A taxa de vacância se manteve estável na Barra da Tijuca - Ricardo Cassiano
A taxa de vacância se manteve estável na Barra da TijucaRicardo Cassiano
Por Gustavo Monteiro
Moradora de Campo Grande, Renata Martins, que trabalha como autônoma, queria sair do aluguel. Com dinheiro guardado, procurava outra casa no mesmo bairro, mas os preços ainda não cabiam no bolso. O que ela não esperava era que, por causa da pandemia do novo coronavírus, o sonho da casa própria finalmente poderia ser realizado. O valor do imóvel que ela estava querendo baixou de R$ 150 mil para R$ 110 mil em apenas um mês, uma redução de 27%.
Com a expressiva queda de 60% na procura por imóveis, o mercado imobiliário está vendo os preços despencarem. De acordo com levantamento feito pelo departamento de estatística do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi Rio), especialmente para O Dia, o valor médio do metro quadrado de venda de imóveis residenciais caiu 1,34% de março para abril, baixando de R$ 8.668 para R$ 8.552. De janeiro até agora, a queda chega a quase 2%.
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Renata Martins, que paga R$ 840 de aluguel numa casa de dois quartos, vai se mudar para um imóvel próprio com dois andares, duas salas e três quartos - ARQUIVO PESSOAL
Renata, que paga R$ 840 de aluguel numa casa de dois quartos, vai se mudar para um imóvel próprio com dois andares, duas salas, três quartos e três banheiros. "Vou fazer uma obra para adaptar e montar uma casa para a minha mãe no térreo, e eu fico no segundo", comenta a carioca, que vende roupas e ainda ajuda o marido, músico - conhecido na região como Junior Moreno (@juniormorenorj), cantando em festas e eventos.
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"Com poucas vendas e cancelamento de festas, estamos com a renda bastante comprometida. Tinha feito uma compra grande de roupas uma semana antes da quarentena e está quase tudo encalhado", conta Renata (Instagram @innatasboutique).
Inadimplência deu um salto na pandemia
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A pesquisa do Sindicato da Habitação do Rio apontou que, de janeiro a março de 2020, o índice de inadimplência dos aluguéis se manteve estável em 9%. Em abril, após a pandemia do novo coronavírus, esse índice subiu quase três vezes, batendo os 25%. Com o aumento das negociações ao longo do mês, a inadimplência caiu cinco pontos percentuais, ficando em 20%.
No condomínio Jardim Iaraquã, de Campo Grande, antes da pandemia 81% dos 400 apartamentos pagavam a taxa condominial de R$ 400 em dia. Agora, 65% arcam com essa despesa dentro do prazo. "Preocupante porque temos 45 funcionários e as despesas de manutenção e limpeza, que não podem parar", conta o síndico Carlos Bottino, que comanda o condomínio de 25 blocos há 19 anos.
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"Muitos inquilinos têm a ciência de que os valores de locação já estão achatados por conta das crises dos últimos anos", completa Leonardo Schneider.
"Dá um descontinho aí" Grande parte dos contrato é renegociado
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Em toda a cidade, prédios comerciais estão praticamente fechados. Por conta disso, honrar o compromisso com o aluguel ficou muito mais difícil. O gerente geral de imóveis da imobiliária Apsa, Giovani Oliveira, revela que 34% dos contratos de locação de imóveis comerciais estão sendo renegociados. "Muitos escritórios, consultórios e outros tipos de negócios estão sem clientes e, com isso, não têm como arcar com o aluguel integralmente".
A bonificação para esses inquilinos está girando em torno de 42% pelo tempo médio de três meses. "Na maioria dos casos, o aluguel não está sendo alterado em contrato. As pessoas estão recebendo esse desconto temporário mas os proprietários vão cobrar a diferença após a pandemia", explica Oliveira, lembrando que, no segmento residencial, os descontos estão na faixa de 27%.
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Esse foi exatamente o abatimento que uma moradora do condomínio Jardim Iaraquã, de Campo Grande, conseguiu. A psicopedagoga, que não quis se identificar, conseguiu uma redução de R$ 700 para R$ 500 no aluguel do apartamento de dois quartos. O administrador do imóvel, Antônio Bottino, foi quem mediou a negociação.
"Ela é autônoma e recebia clientes em casa. Sem os atendimentos, ficou difícil pagar o valor total. A proprietária foi bastante compreensiva e não vai cobrar essa diferença depois", revela Bottino, que administra mais sete imóveis no condomínio. "Apenas dois moradores, que são funcionários públicos, estão com o aluguel em dia".
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Oferta de imóveis também caiu em toda a cidade
Não foi apenas a procura por imóveis que teve uma retração. A oferta também teve queda expressiva desde o começo da quarentena. Dados do Secovi Rio revelam que, em março, havia em toda a cidade 94.112 unidades disponíveis para a venda. Em abril, esse número caiu para 77.467, ou seja, 18% a menos. Já no ano passado, percebeu-se aumento gradual da oferta de janeiro a dezembro. Para locação, e redução na oferta entre março e abril de 2020 foi de 15%, caindo de 14.442 para 12.298 unidades.
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Segundo Leonardo Schneider, a explicação é bem simples: "os proprietários estão cautelosos, esperando o que vai acontecer, e por isso preferiram tirar seus imóveis dos anúncios. Além disso, os prováveis compradores e inquilinos estão evitando fechar negócios agora devido à preocupação com o comprometimento da renda".
Mas o que pode parecer um momento de crise imobiliária, na verdade representa uma excelente oportunidade de fazer negócios. "O desejo de ter um imóvel próprio é cultural e permanece vivo a longo prazo. No futuro, é provável que a procura volte a subir. Mas o momento está propício a boas negociações", pondera Schneider.