Câmara frigorífica foi instalada no pátio do HCPM. Policiais denunciam o colapso do hospital: não há leitos e agentes têm de recorrer a exames particulares em suas casas 
 - Daniel Castelo Branco
Câmara frigorífica foi instalada no pátio do HCPM. Policiais denunciam o colapso do hospital: não há leitos e agentes têm de recorrer a exames particulares em suas casas Daniel Castelo Branco
Por Anderson Justino

"São imagens tristes e sofridas todos os dias. A gente está presenciando nossos colegas de farda lutando pela vida. É difícil, mas não podemos baixar a guarda. Estamos ali para dar o apoio necessário e, juntos, vamos trabalhar além do nosso limite por eles e por nossos familiares". O desabafo é feito por um enfermeiro, sargento da Polícia Militar, lotado no Hospital Central da PM (HCPM), no Rio Comprido, no Rio. Ele descreve a cena vista diariamente na unidade que não atende apenas agentes, mas também seus parentes.

Desde o início da pandemia, a PM tem ajudado na linha de frente para tenatr frear a disseminação da doença, com ações para impedir circulação e aglomeração de pessoas. Por conta da exposição, muitos policiais estão se contaminando. No início desta semana, a instalação de uma câmara frigorífica no pátio da unidade de saúde chamou a atenção e preocupou os policiais.

Segundo a PM, desde março, 3.364 policiais já foram afastados por apresentarem sintomas da covid-19. Ontem, a PM confirmou a sétima morte em decorrência da doença na corporação. O número de policiais contaminados também aumentou: de 66 para 82 infectados, em menos de 24 horas. Sobre a lotação no HCPM, no entanto, a corporação não se manifestou. 

Em tom de desespero, o enfermeiro do HCPM faz um alerta: "O HCPM entrou em colapso. Os profissionais da área da saúde não conseguem atender à demanda de pacientes. Quem estiver sentindo algum sintoma da covid-19, procure outra unidade de saúde". 

Em áudio divulgado no WhatsApp, outro policial, também lotado no HCPM, diz estar preocupado com o avanço da doença na corporação. "Não tem leitos vagos. Estou com pena do pessoal da enfermagem. Estão trabalhando três vezes mais. Estamos com todos os andares lotados e não tem mais espaço", diz o policial.

O tenente Nilton da Silva, representante do movimento 'SOS Policial', se manifestou dizendo que "todo dia nos chegam várias informações sobre o HCPM, que acredito sejam verídicas. As informações são analisadas e cobramos respostas", diz o tenente, afirmando que o efetivo das unidades de saúde da PM já era baixo e, com a pandemia, ficou ainda menor.

 

Dificuldades para exames
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As dificuldades encontradas para realização do exame de covid-19 não acontecem apenas em hospitais públicos. Há pelo menos duas semanas afastado das ruas por conta da doença, um cabo da PM conta que precisou contratar um serviço particular, em casa, para fazer o teste que comprovou o vírus.
Outro agente diz que os problemas nos hospitais da PM não se resumem à falta de atendimento ou exames: "Estão faltando insumo e EPIs. Não há nenhum suporte".
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O advogado Haroldo dos Santos, especialista na área criminal, classifica como crime a falta de atendimento médico. "Negligenciar atendimento médico é crime de omissão de socorro".
Ontem a Secretaria de Estado da Polícia Militar disse ter adquirido equipamentos de proteção para suas equipes, mas descartou a possibilidade de construir um hospital de campanha dentro da corporação.
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