Banda Os Devaneios participa de campanha para ajudar outros músicos
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Banda Os Devaneios participa de campanha para ajudar outros músicos DIVULGAÇÃO
Por Danillo Pedrosa
Para quem vive da música, o Dia do Trabalhador sempre foi dia normal de trabalho, com direito a um cachê generoso. Mas se o show não pode continuar, como os músicos vão batalhar pelo pão de cada dia? Sem lives patrocinadas ou conta bancária recheada, milhares de artistas, agora, se viram como podem para buscar outra fonte de renda.
Júnior Moreno (nome artístico), morador de Campo Grande, já não vê a hora de a rotina voltar ao normal. Em quase duas décadas de profissão, ele nunca ficou tanto tempo sem se apresentar.
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"Tem sido a pior fase da minha vida. Financeiramente, eu até consegui uma reserva, que não me deixa passar por extremas necessidades, além de ter também outras profissões que estou investindo para complementar a renda até tudo se normalizar", explica o cantor, que tem uma filha de dois anos e tem feito pintura de automóveis e serviços domésticos para conseguir uma renda extra.
Músicos na quarentena: Junior Moreno - ARQUIVO PESSOAL
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Versátil, Júnior chega a cantar 20 estilos musicais diferentes em uma apresentação, o que garantiu a ele exclusividade em diversos estabelecimentos comerciais da Zona Oeste, em bairros como Campo Grande, Inhoaíba e Recreio. No Dia do Trabalhador, era certo que estaria em cena, ainda que fosse participando de eventos de outros músicos.
O mesmo vale para Laerte Oliveira, de Bangu, que, há 30 anos tocando em eventos ou gravações, não se lembra de ter uma folga no feriado.
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Não me recordo de ter ficado em casa no Dia do Trabalhador, quando sempre trabalhamos", conta o músico, que toca guitarra e violão na banda Os Devaneios e, esporadicamente, com outros músicos. Atualmente, ele depende do auxílio emergencial pago pelo governo federal e tem recebido algumas doações.
"Está praticamente impossível conseguir algo como fonte pra alguma renda. Os clubes fechados, proibição de festas e eventos em geral resultaram num 'fechar de portas' para o músico de forma geral", explica Laerte.
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Laerte Oliveira/Banda Os Devaneios - DIVULGAÇÃO
Não trabalhar no dia 1º de maio também é algo quase inédito para Sérgio Blanco, de Guaratiba, em 40 anos de apresentações pelo Rio de Janeiro. Sem poder trabalhar, ele se vira com o que pode no momento.
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"Sei cortar cabelo, mas não tenho os materiais. Estou dependente dos 600 reais do governo e de ajudas da minha mãe e do meu padrasto. Nos unimos para enfrentar essa pandemia. Pedi carência ao banco para pagar as minhas contas, mesmo com juros. A gente vai tocando o barco", afirma Sérgio, cantor e tecladista.
Sergio Blanco - fotos ARQUIVO PESSOAL
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Afeta o psicológico
Mais do que os problemas financeiros, a falta de trabalhos tem gerado tristezas nos músicos. Acostumados com a alegria dos clientes e o convívio quase diário com companheiros de profissão, fica difícil suportar o isolamento social.
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A falta de trabalho tem ramificações óbvias no aspecto psicológico, pois o músico, além de sofrer com a falta de trabalho e consequente remuneração, sente também a falta do convívio, da troca de ideias musicais, do tocar, tirar um som em conjunto...", explica Laerte.
Sérgio Blanco, de Guaratiba, também sente falta da rotina. "Tem sido um tédio ficar sem trabalhar. Nos feriados, como no Dia do Trabalhador, costumo trabalhar, mas desta vez não trabalhei".
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Entretenimento durante a quarentena
Em meio ao isolamento social, Júnior e Laerte tiveram a ideia de levar um pouco de alegria aos moradores de Campo Grande. Com uma caixa de som, um violão e um microfone, eles cantaram de dentro do carro para alguns espectadores, que permaneceram em seus portões.
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"Nós passávamos com o carro de portas abertas, com as caixas de som viradas para os dois lados da rua, parávamos a cada três casas", conta Júnior.
Como a iniciativa foi divulgada previamente para a vizinhança, teve gente que se preparou até com petiscos e bebidas. Fez tanto sucesso que tem gente querendo repetir."Foi uma ótima experiência, que já está rendendo ideias para alguns outros clientes", disse o cantor.
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Campanha de solidariedade
Diante da dificuldade por que passam os companheiros de profissão, surgiu uma iniciativa para ajudar os músicos enquanto não voltam a se apresentar. A campanha "O show não pode parar" já conseguiu arrecadar cerca de 100 cestas básicas para músicos de toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
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A banda Os Devaneios e três convidados, inclusive, farão uma live hoje, às 19h, com o objetivo de dar visibilidade para a campanha. O evento será transmitido pelas redes sociais da banda e pelo Facebook da produtora Zenit.
"Tenho muita fé que isso vai crescer. Precisamos atender essa galera que vive da música pelos próximos meses", disse Kátia, da banda Os Devaneios.