Rodrigo passou por duas unidades de saúde antes da internação - arquivo pessoal
Rodrigo passou por duas unidades de saúde antes da internaçãoarquivo pessoal
Por Waleska Borges

O professor Rodrigo Camargo Vieira, de 39 anos, morreu, no último dia 2, no Hospital de São José dos Lírios, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, vítima da Covid-19. Mas apesar de ter no atestado de óbito a doença provocada pelo coronavírus, além de síndrome respiratória grave, diabetes e insuficiência renal aguda, a morte ainda não consta nas estatísticas oficiais da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ).

De acordo com a viúva Carla Medeiros, de 44 anos, além da morte não constar nos dados oficiais, houve negligência do Hospital de Irajá, na Zona Norte, e do Hospital de Clínicas de Jacarepaguá, na Zona Oeste. As unidades de saúde privadas foram as primeiras a fazerem os atendimentos em Rodrigo e na própria Carla.

"Minha família está dilacerada. Quero denunciar essa história malsucedida para evitar outras mortes", lamentou Carla, que, assim como Rodrigo, teve o teste para a doença positivo.

Moradores de Honório Gurgel, Carla e o marido procuraram o Hospital de Irajá no dia 17 de março. "No primeiro atendimento, fomos examinados com um estetoscópio. Recebemos como recomendação repouso em casa e dipirona", lembrou.

O casal, porém, teve o estado de saúde agravado e procuraram o Hospital de Clínicas de Jacarepaguá no dia 22. "Foi diagnosticado princípio de pneumonia e me receitaram antibióticos e quarentena em casa", contou.

Para Rodrigo, que apresentava sintomas de falta de ar, era hipertenso e diabético, foram receitados remédios para alergia. No dia 25, o casal voltou ao mesmo hospital de Jacarepaguá. "Me colocaram no respirador, depois fiz um novo raio-X. Meu pulmão já estava todo tomado e disseram que eu precisava de uma tomografia", disse ela.

Como o tomógrafo do hospital estava quebrado, Carla foi encaminhada a outra unidade. "Com o meu marido, apenas ouviram seu pulmão com o estetoscópio e disseram que estava tudo limpo e que ele não tinha febre". Ela, então, foi transferida para o Hospital dos Lírios, em São Gonçalo. "O Hospital dos Lírios fez de tudo para nos ajudar", completou.

O professor também foi atendido no mesmo hospital em São Gonçalo. E ambos foram encaminhados ao CTI. Carla teve alta dia 30, mas Rodrigo não resistiu. "Ele poderia estar em casa comigo se tivesse sido atendido de forma correta no primeiro hospital. Ele era do grupo de risco", lamentou.

A SES informou que, seguindo recomendação do Conselho Federal de Medicina, não comenta casos específicos de pacientes e que a morte está sendo investigada. Por meio de nota, o Hospital de Irajá nega negligência no atendimento da unidade: "Não houve qualquer negligência médica, sendo devidamente aplicado o protocolo preconizado pelo Ministério da Saúde, o paciente em questão, no momento deste atendimento, encontrava-se estável, afebril, com sinais vitais normais, saturação nos padrões normais, frequência respiratória normal, pressão arterial normal, bem como frequência cardíaca normal".

O Hospital de Clínicas de Jacarepaguá  disse que cumpriu todos os protocolos relacionados à Covid-19 no atendimento a Rodrigo.  De acordo com o hospital, na ocasião, o paciente não apresentava comprometimento respiratório, portanto não havia indicação de internação hospitalar. "Conforme preconizam as orientações dos órgãos oficiais de saúde, foi recomendado isolamento domiciliar e retorno à unidade em caso de agravamento dos sintomas e piora clínica. O Hospital se solidariza com a família e está à disposição para esclarecimentos", informou a nota do hospital.

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