Por Bernardo Costa

O isolamento social, que tem contribuído para diminuir a velocidade de contágio da covid-19, pode estar causando outro efeito benéfico para a saúde da população fluminense: a menor incidência no Estado do Rio de casos de dengue, chikungunya e zika, que, somados, tiveram redução de 17% nas primeiras 14 semanas deste ano em relação ao mesmo período de 2019. Segundo o médico Alexandre Chieppe, da Secretaria de Saúde do Estado do Rio (SES), as restrições de circulação podem estar diminuindo a possibilidade de o mosquito Aedes aegypti se infectar com vírus da dengue, chikungunya e zika (as arboviroses) ao ter contato com doentes.

"Se as pessoas estão em menos locais, há menos chances de o mosquito se infectar com o vírus ao picar pessoas infectadas, pois a grande parte dos mosquitos nasce saudável. Com a diminuição da mobilidade, uma pessoa doente pode até infectar um mosquito em determinado local, mas há diminuição de infecção de mosquitos em outras regiões. Isso é apenas uma hipótese. Temos que entender melhor esse processo", diz Chieppe.

Outra hipótese para a redução de casos está ligada à reentrada de circulação da dengue Tipo 2, que ainda não aconteceu com a força prevista pelas autoridades de saúde do Rio no fim de 2019, quando foi emitido alerta para os municípios sobre possível epidemia para este ano.

"Estamos no período em que historicamente há pico de casos de dengue, zika e chikungunya no Rio, e não identificamos epidemia. O que temos no momento é uma transmissão leve e sustentada", diz.

Até agora, segundo Chieppe, não foram verificados no Rio casos de coinfecção entre covid-19 e os vírus da dengue, chikungunya e zika. Os efeitos no organismo da dupla infecção são desconhecidos: "Ainda não existe nenhum estudo nesse sentido".

Precaução

Alexandre Chieppe reforça a necessidade de as pessoas continuarem combatendo focos do Aedes Aegypti: "Já que as pessoas estão mais em casa, onde surge a maioria dos focos do mosquito, é importante que se mantenham atentas a esse risco, e dediquem alguns minutos da semana para checar possíveis focos. Assim, manteremos o cenário de tranquilidade".

Segundo o médico, a precaução é eliminar água parada em caixas d'água, tonéis, vasos de plantas, calhas, garrafas, lixo e bandejas de ar-condicionado.

Os números no estado e no país
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De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), entre janeiro e 14 de abril deste ano, foram notificados, no Estado do Rio, 3.100 casos de dengue, 2.780 de chikungunya, e 83 de zika. No mesmo período do ano passado, foram registrados 9.256 casos de dengue, 24.585 de chikungunya e 448 de zika.
Até agora, segundo a SES, não há registro de morte no Rio este ano causada pelos vírus da dengue, chikungunya ou zika. Em 2019, foram 64 casos fatais de chikungunya e nenhum por dengue ou zika.
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"Se tivéssemos uma epidemia neste momento, seria grave, pois os primeiros sintomas são parecidos com os da covid-19, como febre e dores no corpo. As pessoas iriam correr para as clínicas e o sistema iria ficar sobrecarregado", explica Alexandre Chieppe.
DADOS NACIONAIS
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Segundo o Ministério da Saúde, os casos de dengue e zika aumentaram no país até a segunda quinzena de abril deste ano em relação ao mesmo período de 2009. Foram 525.381 contra 495.560 (dengue) e 2.054 contra 1.974 (zika). Já os casos de chicungunya diminuíram. Este ano foram registrados 15.051 casos. No ano passado, foram 27.974.
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