Com muita sensibilidade, arte e poesia, os graduandos do curso de cinema da Universidade Veiga de Almeida, campus da Barra da Tijuca, Italo Marques e Fenicia Mayrink, aceitaram o desafio de produzir um curta metragem, durante a pandemia, e deram um show de inovação. O filme, "Eu sou eu", mostra a trajetória de um jovem gay enquanto se descobre, se aceita e conversa consigo mesmo.
A ideia inicial para o curta veio de uma poesia, escrita por Fenicia durante a madrugada. "Eu acordei inspirada no meio da noite quando fiz esse texto, e logo na hora eu já pensei em um roteiro. Toda pessoa criativa começa viajando, né? Jogamos as ideias lá em cima e depois fomos caindo na realidade. O resultado foi sutil, uma abordagem bonita, poética e a subjetividade que cada um vive ao assistir", orgulha-se.
Com a chegada da pandemia, os dois estudantes precisaram adaptar a realidade do projeto para algo mais viável no isolamento social. Morador de Curicica, Italo contou como foi o processo: "No primeiro momento estávamos pensando em coisas miraborantes, em mostrar a violência que o público LGTQIA sofre, todo o preconceito, as questões familiares e sociais. Com a pandemia, nos vimos perdidos no primeiro momento, até pensamos em trancar a matéria, mas encaramos como um desafio e reformulamos tudo. Voltamos para a estaca zero e começamos a ver a viabilidade do momento".
No final das contas, os amigos colocaram a mão na massa, dispostos a fazer dar certo. "Depois resolvemos que o filme seria mais sensível do que impactante, trazer uma forma poética, mais lúdica e até positiva de um assunto tão sério. A produção foi difícil, mas funcionou. Estávamos no auge da pandemia, não sabíamos como gravar. Foi aí que veio a brecha dos cuidados que as pessoas estavam tomando, o uso das máscaras, todos os protocolos de higiene. Então, fizemos testes, nenhum de nós estávamos contaminados, e decidimos gravar na casa do ator e mesmo assim trabalhamos apenas em quatro pessoas", garante o jovem.
"Fizemos um grupo no WhatsApp, reuniões remotas, tivemos a sorte de o ator ser profissional na área de caracterização e maquiagem, tem em casa um estúdio, então lá foi a nossa locação. Nosso medo era que o produto não fosse tão representativo, porque o texto por si já falava muito, é um texto que toca, então não queríamos que fosse só esse o impacto. Um filme não é só imagem, nem só texto, nós queríamos todo o conjunto", completou Fenicia.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas na produção do filme, Fenicia carrega a sensação de dever cumprido. "É um trabalho que me emociona, ele diz muito pela atualidade, por momentos que nós passamos. Não foi fácil concluir isso tudo, fizemos uma parte no estúdio do ator e outra em um teatro fechado que conseguimos. Não tinha iluminação, nada, tivemos que dar um jeito. Mas mesmo com todo perrengue, o trabalho ficou maravilhoso, acredito que até melhor do que o nosso projeto inicial. A lição que eu tiro disso tudo é que quando se quer, se faz, independente das circunstâncias. Criar é maior do que qualquer momento desfavorável que possamos ter".
Para ele, a pandemia foi um impulso ainda maior de criatividade. "Acho que o diferencial veio com esse trabalho incrível, nota dez, entender que dentro desse cenário eu posso e consigo criar. O curta deles é muito bem feito, com um tema muito atual, eles passaram uma mensagem muito bem. Eles não abriram mão de fazer algo ficcional mesmo sabendo da dificuldade que eles teriam, se refizeram na disciplina dentro da gravação de um curta, é o valor da dupla de olhar pra dificuldade e transformar isso em um bom resultado".