No ano passado, o projeto distribuiu mil livros durante a festa de Natal, que teve ainda a presença de um papai noel preto e tatuado - Coletivo Favela Vertical
No ano passado, o projeto distribuiu mil livros durante a festa de Natal, que teve ainda a presença de um papai noel preto e tatuadoColetivo Favela Vertical
Por Maria Clara Matturo*

Entre doações de cestas básicas, ações culturais, pré-vestibular social e campanha de conscientização no combate à covid-19, o coletivo Favela Vertical está escrevendo uma linda história de consciência social no Gardênia Azul. Faltando alguns dias para o projeto completar seu primeiro ano de existência, o fundador, Rafael Oliveira, compartilhou suas realizações, expectativas e sonhos para os próximos anos.

"O Favela nasceu quando eu estava me formando como produtor cultural, através de uma parceria entre o Museu de Arte do Rio e a ESPM. Entre três mil jovens do Rio que se inscreveram para o 'Rio de encontros', eu fui um dos 20 contemplados. A partir dali comecei a buscar mais conhecimento sobre o terceiro setor, conheci gente que está há mais de dez anos nessa luta, fui fazendo contato e as coisas foram acontecendo", explicou Rafael, de 23 anos, que tinha motivações de sobra para querer mudar a realidade da comunidade em que cresceu.

"Eu queria modificar o cenário que tinha dentro da minha favela. O Gardênia nunca teve esse tipo de cuidado socioeducativo, é um bairro que não tinha acesso a esse tipo de resgate cultural, e agora nós estamos fazendo isso aos poucos".

Durante a pandemia, com a falta de auxílio do governo, o coletivo tomou a frente do combate ao coronavírus no bairro. Ao todo, o projeto distribuiu kits com cestas básicas, itens de higiene, água e máscaras para 1.500 famílias. Recentemente, eles lançaram, nas redes sociais, um clipe mostrando a trajetória de uma maçã contaminada comprada na feira local que termina mostrando os impactos da falta de higienização e consciência.

"O vídeo surgiu com a proposta de uma produtora, para fazer um clipe pensando em conscientizar. Não queríamos repetir a narrativa do 'fica em casa', porque isso não aconteceu na nossa favela. Começamos a conversar e resolvemos usar da realidade da feira, e mostrar que a consequência do descuido com a doença causa a morte. Já tivemos mais de 50 mil visualizações nas redes sociais", contou Rafael.

Atualmente, o Coletivo Favela Vertical conta com mais de 70 voluntários. Para ajudar a manutenção do projeto, existem duas formas principais: a primeira é fazendo uma doação pontual pelo site www.app.picpay.com/favelavertical. A segunda, é sendo um colaborador mensal de assinatura, que pode ajudar com valores a partir de R$ 5 pelo site www.app.picpay.com/coletivofavelavertical.

Incentivando a produção cultural
ZONA OESTE - FAVELA VERTICAL Ação de grafite para conscientização do combate à Covid-19
ZONA OESTE - FAVELA VERTICAL Ação de grafite para conscientização do combate à Covid-19Coletivo Favela Vertical
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Quando se trata de projetos que dão orgulho, o idealizador do Favela Vertical tem muita história para contar: "A primeira ação que fizemos foi muito marcante, uma festa de Natal, com um papai noel preto tatuado. Tivemos a oportunidade de entregar mil livros para as crianças, promover oficinas de dança, e isso abriu muitas portas pra gente".
Foi depois dessa festa que o coletivo lançou o primeiro edital de cultura, uma marca importante do projeto dentro da comunidade. "Nosso primeiro edital de chamada cultural foi o Integra Gardênia, uma ação para chamar os moradores a pensar em cultura e pandemia. Assessoramos moradores que criaram projetos incríveis de fotografia, cinema, design, grafite e conseguimos pagar por isso, incentivar essas pessoas. Agora, por exemplo, vamos distribuir 150 kits infantis que mostram como é a atuação do coronavírus, como a gente pode se cuidar. Conseguimos não só oferecer os cuidados, mas pensamos na realidade cultural da favela".
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Aqueles que ainda estão por vir
O fundador do projeto, Rafael, entrega um kit com alimentos para moradora do Gardênia Azul
O fundador do projeto, Rafael, entrega um kit com alimentos para moradora do Gardênia AzulColetivo Favela Vertical
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Apesar de já ter grandes conquistas com o projeto, o fundador, Rafael Oliveira, conta que seu maior sonho com o coletivo é capacitar a juventude: "Vou estar realizado quando conseguirmos instruir os jovens e conseguir inserir eles no mercado de trabalho, através do Favela. Fazer esse trabalho de dar oportunidade direta para esses jovens mudarem a perspectiva de vida, esse é o meu anseio".
Pensando nisso, a estratégia já começou a ser traçada. "Pensamos em metodologias simples, queremos oferecer formação que possam gerar renda para essas pessoas. Além do pré-vestibular nós também já fizemos oficina de podcast, criação de conteúdo digital, administração do tempo da pandemia. Tudo que a gente pensa que é muito vigente na juventude, que pode possibilitar o trabalho de forma alternativa e ter uma renda".
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Mudança de perspectiva
Projeto, que está prestes a completar um ano, conta com a participação de mais de 70 voluntários
Projeto, que está prestes a completar um ano, conta com a participação de mais de 70 voluntários Coletivo Favela Vertical
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Para alguns colaboradores, o Favela Vertical significou uma mudança de realidade. Esse é o caso do coordenador de comunicação do coletivo, Matheus Lacerda, de 21 anos. "Eu tive contato com uma outra realidade, que eu era bastante alheio. o Favela me colocou em contato com muita gente incrível, sem exagero nenhum, e também me colocou mais consciente sobre assuntos sociais que todos nós deveríamos nos preocupar. Agora, sem dúvidas, sou um profissional e também uma pessoal melhor", afirmou.
De todas as realizações que o projeto teve nesse quase um ano de vida, Matheus citou os três que foram mais marcantes para ele. "O primeiro foi a nossa festa de Natal, quando conseguimos distribuir os livros para as crianças e proporcionar uma tarde sensacional para todos que participaram. Não tenho como não citar o pré-vestibular social, porque isso reforça que a nossa iniciativa não é só de ajuda, mas de empoderamento também. Por último, a nossa campanha de apoio à comunidade durante a pandemia foi muito gratificante", lembrou o coordenador.
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O projeto queridinho da galera
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O pré-vestibular social do Favela Vertical é uma das iniciativas mais queridas pelos colaboradores do coletivo. O coordenador, André Ferreira, de 24 anos, contou como foi o processo de criação. "Pensamos no pré para ser presencial, que vai funcionar na nossa sede aqui no Gardênia, e não queremos nos limitar àqueles que moram aqui, mas nos bairros ao redor também. Atualmente estamos dando as aulas online, por conta da pandemia, e vamos terminar assim esse ano. Temos alunos até de outros municípios".
Falando de sonhos, André acredita que já está vivendo isso. "Apesar das dificuldades, acredito que já estamos vivenciando nosso sonho. Na última semana tivemos uma semana das profissões, conversamos com os alunos sobre ingresso na faculdade, sistema de cotas, apresentamos as áreas por meio dos voluntários contando suas experiências e isso já foi uma grande vitória", anima-se o jovem.
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