Rio - 08/04/2020 - COVID 19 - CORONAVÍRUS - Apos a confirmação da quinta (5) mortes na Favela da Rocinha, movimentação de pessoas na Via Apia da Rocinha. Foto: Daniel Castelo Branco / Agencia O Dia - Daniel Castelo Branco
Rio - 08/04/2020 - COVID 19 - CORONAVÍRUS - Apos a confirmação da quinta (5) mortes na Favela da Rocinha, movimentação de pessoas na Via Apia da Rocinha. Foto: Daniel Castelo Branco / Agencia O DiaDaniel Castelo Branco
Por Marina Cardoso

A pandemia do coronavírus tem provocado inúmeros problemas socioeconômicos para a sociedade em geral. Porém, os moradores das favelas são os que mais têm sentido a crise chegar sem bater na porta, e enfrentam o medo de ficar sem comida. Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, em parceria com o Data Favela, 60% dos moradores de comunidades não possuem recursos financeiros para se sustentar por mais de uma semana, sem que precisem de auxílio ou de retornar ao trabalho.

A pesquisa alerta para o fato de que praticamente todos os moradores de comunidades não terão alimentos suficientes para um mês. O sinal de alerta se acende ainda mais já que em metade dos lares os mantimentos deverão acabar nos próximos sete dias.

O levantamento também destacou que mais da metade dos moradores têm tido dificuldades para encontrar alimentos e itens de higiene perto de casa. Nesse universo, oito em cada dez pessoas precisam sair das suas comunidades para encontrar alimentos e itens de higiene.

Com a necessidade de se deslocar para comprar produtos básicos, a pesquisa reforça que os moradores com recursos financeiros enfrentam desabastecimento nas regiões onde moram. Com isso, eles ficam ainda mais expostos à contaminação pelo novo coronavírus, pois precisam fazer deslocamentos maiores para adquirirem produtos para subsistência. Outro dado preocupante é que falta água potável em quase metade (47%) dos lares das favelas. 

"A pesquisa constatou que, infelizmente, questões logísticas dificultam que doações de cestas básicas cheguem dentro da favela, muitas vezes obrigando os moradores a terem que se deslocar para fora da comunidade para receber a doação", diz Celso Athayde, fundador do Data Favela. O instituto ouviu 1.808 moradores de 269 favelas, entre os dias 4 e 5 deste mês.

 

Receio de perder o emprego por causa da pandemia
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Além do medo do novo coronavírus e de transmitir para os filhos e idosos (entre os pais e mães entrevistados, 82% e 90% sentem essa preocupação, respectivamente), outro receio é com a possibilidade de serem dispensados pelos seus chefes. Mais de 65% dos trabalhadores de favelas pesquisados acreditam que têm o risco de ficarem desempregados. 
Além da tensão de transmitir o vírus para os filhos, os pais e mães de comunidades sentem muito medo de não conseguir dinheiro para alimentar as crianças. A pesquisa constatou que oito a cada dez deles alertaram para esse temor. O Instituto Locomotiva destacou que o nível desta preocupação com Saúde, trabalho e renda aumentou nas últimas duas semanas. 
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Para o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, o levantamento deixa claro que os moradores das comunidades em todo o país são o grupo populacional mais prejudicado pelos efeitos econômicos da pandemia. "Não me parece justo ou moralmente ético que governo ou sociedade exijam que essas pessoas tenham que escolher entre a saúde de sua família e a garantia do pão de cada dia. A distribuição de renda é a vacina mais segura para o risco de convulsão social no Brasil", afirma Meirelles.
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