Por Anderson Justino

Quando escreveu o clássico 'Sábado em Copacabana', Dorival Caymmi provavelmente vislumbrava a imagem de um bairro movimentado e com seus bares lotados na noite iluminada da Zona Sul carioca. Mas, atualmente, a realidade que se impõe na 'Princesinha do mar' é outra. Devido à pandemia da covid-19, passear no calçadão ou desfrutar dos bares e quiosques são atitudes arriscadas que, segundo as autoridades de saúde, podem acelerar a velocidade de transmissão da doença. Apesar de recomendação de isolamento social, o feriado de Tiradentes no bairro ontem foi marcado por flagrantes de pessoas desrespeitando a quarentena.

Copacabana ainda tem dois agravantes: é o bairro que registra o maior número de mortes na capital — são 18 no total —, e a concentração mais elevada de idosos, o principal grupo de risco para o coronavírus. Segundo o IBGE, aproximadamente 30% de um total de 161.178 habitantes estão acima dos 60 anos, o que equivale a 15% de moradores da cidade nessa faixa etária. Em relação aos casos confirmados, Copacabana aparece em segundo, com 199 notificações da covid-19, segundo a prefeitura.

FAMÍLIA DETIDA NA AREIA

As cenas vistas ontem no bairro não foram diferentes das imagens do último fim de semana, com pessoas na areia, passeando no calçadão ou até mesmo tomando água de coco no balcão dos quiosques. Trabalho para a PM, que ontem teve que deter cinco pessoas de uma mesma família, que insistiam em tomar banho de mar em desrespeito ao decreto estadual que proíbe a população de ir às praias, piscinas e parques públicos.

Segundo a Prefeitura do Rio, dos mortos por coronavírus na capital, 77,8% estavam acima dos 60 anos, um dado que também acende o alerta em Copacabana. Em nota, o órgão informou que o prefeito Marcelo Crivella estuda implantar a hospedagem compulsória, em hotéis, de idosos com mais de 80 anos que moram sozinhos no bairro.

Além dos números confirmados, a Secretaria municipal de Saúde (SMS) investiga mais duas mortes de covid-19 e 78 casos suspeitos do doença em Copacabana.

Ambulantes se reinventam para sobreviver
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Um dos reflexos da pandemia do coronavírus é a impossibilidade de trabalhar para quem vive do comércio informal na cidade. Há pessoas que, sem receber há mais de um mês, têm procurado criar alternativas para sobreviver. É o caso do casal Lucimar Pereira dos Santos, de 35 anos, e Renato dos Santos, de 40, que trabalhavam como ambulantes em Copacabana e, diante do decréscimo de renda, perderam a casa no alto do Pavão-Pavãozinho e passaram a dormir nas areais da praia. A única renda agora vem de um serviço inusitado que conseguiram: o de vigia das esculturas de areia.
"A gente teve que vender nossos celulares para comprar comida. Antes, vivíamos do comércio de bebidas em uma pequena barraca na praia, mas agora nem água podemos vender. Infelizmente, a situação pirou e não conseguimos pagar nosso aluguel. Perdemos nossa casa e estamos vivendo nas ruas. É muito triste isso que está acontecendo", desabafa Lucimar Pereira.
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Outra ambulante do bairro que teve que se reinventar é Carolina Costa Nunes de Carvalho, de 36 anos. Ela conta que tinha uma barraca de lingeries na Avenida Nossa Senhora de Copacabana e, com a pandemia da covid-19, passou a vender máscaras de proteção para sobreviver.
"Antes já era difícil manter um bom orçamento. Agora, a situação está pior. Tive que mudar para não parar", conta Carolina, que trabalha como camelô há mais de 15 anos.
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Grupo de moradores do bairro faz doações a pessoas em situação de rua
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Pelas ruas de Copacabana também é possível encontrar cenas positivas. Um grupo de moradores do bairro, intitulado CopaLeme da Solidariedade, está percorrendo a região para doar alimentos, roupas e medicamentos à população em situação de rua.
A iniciativa teve início no feriado de Páscoa, quando a dona de casa Sônia Ferreira Costa, de 59 anos, reuniu um grupo de amigos para distribuir ceia aos sem-teto.
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Desde então, o grupo sai todas as noites para fazer as doações aos que dormem nas ruas e estão na faixa etária acima dos 60 anos de idade. No fim da entrega dos alimentos, o grupo ainda recolhe o lixo deixado.
Além de comida, roupas e medicamentos, os amigos liderados por Sônia Costa ainda fazem a medição de temperatura corporal, para verificar se há alguém com febre, um dos sintomas característicos do coronavírus. Duas pessoas já foram encaminhadas pelo grupo para uma unidade básica de saúde da região.
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Para ajudar o grupo CopaLeme da Solidariedade com roupas, alimentos ou remédios, basta comparecer a um dos pontos de arrecadação, que fica na Rua Carvalho de Mendonça.
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