É pra viagem! A força do delivery durante a quarentena
Nunca se pediu tanta comida em casa como agora. Estabelecimentos lançam mão de estratégias para atrair mais clientes
"Encostou no sujo, não encosta no limpo. É uma maneira de visualizar melhor algo que é invisível (o coronavírus) e assim a gente se protege mais", conta a influenciadora digital Beatriz Ferreira (@beatrizferreira), de 27 anos, descrevendo a nova rotina ao receber os pedidos que chegam da rua. "Só peço alimentos que possam ir ao forno para esquentar. A comida entra pela área de serviço e já descartamos o pacote do restaurante ali mesmo, colocando em um saco plástico antes. Quem recebe o alimento e as bebidas não encosta em mais nada antes de higienizar as mãos", reforça a moça, que mora com a mãe, de 62 anos, e o pai, de 58, na Barra da Tijuca.
Sobre os hábitos de consumo, ela revela que a família tem aderido mais ao delivery: a frequência dos pedidos saltou de uma para seis vezes ao mês. A pizza é a iguaria mais consumida. "Gostamos de japonês mas estamos dando um tempo porque estamos escolhendo apenas o que podemos levar ao forno. Priorizamos os restaurantes que a gente já gostava antes da pandemia por conta do atendimento e da higiene", esclarece a jovem carioca.
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Cuidado também na entrega
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Famoso pelos incrementados sanduíches, pelas cervejas e o açaí, o Seu Vidal, que já era sucesso na Zona Sul, caiu também nas graças do pessoal da Barra e adjacências depois da inauguração do quiosque na praia (Avenida Lucio Costa). Com uma pandemia no meio do caminho, o delivery explodiu. Ana Luiza Vidal, uma das sócias do negócio, revela que os pedidos nessa modalidade aumentaram de 40% a 50%.
Mas todo cuidado é pouco: as embalagens estão sendo higienizadas com álcool 70% e os funcionários trabalhando de luva e máscara. "Reduzimos o quadro de funcionários em quase 70% para minimizar o contato e estamos praticando horários mais flexíveis e rodízios. Também priorizamos manter na equipe quem consegue trabalhar com transportes alternativos (bike, moto)", explica a empresária.
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Para driblar a crise, Seu Vidal está criando pratos novos, antecipando lançamento de produtos que estava previsto para o meio do ano e reduzindo ao máximo os custos extras. Sobre o quadro de funcionários, Ana afirma: "Tivemos redução mas não demitimos. Suspendemos o contrato temporariamente de quem trabalha em setores específicos, principalmente no salão".
Aumento da demanda
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O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmuci, reforça que, com a pandemia, a procura pelo delivery praticamente dobrou. Entretanto, um cenário que parecia favorável para quem oferece essa modalidade acabou não surtindo o efeito desejado. "Mesmo quem não trabalhava com entregas começou a fazer, então isso diluiu a demanda", opina o dirigente.
Antes da pandemia, cerca de 15% do faturamento dos bares e restaurantes eram provenientes das entregas. "Acharam que esse índice ia dobrar, mas não foi o que aconteceu", pontua Solmuci, acrescentando que muitos estabelecimentos tiveram que desistir do delivery pela pulverização da demanda.
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Serviço estruturado será vantagem competitiva
Para Paulo Solmuci, da Abrasel, os estabelecimentos que têm um sistema de entregas bem estruturado serão mais bem sucedidos no pós-pandemia. "No mundo todo, quem está reabrindo consegue faturar, em média, apenas 30% do que faturava antes do isolamento. Com o delivery, esse índice sobre para 45% a 50%".
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O Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro (Sindilojas Rio) revela que a maioria das empresas está operando com delivery (62,4%), sendo que 67,8% não perceberam aumento nas vendas nesta modalidade. O presidente da entidade, Fernando Blower, explica que a operação restrita ajuda, mas não soluciona o problema: "O delivery oxigena mas não garante a sobrevivência desses negócios".
Número de pedidos triplica
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Na Porto Frescatto, a entrega de pescados e pratos prontos segue na ativa. O menu especial de delivery, que atende clientes da Barra, Recreio e Zona Sul, de sexta a domingo (10h às 19h), conta com delícias como estrogonofe e bobó de camarão, panela de frutos do mar e polvo grelado com espaguete. O consultor de negócios, Ricardo Tasaki, afirma que no restaurante triplicou o número de pedidos de delivery durante o período de isolamento social. "Mas esse crescimento não chega a 20% do faturamento anterior à pandemia", diz.
Por conta da queda no faturamento, foi necessário adotar a suspensão temporária do contrato de trabalho para parte dos funcionários e reduzir a carga horária para alguns.
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O Sindilojas lembra que o delivery representa em geral 20% do faturamento.
Hábito de consumo
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Levantamento feito pelo Sebrae reforça a preferência dos consumidores por locais que ofereçam entrega a domicílio. Metade dos restaurantes e lanchonetes atendidos pela instituição em todo o país oferecem o serviço, sem terceirização, para dar mais comodidade aos clientes. Ainda segundo a pesquisa, 12% deles não possuem loja física, trabalhando exclusivamente por meio de entregas, sem portas abertas para a rua.
Os amantes da alimentação saudável não precisam esperar a quarentena passar. A BeGreen Via Parque, fazenda urbana localizada no Via Parque Shopping, está realizando delivery de hortaliças de segunda à sexta, das 10h às 18h pelo telefone (21) 22137-3245. Também é possível fazer uma assinatura mensal e receber toda semana um box com hortaliças fresquinhas, livres de qualquer agrotóxico, produzidas na estufa da fazenda, entre elas alfaces variadas, folha de beterraba, rúcula, agrião, manjericão, cebolinha, tomilho, salsa e coentro.
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Quem compra na BeGreen também está fazendo uma boa ação. A cada cinco pés de hortaliças vendidos, um é doado. Desde o início da quarentena, cerca de cinco mil pés já foram doados para o Instituto Angélica Goulart e para as comunidades do Terreirão, Canal do Anil e Rocinha.