O mapeamento é uma parceria entre o Grupo Fleury, IBOPE Inteligência, Instituto Semeia e Todos Pela Saúde, e considera fatores socioeconômicos para o resultado  - Erasmo Salomão/MS
O mapeamento é uma parceria entre o Grupo Fleury, IBOPE Inteligência, Instituto Semeia e Todos Pela Saúde, e considera fatores socioeconômicos para o resultado Erasmo Salomão/MS
Por Agência Brasil
Rio - Estudo do projeto MonitoraCovid-19, realizado por pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz), e divulgado nesta quinta-feira, alerta que a divulgação de casos da doença pode apresentar mais de 50 dias de diferença entre o registro no sistema de saúde e a publicação nos boletins epidemiológicos, em alguns estados.
No Amapá, Maranhão, Paraíba, Rio de Janeiro e Rondônia, os dados oficiais registraram o número máximo de casos da covid-19 até sete semanas depois de ele ter acontecido efetivamente. O que significa que medidas importantes de saúde pública podem ter demorado a ser tomadas, prejudicando o combate à epidemia, alerta o estudo.
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O epidemiologista do Icict Diego Xavier explicou à Agência Brasil que foi feita uma análise considerando os dois sistemas de referência do Ministério da Saúde que abrangem a covid-19: o Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (Sivep-Gripe) e o e-SUS VE, criado para atender à elevada demanda de notificações de casos devido à epidemia.
“E a gente identificou essa diferença no tempo. Em alguns estados, a gente tem essa variação grande em número de dias entre a data que ocorreram a máxima de casos e os óbitos. Em última análise, é isso”.
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Diego Xavier ressaltou que o sistema de saúde também foi bastante afetado pela pandemia do novo coronavírus (covid-19), principalmente nos estados onde a covid chegou primeiro.
“As maiores diferenças a gente observa exatamente nesses estados”, apontou. É o caso, por exemplo, do Rio de Janeiro, Amazonas e Pará. Outros estados em que foi identificada diferença grande entre as datas real e oficial em relação ao número máximo de casos foram Paraná (30 dias), Rio Grande do Norte e Espírito Santo (27 dias cada), Goiás (25 dias), Distrito Federal (26 dias), Rio Grande do Sul (22 dias), Roraima (21 dias), Santa Catarina (20 dias) e Amazonas (19 dias).
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O epidemiologista explicou que a doença leva um tempo para se confirmar por exame laboratorial e que, no início da pandemia, havia pouca capacidade de testagem, o que, segundo ele, também influenciou, além do volume muito grande de notificações.
Diego Xavier disse que os sistemas de atendimento de pacientes não estavam preparados, o mesmo ocorrendo com os sistemas de notificação. “Isso acabou resultando nesse problema, nessa defasagem”.
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Sintomas
Os dados, contudo, continuam entrando no sistema e boa parte deles está sendo informada nos boletins estaduais. Quando os pesquisadores compararam os dois sistemas de dados de saúde, consideraram todos os casos de covid, desde a data informada pela pessoa como sendo o início dos sintomas quando chegava a uma unidade de saúde, até a confirmação da doença.
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“Nos casos que foram confirmados, a gente está comparando a data do início dos sintomas com os dados que saem no boletim”, informou.
O infectologista disse que quando a capacidade e a velocidade de testagem aumentaram, essa defasagem começou a diminuir. “Os dados aparecem. O grande problema é que, quando os dados apontavam que estávamos em uma situação um pouco mais confortável em alguns estados, a gente estava exatamente passando pelo pior período epidêmico. A gente estava com uma alta de casos e óbitos, mas a informação que estava chegando é que a doença ainda estava subindo. Na verdade, a gente já estava na alta”.
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Diego Xavier estimou que essa diferença de informações pode ter prejudicado algumas políticas de flexibilização de atividades, naquele momento, em algumas localidades.
Já os estados da Região Sul do país, onde a doença chegou mais tarde, tiveram tempo para se estruturar, diz o estudo. “Ali, nota-se que a defasagem de informações é muito menor.”
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Recomendações
Os pesquisadores do Icict/Fiocruz recomendam aos estados que é necessário que os gestores acompanhem mais de perto a data em que ocorreu o evento, a partir dos primeiros sintomas em diante, bem como a data do óbito, para que possam tomar medidas mais adequadas.
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“Além disso, a gente precisa também investir mais e evidenciar a importância que têm os nossos sistemas de vigilância epidemiológica, desde a captura do dado lá na ponta do serviço. A gente precisa melhorar a cultura de coleta de dados. A ficha precisa ser muito bem preenchida pelo profissional de saúde que está lá na ponta, porque essas informações servem para fazer políticas de saúde depois. Mas desde a coleta do dado até a estruturação tecnológica do sistema, a gente precisa de sistemas que respondam mais rápido”, recomenda Diego Xavier.
O epidemiologista alertou, no entanto, que não é viável que os estados mudem a forma de divulgação dos boletins, porque a população já se acostumou a ela. “Mudar a forma como se divulga só vai trazer mais confusão”. Segundo ele, trata-se mais de uma questão interna e técnica das secretarias de Saúde. A recomendação da Fiocruz é que as divergências apontadas no estudo devem ser levadas em conta pelos gestores públicos.
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O epidemiologista destacou que o sistema criado por ocasião da pandemia da gripe H1N1 (Sivep-Gripe) apresenta uma qualidade dos dados muito melhor e com defasagem menor, além de oferecer outras oportunidades de análise usando as informações.
“A gente precisa criar sistemas nessa perspectiva, robustos, mais dinâmicos, para a gente saber o que está acontecendo no momento em que a doença está atingindo a população, porque tem vários aspectos que fizeram a doença acontecer”.
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Diego Xavier alertou que, se os pesquisadores forem trabalhar apenas com informação que sai nos boletins e que se vê na televisão, “primeiro a gente está defasado no tempo e, provavelmente, tomando decisões não adequadas, como no caso da flexibilização do isolamento social”.
Diego Xavier disse que é preciso ter cuidado quando se analisa os dados de um estado porque, na realidade, eles se referem a uma média de municípios. Na realidade, segundo Diego Xavier, cada cidade está em um tempo epidêmico diferente.
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Por isso, acrescenta, a recomendação da Fiocruz continua a mesma, a de continuar mantendo o isolamento social, usar máscara, sair de casa somente quando for necessário, aliadas a medidas mais complexas, como a volta às aulas, que precisam de planos mais estruturados porque, senão, os casos vão voltar a subir.
Desafio
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Os pesquisadores da Fiocruz consideram que os dados sobre a covid-19 no Brasil, tanto em nível estadual como municipal, são fundamentais para a tomada de decisões sobre as políticas públicas e medidas de emergência para conter a epidemia.
Mas salientam que esses dados dependem de sistemas e painéis que têm cobertura e qualidade bastante variáveis no país. Consideram que esse é um dos desafios para o combate à pandemia do novo coronavírus.