Trabalhos nos barracões da Cidade do Samba estão paralisados devido às indefinições sobre os desfiles do ano que vem - Luciano Belford
Trabalhos nos barracões da Cidade do Samba estão paralisados devido às indefinições sobre os desfiles do ano que vemLuciano Belford
Por Luana Dandara
Rio - Em um cenário de incertezas sobre os desfiles de Carnaval do ano que vem e com uma crise financeira que se acumula, as escolas de samba do Grupo Especial do Rio precisaram tomar uma medida drástica, para não enrolarem suas bandeiras: a maior parte das agremiações cortou os pagamentos dos funcionários até que uma decisão sobre o evento seja tomada. Ontem, a Mangueira anunciou que não consegue mais manter os salários de seus 50 trabalhadores. E ela não é a única. As tradicionais Vila Isabel, Unidos da Tijuca e Imperatriz Leopoldinense só estão remunerando funcionários com carteira assinada e temem pelo futuro.
"É uma situação dolorosa, mas é um gasto de R$ 77 mil por mês com a folha de pagamento. São quatro meses sem nenhuma receita. A quadra está fechada, não tem eventos. Vamos tentar fazer alguma coisa, pedir aos mangueirenses que colaborem para que não tenhamos problema de enrolar bandeira, ter que encerrar uma escola com 92 anos de história", lamentou Elias Riche, presidente da Verde e Rosa. Em uma campanha nas redes sociais, a agremiação já conseguiu doar 14 mil cestas básicas para sua comunidade, incluindo os funcionários.
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Na Vila Isabel, os colaboradores só receberam salários até abril. "Não tem recurso, não tem como fazer milagre. Estamos pagando os sete funcionários que têm carteira assinada. Já temos enredo e protótipos de fantasias e alegorias, mas dependemos de um posicionamento do poder público se terá Carnaval", afirmou o presidente Fernando Fernandes.
De volta ao Grupo Especial, a Imperatriz também enfrenta dificuldades, principalmente com a morte do patrono Luizinho Drummond, no início do mês. "Mesmo se tiver Carnaval e os ingressos forem colocados à venda, não sabemos como será a reação do público. A situação que já estava ruim ficou ainda pior", contou Wagner Araújo, diretor de Carnaval.
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Por sua vez, na Unidos da Tijuca os pagamentos de 18 funcionários tiveram que ser reduzidos. Mesmo assim, a escola não tem conseguido manter em dia seus compromissos. "Estou devendo ao banco, não faturamos nada desde março. É triste porque são artistas, profissionais que vivem disso. Tento pagar algum valor mensal aos colaboradores, mas até quando vou conseguir manter, não sei", pontuou o presidente Fernando Horta.
A Grande Rio é uma das únicas escolas que não reduziu nem atrasou os salários dos funcionários. Na foto, o zelador Jorge Andrade - Luciano Belford
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Liesa define a situação como 'desesperadora'
Na Cidade do Samba, o clima é de marasmo e não há atividades em nenhum dos barracões das 12 escolas e nada foi mexido desde o último desfile. No pátio do local, só o que compõe o cenário são alegorias antigas.
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"A nossa expectativa é a vacina", disse Jorge Andrade, zelador do barracão da Grande Rio há 20 anos. A agremiação de Caxias é uma das únicas que não reduziu nem atrasou os salários dos funcionários. Mas admite dificuldades. "Estamos lidando com uma escassez de recursos, porém a administração tem conseguido, com muito esforço, fazer esses pagamentos", disse o diretor de Carnaval Thiago Monteiro.
O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa), Jorge Castanheira, definiu o panorama como "desesperador". "É uma crise muito séria e as escolas não têm de onde tirar recursos. A Liga também não tem caixa para suprir as necessidades das agremiações, inclusive reduzimos o quadro de funcionários, que já era pequeno. Não sei como vamos fazer do ponto de vista prático", avaliou.
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"Isso é o resultado de quatro anos de dificuldades que estamos atravessando, sem apoio da prefeitura. O Carnaval foi perdendo fôlego e é importante lembrar que essa é uma cadeia produtiva muito grande, que gera inúmeros empregos", completou Castanheira. Em meados de setembro, a Liesa programa uma nova reunião com os presidentes das escolas para debater sobre a possibilidade da realização do Carnaval em 2021. 
Por nota, a Prefeitura do Rio informou que "segue concentrando esforços para salvar vidas e controlar a pandemia na cidade", mas que não é possível nesse momento falar em definição do Carnaval Rio 2021. "Mesmo neste cenário ainda inconclusivo, a Riotur, na figura do presidente em exercício Fabrício Villa Flor, mantém conversas constantes com o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba Jorge Castanheira para alinhar as questões que envolvem o Carnaval carioca", finalizou o município.