No início de 2018, X. denunciou à Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Duque de Caxias que o cunhado — um pastor "idolatrado e amado por todos" — estuprava suas duas filhas e suas cinco sobrinhas. Na época, segundo ela, cinco vítimas, inclusive suas duas meninas, prestaram depoimento na especializada. Entretanto, ainda conforme X., há nove vítimas do suspeito.
Conforme a Deam de Duque de Caxias, o autor já foi identificado. "Testemunhas foram ouvidas e as investigações estão em andamento. A delegacia aguarda ainda o relatório psicológico da vítima e outras diligências que estão sendo realizadas", informou, em nota, a Polícia Civil.
De acordo com X., sua filha mais velha foi abusada dos quatro aos onze anos. A mais nova, porém, não disse quando a violência teve início. Hoje, elas têm 13 e 10 anos, respectivamente. "A minha mais nova não conta a idade, só fala em detalhes o que passou", explicou.
A mãe disse que descobriu os abusos em dezembro de 2017. Ela começou a desconfiar do pastor, por causa da mudança no comportamento das filhas. Na época, o homem também passou a frequentar a casa delas quando as crianças estavam sozinhas.
"O pastor ligava e eu dizia que tinha ido pagar uma conta, por exemplo. Então ele falava que ia passar na minha casa mais tarde. Quando eu chegava, ele já estava lá. Quando ligava e eu dizia que estava em casa, não aparecia", esclareceu.
"Eu comecei a desconfiar disso, achava muito estranho. As minhas filhas começaram a ter um comportamento pior do que elas já tinham. Uma começou a ficar em depressão, tinha medo de pegar um copo de água na cozinha sozinha, tinha medo de dormir sozinha. A mais nova acordava chorando e gritando de madrugada. Mas achei que fosse por causa da morte do pai, em 2016", desabafou.
Antes disso, X. contou que o pastor buscava suas filhas quase todos os dias para lanchar na casa dele. "Mas eu achava que era carinho". "Eu sempre perguntei se alguém mexia com elas, não o tio, em si, perguntava por ser medo de mãe, mas as duas diziam que não. Toda vez que eu falava isso a minha filha mais velha estalava os dedos. Eu pensava que essa reação era devido à pergunta, que ela tinha ficado constrangida, porque criança não gosta. Eu não tinha noção e nunca tinha passado por isso", explicou, acrescentando que há 11 anos um familiar flagrou o pastor aliciando uma sobrinha, hoje com 22 anos.
O que diz o Direito
O advogado criminalista e professor de Direito Penal Carlos Maggiolo esclareceu que mesmo com o depoimento das vítimas “infelizmente não é o suficiente para se prender um suspeito". "Nesse país, um cidadão só pode ser preso em duas situações – e isso vale para todos os crimes: flagrante delito ou mandado judicial", explicou.
"Se o cidadão não é preso em flagrante, somente poderá ser encarcerado a partir de determinação do juiz. O pastor não foi pego no cometimento do delito, então, a autoridade policial deverá requerer que o juiz determine a prisão desse elemento, apresentando as provas e as razões que levaram o delegado a requerer a prisão. Aí sim, munido do competente mando de prisão, o delegado poderá prender esse sociopata”, disse o especialista.
A mãe ainda lembrou que o pastor ameaçava suas filhas durante os abusos. "Ele dizia pra elas que se contassem ou falassem pra qualquer um, ele iria me matar, iria estuprá-las com vários homens juntos e espancá-las até a morte", contou, acrescentando que o filho dele também chegou a participar da violência.