Uma das vítimas, Joana Bonifácio, foi a segunda pessoa da família a entrar para uma faculdade e morreu no trajeto que fazia para estudar - Arquivo pessoal
Uma das vítimas, Joana Bonifácio, foi a segunda pessoa da família a entrar para uma faculdade e morreu no trajeto que fazia para estudarArquivo pessoal
Por Maria Clara Matturo*
Em todo o território brasileiro, a região do Grande Rio tem o maior número de mortes por atropelamento ferroviário no país. Entre 2008 e 2018, foram registradas 368 vítimas deste tipo de acidente na cidade. Destas, 80% são homens e 32% dos casos aconteceram dentro das estações. Entre os fatores que demonstram a falta de segurança nos trens, estão os grandes espaços entre o trem e a plataforma, os desníveis em algumas estações e a falta de iluminação e sinalização. Os dados foram obtidos por três pesquisadores, com apoio da Casa Fluminense, por meio da Lei de Acesso à informação.

Uma das pesquisadoras responsáveis pelo levantamento é Rafaela Albergaria, de 30 anos, que atua como assistente social. Ela contou a O DIA que a pesquisa foi consequência da morte da prima Joana Bonifácio, que morreu aos 19 anos, na estação de Coelho da Rocha enquanto pegava o trem para ir à faculdade. "Quando ela foi entrar no trem a porta fechou no pé dela. Ela caiu embaixo do trem e foi arrastada por mais de 20 metros", relatou Rafaela. O estudo aponta também o racismo como fator determinante para 68% do total de óbitos. "Quem morre são em sua maioria negros, em territórios de periferia, mortes que são desumanizadas por conta do racismo. Isso jamais aconteceria no metrô na General Osório por exemplo", a pesquisadora explicou.

Em nota, a SuperVia lamentou os ocorridos com as vítimas e reforçou que "a prevenção de acidentes depende, sobretudo, do respeito às normas de segurança por parte de quem transita tanto na via quanto nas estações", e informou que "a atual administração da SuperVia iniciou um estudo técnico para viabilizar obras de isolamento completo do sistema, com investimentos do BNDES. As tratativas foram interrompidas, devido às realidades ocasionadas pela pandemia da Covid-19".

Questionada sobre os problemas evidentes, a SuperVia informou que "o desnível entre os trens e as plataformas pode ocorrer em algumas situações em função dos diferentes modelos de composições utilizados no sistema ferroviário fluminense. Nos últimos anos, várias estações passaram por reformas e o cronograma para novas obras segue de acordo com as prioridades e a disponibilidade financeira da concessionária e do Governo do Estado do Rio de Janeiro", e reforçou ainda que "em relação à iluminação das estações ou seus acessos, quando de responsabilidade da SuperVia, técnicos da concessionária providenciam os reparos no menor tempo possível. Já sobre a segurança no sistema ferroviário, ela é uma atribuição do Governo do Estado, que atua por meio do Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer), conforme o contrato de concessão".
*Estagiária sob supervisão de Bete Nogueira