Rio, 09/04/2020, Movimento de Idosos pelas ruas da cidade, foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia  - Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Rio, 09/04/2020, Movimento de Idosos pelas ruas da cidade, foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Por RENAN SCHUINDT

Os passeios diários na orla de Copacabana têm feito falta na rotina da aposentada Lucy Alves. Aos 93 anos, ela faz parte do chamado grupo de risco da pandemia do novo coronavírus e é moradora do famoso bairro carioca que, segundo o IBGE, concentra o maior número de pessoas da terceira idade (43 mil). Embora se previna, nem todos os idosos parecem tão preocupados como ela e ainda insistem em circular pelas ruas.

Levantamento do Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC-Brasil), em parceria com a Hibou, mostra que 30% dos idosos brasileiros não estão seguindo à risca as medidas de isolamento social. No Rio, a prefeitura já disponibilizou quatro hotéis para receber esse público, mas, no entanto, a adesão continua muito baixa.

De acordo com a pesquisa, que contou com dois mil participantes em todo o país, 26% dos dissidentes desrespeitam a quarentena apenas quando necessário. Já os 4% restantes dizem que continuam levando uma rotina normal. "Ver que 70% deles estão cumprindo o isolamento é uma surpresa positiva, mas os 30% que continuam saindo de casa levantam uma preocupação", afirma Renato Santos, responsável pela pesquisa.

O levantamento também mapeou o risco comportamental dos idosos no período de quarentena. Os principais motivos para a 'escapadinha' são: fazer compras (66%), garantir a saúde mental (14%), ir ao trabalho (10%) e risco aventura (5%).

"As compras podem ser feitas por entregadores ou amigos", orienta o pesquisador. Segundo Santos, "parece que esse grupo encontra nas compras uma justificativa para sair de casa". Para ele, a grande questão é entender a rotina que os idosos levavam antes da quarentena. "Assim fica mais fácil de encontrar alternativas que ajudem a minimizar essa sensação e o impacto na saúde mental deles", afirma.

Risco Aventura

Outro dado importante são os 10% dos dissidentes que afirmam 'saber se cuidar na rua e não consideram as saídas perigosas', conhecido como risco aventura. Outros 5% acreditam ser praticamente imunes à Covid-19. "Isso é reflexo da desinformação e das fake news", explica Santos. "A informação correta precisa chegar a eles: ninguém é imune e os idosos são, sim, parte do grupo de risco com maior taxa de letalidade", finaliza. 

Hotéis para idosos têm baixa procura
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Segundo a prefeitura, desde o último de mil vagas foram disponibilizadas em quatro hotéis para idosos de favelas que moram em locais com aglomeração. A hospedagem temporária tem como objetivo a prevenção do Covid-19 para essas pessoas que fazem parte do grupo de risco. Até o momento, apenas 44 idosos e 4 acompanhantes estão hospedadas. Dois hotéis estão localizados na Barra da Tijuca e um hotel no Centro do Rio.

Artistas idosos que se encaixem nos critérios também poderão se hospedar nos hotéis durante a crise do coronavírus. Segundo a prefeitura, a identificação das pessoas está sendo feita por Agentes Comunitários de Saúde. Eles visitam os pacientes cadastrados na Clínica da Família e realizam o encaminhamento dos interessados para a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH), que realiza toda a parte de hospedagem. 

Vale ressaltar que todos têm direito a refeições diárias, além de serviços de rouparia e lavanderia. Uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogos, assistentes sociais, entre outros profissionais atuam 24 horas nos locais. 

As sirenes da Defesa Civil municipal também serão utilizadas para alertar a população sobre os riscos do coronavírus e, também, para informar os idosos sobre vagas nos hotéis. O áudio de orientação já está sendo veiculado na Rocinha e no Vidigal. Outras favelas também vão contar com o serviço nos próximos dias.

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