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Na quarta-feira, 'X', morador da Favela da Maré, começou a ter sintomas característicos da Covid-19. Ele procurou atendimento na UPA da comunidade e lá foi deixado na sala de espera. Mas sem nenhum equipamento de proteção e junto com todos os outros pacientes que estavam na unidade por doenças diversas.

Algum tempo depois, ele foi atendido por um médico que o questionou: "Não te deram máscara na entrada? Você sem uma máscara passa coronavírus para todo mundo aqui", disse. Mas o que mais impressionou 'X', que não quis ser identificado pela reportagem, foi a sinceridade do médico. "Inclusive, eu posso estar transmitindo também, porque estou com sintomas da Covid-19, mas não me afastaram. Tenho que trabalhar assim, mesmo".

Segundo Daniel Soranz, doutor em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz, a cena é mais comum do que parece. Com a sobrecarga do sistema público de saúde em meio à pandemia, pacientes infectados com o novo coronavírus estão dividindo o mesmo ambiente hospitalar com aqueles que estão sem a doença. Ocorre, assim, a chamada contaminação cruzada.

"Um dos principais erros que outros países cometeram, principalmente a Itália, é misturar pacientes com e sem coronavírus em uma mesma unidade de atendimento. Isso aumenta muito o potencial de transmissão e de mortalidade", alerta Soranz.

O especialista explica que o problema tem acontecido em diversas unidades, como a UPA da Maré, o Hospital Piedade, as Coordenações de Emergência (CERs) do Leblon, Centro e Barra, além de outros centros de saúde de comunidades. "O que aconteceu no caso do Aldir Blanc, por exemplo, é que ele ficou 48h aguardando transferência na sala vermelha do CER Leblon. A mesma onde ficam diversos pacientes graves. Ali, ele pode tanto ter sido infectado, como pode ter transmitido a doença, caso seja confirmado no seu teste", afirma Soranz.

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