Luciene Amaral: enfermeira - Reprodução
Luciene Amaral: enfermeiraReprodução
Por Gabriel Sobreira

Angústia, tensão, noites sem dormir, medo de se contaminar e levar a covid-19 para casa e infectar familiares. São algumas das preocupações dos diversos profissionais da saúde que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus, que têm sofrido emocionalmente com a pandemia. Não por acaso, o Ministério da Saúde lança ainda neste mês um canal de teleatendimento para garantir o suporte psicológico.

Enfermeira do Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, Luciene Amaral conta que ela e os colegas têm sofrido com a pandemia. "O que posso dizer é que está muito desgastante, muito cansativo, tanto física quanto emocionalmente", desabafa. "Devido ao desgaste emocional, temos dificuldade para dormir, nos sentimos esgotados, estressados, cansados, irritados. Vejo grande parte dos colegas assim. E todos têm muito medo de levar a contaminação para suas casas, seus familiares", acrescenta Luciene.

A terapeuta ocupacional do Crefito 2, Diana Amar, que trabalha em vários setores em um hospital, em especial no CTI, tem a mesma preocupação. "A minha angustia é pegar o coronavírus e passar para minha mãe, que é do grupo de risco. Vejo colegas que, mesmo sem estarem na linha de frente, ficam tensos: 'será que esse paciente que chegou não está assintomático?', questionam. Qualquer profissional está tenso", revela.

Médico de uma Unidade de Pronto Atendimento na Zona Norte, Gustavo Treistman, vai um pouco mais além. "É muito angustiante quando se chega do plantão, como eu cheguei essa semana, já com a notícia de que não temos vagas disponíveis, de que se chegar um paciente precisando ser internado, não vai ter o que fazer, ou de que se algum paciente internado precisar de um respirador, ele vai a óbito porque você não tem como fazer nada, não tem respirador disponível. Isso deixa a gente sem chão", lamenta ele.

Segundo Treistman, é difícil saber que os colegas são afastados por conta da covid-19. "A gente olha para o lado e vê nossos colegas adoecendo. Toda hora tem alguém que foi afastado ou recebemos a notícia de que alguém faleceu na sua unidade. Você olha pro lado e procura os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e não tem os adequados. Só fica pensando quem vai ser o próximo, quem de nós vai ser o próximo?", questiona.

 

Baixa adesão de médicos em vagas da Prefeitura do Rio
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A Prefeitura do Rio está com dificuldade para preencher as cinco mil vagas para os profissionais da saúde no combate ao novo coronavírus. Até ontem, menos de duas mil foram preenchidas. A maior carência é de médicos. As especialidades mais buscadas são de intensivista, intensivista pediátrico, infectologista e clínico geral
De acordo com Alexandre Telles, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (SinMed/RJ) não faltam razões para explicar esse cenário. "O medo, a sobrecarga são algumas delas", conta Telles. Segundo ele, existe um sucateamento histórico do serviço público e que isso causou um déficit enorme de profissionais devido à falta de planos de cargos, carreiras e salários.
"A prefeitura tem contratado em algumas unidades para os médicos atuarem sem direitos trabalhistas, por PJ (como nas clínicas da família da Zona Oeste), o atraso salarial que a prefeitura recorrentemente comete (inclusive fez esse mês) e, além disso tudo, em março a prefeitura prometeu uma gratificação para os médicos atuarem em covid e não pagou. Isso faz perder a credibilidade”, acredita ele.
Números de profissionais afastados
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Um total de 1.317 profissionais da área da saúde estão afastados do enfrentamento ao novo coronavírus. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde até o dia 22 de abril. Há 1.040 profissionais de licença por estarem com suspeita ou confirmação de covid-19 e outros 277 afastados por terem 60 anos ou mais. Todos eles representam 2,9% de uma força de trabalho formada por 45 mil profissionais. O órgão não soube informar quantos foram afastados por problemas psicológicos.
Na esfera estadual, até o dia 27 do mesmo mês, eram 1.169 profissionais de saúde da rede estadual afastados do trabalho por suspeita ou confirmação de coronavírus nas seguintes unidades. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, este número representa 6% dos profissionais que atuam nas unidades estaduais. Procurado, o Ministério da Saúde não informou o número de afastados até o fechamento da edição.
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