Por Yuri Eiras
Rio - Davi Barros sai de São João de Meriti antes do sol nascer para bater ponto no Leblon às 6h30. Depois que chega no trabalho, não tem hora para sair. Ele é eletricista no hospital de campanha que o grupo particular de saúde Rede D'Or está erguendo para atender pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) com coronavírus. O turno tem sido dobrado, assim como a responsabilidade: a intenção é finalizar até o fim de abril. Os operários, em rotina cansativa, têm tratado a obra como missão humanitária no combate ao vírus.
"Eu saio de casa com o pensamento de ter que cumprir a missão. Por mais que as pessoas não estejam dando muita importância, a gente está comprometido. Antes de começar o projeto tivemos uma reunião com a direção. A gente ia ter que se doar. É uma campanha humanitária. A gente sabe que tem horário para entrar, mas não sabe quando vamos sair", afirma o responsável pela parte elétrica da obra do hospital de campanha, montado no terreno ao lado do 23º Batalhão da Polícia Militar, na autoestrada Lagoa-Barra. O investimento para a construção será de R$ 45 milhões, e vem totalmente da iniciativa privada, segundo a Rede D'Or. A estimativa é de 1.000 empregos gerados direta e indiretamente.
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Técnica em engenharia, Karolline Luigi também tem visto o nascer do sol no caminho para o trabalho. Moradora de Niterói, ela é responsável pelo serviço que envolve pedreiros, eletricistas e bombeiros. "Todos os dias temos problemas, mas temos que resolver em equipe para que não ocorra atraso e a gente tenha a melhor solução e mais rápido. Fico feliz em ajudar nesse momento triste. A cada dia que passa os números aumentam. Eu sou recém formada e isso vai muito além do que eu aprendi na sala de aula e em livros. É um desafio para mim e para todos, apesar do cansaço. Vai ser um sentimento de missão cumprida", projeta a engenheira, que tem se cuidado - a empresa, inclusive, disponibilizou táxis para os funcionários evitarem aglomerações nos transportes públicos. "Durante o trabalho, nada de ficar muito próximo das pessoas. Evitamos também contato físico e sempre que chegamos medimos nossa temperatura".
Papai operário no meio da quarentena
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Leonardo Gomes, técnico em segurança do trabalho, também tem dado duro na obra. Agora, além dos cuidados de sempre com a proteção, ele dá auxílio aos trabalhadores com a higiene. Os seus serão redobrados a partir de agora: nasceu ontem o segundo filho de Leonardo. "Diariamente a gente vem mostrando os números de casos e mortes levantados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O pessoal da obra está levando a sério. De uma em uma hora eles fazem obrigatoriamente a higienização das mãos. Disponibilizamos lavatórios e álcool em gel", explica o mais novo papai da construção.
Previsão de mais de 2 mil leitos públicos na Região Metropolitana
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O estado do Rio deverá contar com nove hospitais de campanha para receber pacientes com coronavírus, sendo sete deles na Região Metropolitana. e outros dois em Casimiro de Abreu e Campos, no Norte Fluminense. Além do que está em construção no Leblon, que terá capacidade para 200 leitos (40 de CTI), o governo do estado é responsável pelo hospital em construção do Maracanã, que terá 400 leitos (40 de CTI); Bangu, Jacarepaguá, Duque de Caxias e São Gonçalo contarão com unidades com capacidade para 200 leitos cada, sendo 40 de CTI.
Já prefeitura constrói um hospital de campanha no Riocentro preparado para ter 500 leitos, sendo 100 de CTI. As obras estão 85% concluídas e o município abrirá as vagas quando o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, tiver com 70% de sua capacidade total ocupada.
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Além dos hospitais de campanha do governo do estado e da prefeitura, a Fiocruz constrói um centro hospitalar que contará com 200 leitos. Ao todo, capital e Região Metropolitana terão 2,1 mil leitos públicos para atender a população.