Sanitização da favela Santa Marta - Luciano Belford / Agência O Dia
Sanitização da favela Santa MartaLuciano Belford / Agência O Dia
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Rio - A adoção de uma série de medidas contra o novo coronavírus (covid-19) em comunidades - incluindo reduzir até pela metade a densidade demográfica, criar estruturas de saneamento emergenciais e oferecer produtos de higiene - poderia diminuir a pressão sobre o sistema de saúde e salvar até 15 mil vidas no Rio.

Os cálculos são de um grupo de pesquisadores especialistas em modelagem de dinâmica de sistema que se uniram ao coletivo Favelas contra o Coronavírus. Uma vez que nas comunidades é praticamente impossível aplicar o isolamento social - uma das principais recomendações contra covid-19 - e nem sempre é garantido que a medida mais eficaz de proteção seja posta em prática o tempo todo, que é lavar as mãos, a ideia dos pesquisadores foi propor outras saídas. Essas incluem um esvaziamento das favelas.

Eles criaram um simulador para estimar o efeito de ações combinadas em diferentes proporções: remoção temporária de moradores das favelas para equipamentos públicos ou para hotéis; subsídio a insumos de higiene; renda básica para comprar produtos de higiene; estruturas emergenciais de saneamento; expansão de UTIs e uso de máscaras faciais.

A primeira análise foi feita no Rio, onde vive, proporcionalmente, a maior população em favelas no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 2,2 milhões nessa condição, 13% da população, em uma densidade demográfica média de 9,9 mil/km².
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Na melhor combinação de medidas, o grupo avaliou que reduzir pela metade a densidade demográfica das favelas do estado, com a transferência temporária de cerca de 5 mil pessoas/km², a criação de estruturas emergenciais de saneamento em todas as favelas que não têm o serviço, o fornecimento de produtos de higiene para 50% dos domicílios, e a construção de 20 UTIs/dia desde o início da epidemia poderiam salvar até 15 mil vidas - ou 16% das potenciais vítimas.

Sem intervenções (não só nas favelas, mas em todo o estado), estimam os pesquisadores, o Rio poderia ficar entre 41 e 93 dias sem vagas em UTIs (do melhor ao pior cenário). Com essa estratégia acima, os dias sem UTI cairiam para algo entre 34 (no melhor cenário, com outras intervenções) e 52 dias.
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Governo

Os governos têm propostas para avaliar a situação em áreas periféricas. O estado e a prefeitura lançaram ações de higienização em mais de 50 comunidades. E 40 novos caminhões-pipa foram ofertados somente para atender a essas áreas carentes.

Além disso, a Secretaria Municipal de Assistência Social reservou mil quartos de hotéis para abrigar idosos e outras pessoas em condições mais vulneráveis. Até agora, no entanto, apenas 43 quartos foram ocupados.