acessar a página do Histórias por Telefone- https://bit.ly/formulario-historias.Já para ser um contador, você pode ter outras informações pelo https://bit.ly/sejaumcontadordehistorias.


Pandemia causa depressão e ansiedade
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A depressão e a ansiedade estão sendo os principais sintomas diante da pandemia do coronavírus. A constatação é da psicóloga Mariana Furtado, pós-doutoranda em Saúde Mental e Atenção Psicossocial do Centro Universitário IBMR. Segundo ela, o número de pessoas em busca de atendimentos tem aumentado cada vez mais. Muitos deles estão ocorrendo pela internet. O Conselho Federal de Psicologia, por meio da Resolução 11/2018, autorizou que os psicólogos façam atendimentos online.
De acordo com Ellen Aragão, psicóloga do Hospital Adventista Silvestre, a procura pelos profissionais tem sido maior porque pessoas que já apresentavam sintomas leves de ansiedade, depressão e transtorno de pânico, entre outros, vivenciam a pandemia de forma mais intensa e o sofrimento provocado por tais transtornos.
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“Um psicanalista amigo meu de São Paulo criou uma plataforma para atendimento online gratuito. Em uma semana, ele teve mais de 200 inscrições”, comenta Mariana Furtado. Segundo a psicóloga, na última década, tem ocorrido uma virtualização nas relações, no entanto, durante esse período de isolamento social, há uma contradição.“As pessoas estão se vendo obrigadas a não vivenciar o contato físico, a aproximação eestão tomando consciência disso”, destaca.
Ainda conforme Mariana, há angústia pela quarentena (maior nas pessoas mais jovens)e o mesmo sentimento relacionado à morte,nesse caso mais evidente nos idosos, que são apontados como integrantes do grupo de risco. Outro fator considerado doloroso pela terceira idade é o afastamento dos filhos e netos,dificultando os relacionamentos familiares.
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CRIATIVIDADE
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Para Ellen Aragão, as pessoas podem usar esse tempo de isolamento para melhorar seus relacionamentos familiares. “Use a criatividade para realizar tarefas recorrentes de formas diferentes. O antídoto do medo éa coragem. É dela que todos nós precisamos nesse momento. Abandone o medo”, ensina.Conforme Ellen, não é preciso deixar de lado as atividades coletivas.
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"É necessário reinventar os encontros, você não deve desistir de fazer contato com os amigos antigos e fazer novos amigos. Tente compartilhar algo bom com seu vizinho, sem quebrar o isolamento. Não é a distância que afasta as pessoas, é o ninguém procurar”, pondera.
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