Ainda segundo o estudo, os pensamentos indesejáveis são reações dos seres humanos a eventos de vida potencialmente estressantes - FreeImages.com
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Por Carolina Freitas
Rio - Um estudo realizado pela equipe do laboratório de Medidas da Psicologia (Labmedi), do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), para saber sobre o impacto do surto de covid-19 na saúde mental da população do Rio de Janeiro, feito em 318 candidatos entre os dias 10 a 30 de maio, mostra que 50% apresentou pensamentos intrusivos (indesejáveis) perante o impacto das mudanças provocadas pelo coronavírus e a quarentena.
A pesquisa, além de buscar compreender este fenômeno, teve como objetivo gerar dados baseados em evidências, para que os profissionais de saúde possam atuar em estratégias capazes de amenizar o sofrimento psíquico causado pela doença.
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Os dados sugerem que as pessoas jovens, que moram sozinhas e com nível de percepção de saúde ruim são mais vulneráveis ao sofrimento psicológico, ficando mais sujeitas à depressão, ansiedade e estresse. Por outro lado, idosos, que não moram sozinhos e com melhor percepção de saúde tendem a níveis mais baixos de afetividade negativa. 
Em entrevista ao DIA, o coordenador do Labmedi, José Augusto Hernandez informou que o impacto da pandemia é muito forte na vida das pessoas porque afeta em muitos aspectos. 
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"O que a gente conseguia ver era a presença nessas pessoas, de pensamentos intrusivos, que são decorrentes de perdas e ameaças que elas sofrem. O que possivelmente passava na cabeça delas e que também passou na minha é: 'será que eu vou contrair a doença?', 'quais as consequências disso?', 'qual a possibilidade do óbito?, etc", afirmou.
"Cabe ressaltar que o pensamento intrusivo destacou-se em relação às outras variáveis. Ou seja, os pensamentos indesejáveis antecedem e têm maior associação ao sofrimento psicológico. Assim, quanto maior o nível de pensamento intrusivo relatado, maior a afetividade negativa. Na pesquisa, eles se destacaram em mais de 50% dos casos", explica José Augusto.
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Perguntado se a pesquisa será feita de novo depois da pandemia, o coordenador respondeu que a equipe poderá reexaminar parte dos candidatos que passaram pelo estudo. "Nós ainda estamos fazendo o acabamento do processo dessa primeira fase, mas se for possível iremos fazer novamente".
Ainda segundo o estudo, os pensamentos indesejáveis são reações dos seres humanos a eventos de vida potencialmente estressantes. Esses pensamentos levam a um foco restrito de atenção que pode prejudicar a capacidade da pessoa de responder ao mundo externo. Os sintomas afetam ainda habilidades funcionais, profissionais, sociais e emocionais.
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"Podemos considerar o surto da covid-19 como um evento de vida impactante, pois as pessoas podem sofrer problemas psicológicos. Os resultados atuais trouxeram evidências de que há sofrimento psicológico entre os participantes da pesquisa e sugerem que intervenções clínicas preventivas sejam implementadas nas políticas públicas de saúde", alerta a pesquisadora Aline da Silva Gonçalves.