Neguinho da Beija-Flor em delegacia - Luciano Belford/Agência O Dia
Neguinho da Beija-Flor em delegaciaLuciano Belford/Agência O Dia
Por Beatriz Perez
Rio - Neguinho da Beija-Flor enfrenta o luto da morte do neto Gabriel Marcondes, 20 anos, apoiando o filho, Paulo Cesar Marcondes, o pai da vítima, que depõe na manhã desta quarta-feira na 58ª DP (Posse), em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.


O cantor e intérprete conta do sentimento de tristeza em meio à falta de esperança de elucidação do caso diante do racismo. "Eu estou mal. Até agora a ficha não caiu. O garoto foi criado comigo. Não estou com tanta esperança do caso ser resolvido. Vão dizer que estava na hora errada no lugar errado", critica.

Gabriel Ribeiro Marcondes foi morto durante uma ação policial em um baile funk no bairro Ambaí, em Nova Iguaçu, na madrugada do último domingo. Ele e o pai trabalham com armação de tendas em eventos. O jovem havia montado uma tenda na noite da festa.

Neguinho critica o racismo institucional que opera nas ações policiais. Ele conta que há anos pensa em deixar o país.

"Queriam que ele tivesse onde, no barra shopping, em Ipanema? Lá ele também seria suspeito. O que esse criolo da Baixada está fazendo no shopping?, diriam. Qual o lazer de um garoto criado na Baixada, pobre. Nem todo mundo é obrigado a estar na igreja", critica.
Publicidade
A polícia apura as circunstâncias da ação que resultou na morte de Gabriel. Familiares e testemunhas estão sendo chamados para depor.

"Há muito tempo estou pensando em sair do Brasil, como muitos artistas negros estão saindo. Estou com uma filha de 12 anos que é negra. Negro no Brasil já nasce suspeito. Como vou criar minha filha negra no brasil?", desabafa Neguinho da Beija-Flor.

Gabriel foi enterrado sob forte comoção na tarde desta segunda-feira no Cemitério de Nova Iguaçu. Dezenas de pessoas, incluindo fãs do sambista, que estava muito emocionado, estiveram no local para desejar força a ele e a outros familiares. Uma pessoa carregava placa de papelão escrito "força Neguinho". Ainda não há informações de onde teriam partido os disparos que atingiram a vítima.

No dia do crime, a PM informou que equipes do 20º BPM (Mesquita) estavam em patrulhamento na localidade quando receberam denúncia sobre um baile funk não autorizado que estaria começando a bloquear via pública.

"Durante deslocamento, os policiais tentaram abordar ocupantes de uma moto na Avenida Henrique Duque Estrada Meyer. Eles fugiram em direção ao evento citado. No local indicado, as equipes foram recebidas por disparos de arma de fogo e ocorreu reação. Após cessar a situação, quatro indivíduos foram encontrados feridos", disse a PM, em nota.

Os quatro homens atingidos, entre eles Gabriel, deram entrada no Hospital Geral de Nova Iguaçu. Três deles chegaram mortos à unidade e foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) para reconhecimento. O segundo homem baleado foi identificado como Matheus da Silva Gomes. Não há ainda informações sobre a terceira vítima atingida. Já Rogério Bezerra, 20, passou por uma cirurgia na barriga e está sob custódia.