Mesmo depois de estar supostamente curada da Covid-19, dona Rosa Neves voltou a ter tosse e febre - ARQUIVO PESSOAL
Mesmo depois de estar supostamente curada da Covid-19, dona Rosa Neves voltou a ter tosse e febreARQUIVO PESSOAL
Por Letícia Moura*

Após receber alta do Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, na Zona Norte, em 1º de julho, depois de sete dias internada e por supostamente estar curada da covid-19, Rosa Neves, de 92 anos, morreu, na última segunda-feira, em decorrência da doença. Não sem antes ter retornado à unidade de saúde, em 12 de julho, com tosse e febre, sintomas que tinha tido antes da primeira internação, segundo a neta dela, a jornalista Gabriella Telles, de 25 anos. No último dia 13, porém, conforme a neta, a idosa foi transferida para o Hospital Municipal São José, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sem que a família fosse devidamente avisada.

De acordo com Gabriella, a avó voltou para casa sem sintomas da enfermidade, mas eles reapareceram cerca de cinco dias depois da alta hospitalar. A neta conta que a idosa fez um teste sorológico em outra clínica e teve resultado negativo, logo após sair da unidade de saúde. "A minha família acredita que ela tenha contraído o vírus no hospital, na primeira internação, porque daria tempo de aparecerem os sintomas da covid-19. Acreditamos que ela tenha tido, anteriormente, uma pneumonia, que também já teve em outros momentos", disse.

"Nós estamos encucados, os meus avôs e a minha madrinha Eliene (filha da dona Rosa), que mora com eles, sempre cumpriram a quarentena. As compras eram deixadas do lado de fora em todas as vezes que foram na casa deles. Além disso, tomávamos todos os cuidados possíveis", esclarece a jovem.

Segundo Gabriella, além de dona Rosa, o marido, dois filhos e o genro também testaram positivo para a doença depois de terem contato com a idosa supostamente curada. A neta contou também que, por causa dos sintomas, a família preferiu levar a idosa novamente para o hospital Evandro Freire no dia 12 de julho. "Na terça-feira (14 de julho) ficamos sem notícias o dia inteiro. Antes, porém, eles passavam um boletim por WhatsApp. Então, a minha madrinha resolveu ir até o hospital e descobriu que ela tinha sido transferida", resumiu.

Gabriella lembrou também que os médicos das duas unidades de saúde, disseram que a idosa testou positivo para coronavírus nas duas ocasiões. No entanto, os parentes não receberam nenhum laudo que comprovasse a infecção. No atestado de óbito, conforme a Secretaria Municipal de Saúde de Caxias, a causa da morte consta como Síndrome Respiratória Aguda Grave por Pneumonia Viral - Covid-19.

SMS: procedimentos realizados
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A médica Roberta França explica que o comportamento da covid-19 ainda é motivo de estudos por especialistas. "Alguns pacientes ficam em estado muito grave, outros pioram posteriormente e também têm aqueles que melhoram e voltam a piorar de novo", explica.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que "a direção do Hospital Municipal Evandro Freire não soube da morte da paciente, internada em Duque de Caxias, mas se solidariza com a família nesse momento de dor. A direção da unidade compreende as dúvidas da família, mas deixa claro que todos os protocolos foram seguidos e não é possível avaliar onde a Dona Rose foi infectada. Cabe lembrar que há mais de três meses foi decretada a transmissão comunitária da covid-19 no Rio - quando é impossível saber a origem do contágio".

Conforme a pasta, dona Rosa deu entrada no Hospital Municipal Evandro Freire no dia 24 de junho, apresentando sintomas compatíveis com covid-19, como comprometimento dos pulmões. Exames realizados, incluindo tomografia, indicavam que ela poderia estar infectada pelo vírus e, diante disso, foi tratada como paciente com suspeita da doença. Ainda segundo a SMS, o tratamento dela seguiu rigorosamente o protocolo do Ministério da Saúde - que determina que todo caso suspeito seja tratado como tal, independente do resultado do exame específico para detectar o vírus.

"A paciente teve alta sete dias depois da internação porque apresentava melhora em seu quadro clínico e já tinha completado 14 dias do início dos sintomas. Durante o tempo em que ficou no Evandro Freire, dona Rosa esteve internada na enfermaria - local destinado aos pacientes com quadros menos graves", acrescenta a nota.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de Caxias, disse que a paciente deu entrada no dia 13 julho, no Hospital Municipal São José, "exclusivo para pacientes com covid-19, através do Serviço Estadual de Regulação - SER. Nesses casos, as informações passadas pelo sistema de regulação são consistentes para covid-19, e assim foi para o caso da paciente em
questão".

"Quando pacientes regulados de covid-19 chegam ao Hospital Municipal São José, passam por avaliação médica e são examinados novamente. Na unidade foi realizada uma tomografia que foi indicativa de diagnóstico compatível com a doença, assim como o exame clínico. A tomografia
evidenciou acometimento pulmonar de 30 a 50%, necessitando de oxigênio".

Ainda segundo a pasta, "a paciente teve piora progressiva clínica e respiratória, sendo necessário intubação orotraqueal e ventilação mecânica, mantendo gravidade crescente de seu quadro clínico desde então, evoluindo a óbito nesta segunda-feira, no dia 20 de julho".
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*Estagiária sob supervisão de Gustavo Ribeiro
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